Pequim, 07 jan (Lusa) - A
primeira geração de tradutores e intérpretes portugueses de língua chinesa está
a aproximar Portugal e China no futebol, literatura ou arte, à medida que as
relações entre os dois países entram numa "era dourada".
Tiago Nabais ingressou na
licenciatura de Tradução e Interpretação Português/Chinês - Chinês/Português do
Instituto Politécnico de Leiria (IPL) em 2007, depois de uma carreira musical
"falhada" e "uns biscates aqui e ali". Tinha 29 anos.
Volvida uma década, concretizou
um feito raro em Portugal: traduziu diretamente a partir do chinês uma obra
literária - "Crónica de um vendedor de sangue", editado pela Relógio
d'Água e escrito por um dos mais aclamados escritores chineses da atualidade,
Yu Hua.
Também formado pelo IPL, Luís
Lino agarrou aos 25 anos uma oportunidade "caída do céu" e rumou à
China para servir de intérprete do técnico português André Villas-Boas, que na
época passada orientou os chineses do Shanghai SIPG.
"Nem queria acreditar",
contou Lino à agência Lusa sobre o convite para integrar o 'staff' de
Villas-Boas.
No final de um treino em que
esteve sempre ao lado do antigo treinador do FC Porto, o jovem revela que ainda
pensou em tirar o curso de jornalismo após terminar o secundário, mas acabou
por optar pelo estudo de uma língua "muito rentável".
O mandarim é a língua mais falada
do mundo e o único idioma oficial da República Popular da China, país com 1.375
milhões de habitantes - cerca de 18% da população mundial - e a segunda maior
economia do planeta.
Em colaboração com o Instituto
Politécnico de Macau, o IPL abriu em 2006 a licenciatura de Tradução e
Interpretação.
O Instituto Confúcio, organismo
patrocinado por Pequim para assegurar o ensino de chinês, garante ainda cursos
livres de mandarim em quatro universidades portuguesas - Aveiro, Coimbra,
Lisboa e Minho.
E, desde 2016, o ensino do chinês
foi também introduzido em algumas escolas portuguesas ao nível do secundário e
do terceiro ciclo, como alternativa de língua estrangeira.
A primeira instituição de ensino
superior em Portugal a oferecer uma licenciatura dedicada à língua chinesa, no
entanto, foi a Universidade do Minho, com o curso em Estudos Orientais -
Estudos Chineses e Japoneses, aberto em 2004.
Na altura, a China não era ainda
"moda" em Portugal e os "estereótipos" sobre o país entre
os portugueses eram "bastante acentuados", lembra Samuel Gomes, que
ingressou naquela licenciatura em 2009.
"Existia ainda uma espécie
de complexo em aprender mandarim", afirma o jovem portuense, que em 2016
foi distinguido com o prémio "Melhor Performance Artística" no
Chinese Bridge, o maior concurso do mundo para alunos de língua chinesa.
O país asiático tornou-se,
entretanto, um dos principais investidores em Portugal, comprando participações
em grandes empresas das áreas da energia, seguros, saúde e banca, enquanto
centenas de particulares chineses compraram casa em Portugal à boleia dos
vistos 'gold'.
Jorge Torres-Pereira, que
terminou em dezembro passado uma missão de mais de quatro anos à frente da
Embaixada portuguesa em Pequim, considera mesmo que as relações entre os dois
países atravessam uma "era dourada".
As visitas bilaterais de alto
nível registaram, nos últimos anos, uma frequência inédita, enquanto o número
de turistas chineses que visitaram Portugal quase duplicou, para 183 mil, entre
2013 e 2016.
Samuel Gomes não tem dúvidas:
"Hoje, todos os portugueses falam da China".
JOYP // PJA
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