terça-feira, 20 de novembro de 2018

ONG timorense diz que polícia tem "problema sistémico" uso ilegal de armas


Díli, 19 nov (Lusa) - Uma organização timorense considerou hoje que a polícia nacional tem que agir para responder a um "problema sistémico de agressão física desnecessária e do uso ilegal de armas de fogo", especialmente por agentes fora de serviço.

Para a Fundasaun Mahein casos como os de domingo - em que agentes policiais armados fora de serviço mataram três jovens a tiro numa festa em Díli - mostram que é essencial levar a cabo uma reforma profunda na Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL).

"O incidente de Kuluhun realça a necessidade de uma revisão da PNTL. Não é suficiente simplesmente argumentar que esses problemas são o resultado de algumas maçãs podres na força policial", disse.

"A PNTL exige uma reforma estrutural no que diz respeito à formação, disciplina, regras e filosofia, de modo a alinhar a instituição com a abordagem de policiamento comunitário de Timor-Leste. A estratégia e a filosofia do policiamento comunitário não são apenas um slogan: devem ser ativamente implementadas pela PNTL a nível institucional", refere a nota.

Quatro polícias foram detidos na sequência do incidente.

"Este incidente confirmou as preocupações do público sobre o uso irresponsável de armas de fogo por membros da PNTL. É o mais recente de uma série de casos de policias que usam força desnecessária ou ilegal ou que disparam as suas armas quando estão de folga, geralmente causando feridos ou mortos", refere a organização que, entre outros temas, acompanha em detalhe a questão das forças de segurança em Timor-Leste.

Entre outros casos, a FM refere recentes confrontos entre membros do Batalhão de Ordem Pública (BOP) da PNTL e efetivos das Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), em Maliana, o assassinato de um jovem em Bebonuk (Díli) e de outro também na capital, alegadamente por um membro da PNTL.

"A PNTL também foi acusada de usar armas de fogo que causaram ferimentos ou morte em Ainaro em 2017, Covalima em 2016, Hera em 2012, Delta Nova em 2009 e Viqueque em 2007", referia nota.

A organização considera que a PNTL tem um "problema sistémico de agressão física desnecessária e do uso ilegal de armas de fogo" e a organização e o país "devem aprender com esses fracassos".

A organização considera que incidentes deste tipo têm consequências para a PNTL e para o Estado, contribuindo para afetar a imagem nacional e internacional sobre a situação de segurança do país.

"É absolutamente vital que as armas de fogo utilizadas pelos membros da PNTL sejam controladas rigorosamente e de acordo com os procedimentos, regras e regulamentos existentes", sustenta.

"O incidente de Kuluhun alerta para o facto de membros da PNTL levarem frequentemente as suas armas enquanto estão de folga, e que a PNTL é incapaz ou não está disposta a aplicar regras rigorosas que controlam o acesso a armas do arsenal da PNTL", refere ainda.

A organização defende ainda a realização de "testes psicológicos periódicos" a membros atuais e futuros recrutas da PNTL e considera que, independentemente das sanções disciplinares e criminais a aplicar aos agentes, "a PNTL, enquanto instituição, deve assumir a responsabilidade".

A organização defende ainda o recurso a uma instituição independente como a Provedoria dos Direitos Humanos e Justiça (PDHJ) para investigar o incidente de domingo e a realização de uma auditoria, sob supervisão da PDHJ e do Parlamento Nacional das armas da PNTL.

ASP // PJA

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