segunda-feira, 30 de abril de 2018

Oposição pede voto no enclave de Oecusse com criticas à Fretilin


Os líderes da oposição timorense pediram ontem o apoio nas legislativas de maio aos habitantes do enclave de Oecusse para poderem "devolver a Díli" o líder da Fretilin (no Governo), que tem gerido a região nos últimos anos.

Num comício em Pante Macassar, capital de Oecusse, onde participaram milhares de pessoas, os líderes da Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) - Xanana Gusmão, Taur Matan Ruak e José Naimori - deixaram duras críticas à Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin).

O comício foi uma mostra de força da AMP em Oecusse onde, em 2017, os três partidos que a formam tiveram, em conjunto, praticamente o mesmo número de votos que a Fretilin sozinha: a diferença foi de menos de 50 votos.

Como acontece nos comícios principais nas capitais regionais, os três líderes da AMP - Xanana Gusmão (CNRT), Taur Matan Ruak (PLP) e José Naimori (KHUNTO) - estiveram juntos no palco, com discursos que repetiram criticas à Fretilin, especialmente viradas para a região.

Um por um, líderes regionais e nacionais da AMP alegaram que a Fretilin só dá trabalho e projetos a "quem tenha o cartão do partido" na região, obrigando ou pagando a habitantes para colocarem bandeiras do partido nas suas casas ou propriedades.

Natalino dos Santos, comissário político, foi um dos primeiros, deixando duras criticas contra o que diz ser a "corrupção" que alegou haver na região, com um desenvolvimento "que não chega a todos os Atoni", uma referência aos habitantes regionais.

"Timor-Leste precisa de um Governo forte e um Governo forte precisa de líderes fortes. A AMP tem os líderes mais fortes", disse o ex-Presidente da República, Taur Matan Ruak.

"Vamos lutar para mudar Oecusse. O avô ‘Nana' [Xanana Gusmão] nomeou e eu dei posse, mas me arrependi de ter mandado Mari Alkatiri como capataz de Xanana Gusmão em Oecusse", disse, referindo-se ao atual chefe do Governo e responsável da região administrativa especial de Oecusse.

José Naimori repetiu as críticas, afirmando que a AMP promete que "se o resultado for a vitoria a 12 de maio vamos mandar para Díli o tio Alkatiri e o tio Bano", (atual presidente interino da região).

E depois Xanana Gusmão insistiu na critica, considerando um ataque à democracia tentar obrigar a ter cartão do partido ou a pôr bandeiras nas casas.

"Isso não é democracia. Não se respeita a dignidade das pessoas. Temos que ter dignidade perante o povo e perante o mundo. Não é com dinheiro. Quando se começa a comprar, a dar dinheiro, a democracia não funciona", disse.

Antes, o líder da AMP assinou vários "certificados de honra" a reconhecer a participação de José Naimori e quatro naturais de Oecusse pela sua participação na organização da resistência Fitun.

Considerada uma das três organizações juvenis mais importantes da resistência, a par da OJETIL e da RENETIL, a Frente Iha Timor Unidos Nafatin (FITUN) - Frente Sempre Unida por Timor - nasceu primeiro com o nome Safari e foi criada por um grupo de 49 jovens da escola secundária.

O primeiro encontro dos jovens com Xanana foi em 1986 nas montanhas de Timor e a sua primeira ação foi feita em 1989 durante a visita do papa João Paulo II. A Fitun foi formalmente proibida pelos indonésios em 1992 e no processo de preparação do referendo de 1999 foi englobada no Presidium da Juventude dos Loricos Guerreiros.

O comício repetiu o guião de outros, com o hino do partido e depois um ato de “refiliação” em que supostos militantes da Fretilin, alguns com camisolas de “fiscais” das eleições legislativa de 2017, subiam ao palco para as trocar, com ajudas dos líderes por camisolas da AMP.

Mas que aqui teve algumas particularidades regionais: primeiro porque a língua oficial tétum é a mais usada em Timor-Leste mas continua a não ser entendida por todos - em Oecusse a dominante é o baiqueno - mas até pela diferença de idades.

Palavras de ordem eram percebidas pela maioria mas muitos não entendiam as mensagens mais amplas em tétum, com outros a gritarem palavras de ordem em baiqueno -, a língua predominante entre o povo Atoni, de Oecusse (a maioria da população) - que os líderes, no palco, também não entendiam.

A brincar, Xanana Gusmão chamou ao palco dois habitantes da zona a quem disse que não tinha andado na escola e a quem pediu para ler o “mote” da AMP - Hamutuk Hametik Nasaun. Só que nenhum tinha mesmo ido à escola ou sabia ler tétum.

Tiveram que vir dois jovens fazer a leitura.

Lusa | em SAPO TL

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