O ex-Presidente e atual ministro
timorense José Ramos-Horta considerou a grande coligação das forças de oposição
timorenses um "absurdo político" onde se evidenciam grandes
diferenças programáticas e "insatisfação" sobre as listas de
candidaturas às eleições antecipadas de maio.
"Não vejo solidez nenhuma na
coligação. Pode haver uma grande vontade individual, a nível do Xanana [Gusmão]
e do Taur Matan Ruak. Mas é pontual e será até quando?", questionou José
Ramos-Horta, ministro de Estado no atual Governo liderado pela Frente Revolucionária
do Timor-Leste Independente (Fretilin) e pelo Partido Democrático (PD), em
declarações à agência Lusa.
"Dadas as enormes diferenças
que prevalecem dentro dessa coligação, quanto tempo durará? Uma coligação a
três ou até a 13 é um absurdo político completo, sem pensarem nas implicações
ou consequências", disse Ramos-Horta que faz parte do atual Governo, como
independente.
As três forças da oposição - o
Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), liderado por Xanana
Gusmão, o Partido Libertação Popular (PLP), liderado por Taur Matan Ruak e o
Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO) - formaram um bloco
maioritário no atual parlamento nacional, já depois da tomada de posse do atual
Governo.
A Aliança de Maioria Parlamentar
(AMP) transformou-se recentemente na Aliança para Mudança e Progresso (AMP),
nome com o qual os três partidos se querem apresentar, unidos, às eleições
previstas para 12 de maio. À AMP podem ainda juntar-se outras forças políticas
mais pequenas.
"Há diferenças profundas de
programa entre eles. Por isso há grande descontentamento no seio do PLP, em
muita gente, que incluindo na juventude, fugiu do CNRT para votar no PLP como
voto de protesto em relação ao CNRT. O mais provável é que voltem para o PD ou
para a Fretilin", disse Ramos-Horta.
A pensar nas eleições
antecipadas, Ramos-Horta antevê que a Fretilin veja o seu apoio reforçado
porque "agora tem muito mais vantagem do que qualquer outro partido".
"Vejo dois possíveis
vencedores, que serão a Fretilin e o PD. Na minha observação, e mantenho uma
posição neutra nisto, vejo grande onda de simpatia e de respeito por Mari
Alkatiri [o primeiro-ministro], pela coragem com que ele aguentou estes meses
de grande vendaval e impacto", considerou.
Nas eleições de 2017 o PLP fez
uma campanha marcada por fortes críticas ao CNRT e às suas políticas, com
tensão política entre Taur Matan Ruak e Xanana Gusmão, cujas diferenças parecem
agora ter sido resolvidas, com um vídeo de ‘reconciliação' entre ambos a
circular nas redes sociais.
Todo o processo de formação da
AMP tem decorrido sem a presença em Timor-Leste de Xanana Gusmão, que está
desde 11 de setembro fora do país a liderar a equipa timorense que negociou um
novo tratado sobre fronteiras marítimas que deve ser assinado em março.
CNRT e PLP têm garantido aos
jornalistas que as diferenças programáticas serão resolvidas e que a questão
das listas também, mostrando uma frente unida em que os líderes históricos
Xanana e Matan Ruak, e o fundador do KHUNTO, José Naimori, aparecem juntos no
novo logo da coligação.
Ramos-Horta garante, no entanto,
que "há já uma grande insatisfação nas fileiras do PLP e do CNRT sobre a
possível lista das candidaturas" já que "não se sabe se alguns dos 22
eleitos pelo CNRT cedem lugar aos oito do PLP ou se estes estarão na lista
depois dos do CNRT".
Estas incertezas, disse, foram em
parte o que levou o Presidente da República a optar por eleições antecipadas em
vez de convidar a oposição a formar uma alternativa de Governo.
"O PR tem essa
responsabilidade: se vai convidar alternativa têm que dar garantias de que
podem sobreviver com boa governabilidade durante cinco anos e obviamente que
não podiam dar", afirmou.
A tensão política que se vive em
Timor-Leste há vários meses tem feito também reacender debates antigos na
sociedade timorense, com as redes sociais marcadas por referências a diferenças
entre a frente armada e a frente diplomática da luta contra a ocupação
indonésia.
Alguns militantes ligados aos
partidos da oposição e até alguns artigos na imprensa nacional têm vindo a
sugerir que as eleições antecipadas previstas para maio colocarão frente a
frente, de um lado homens da frente armada como Xanana Gusmão e Taur Matan Ruak
- líderes dos maiores partidos da oposição, CNRT e PLP - e do outro líderes da
frente diplomática, como Mari Alkatiri e José Ramos-Horta, juntos no Governo.
"É perigoso. É desonesto.
Significa que estão a negar muito veteranos na Fretilin, que esteve sempre na
montanha. Negam a contribuição da Renetil [braço juvenil da resistência] no PD,
a colaboração dos que foram vítimas de tortura. Só pode ser feito por gente
oportunista e irresponsável", afirmou.
José Ramos-Horta sublinhou que
estas posturas são de uma "minoria" e que os líderes históricos, como
Xanana Gusmão, Taur Matan Ruak ou Lere Anan Timur, "nunca endossariam esse
tipo de manipulações".
Lusa | em SAPO TL
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