Díli,
10 jun (Lusa) - Composto em 1975 por Afonso de Araújo e com letra de Francisco
Borja da Costa, o hino timorense foi usado pela primeira vez a 28 de novembro
desse ano quando a Fretilin declarou unilateralmente a independência de
Timor-Leste.
Borja
da Costa acabou por ser morto dias depois, a 07 de dezembro, quando se
concretizou a invasão indonésia do país mas o seu legado ficaria vincado na
simbologia nacional.
O
hino acabou por ser formalmente declarado hino nacional numa votação histórica
a 18 de março de 2002, quando a votação do artigo 165A da Constituição da
República Democrática de Timor-Leste se transformou num 'debate musical', cheio
de contornos mais lúdicos.
Como
de música se tratava, membros da Fretilin (Frente Revolucionária de Timor-Leste
Independente) arranjaram um pequeno 'walkman', com os respetivos auriculares,
colocando um dos mini auscultadores junto ao microfone normalmente usado para
os debates.
O
som do hino lá chegou às colunas da sala, suscitando imediato coro de grande
parte da bancada da Fretilin e até de membros de outros partidos, conhecedores
da letra.
A
cantoria acabou por suscitar ainda mais debate, com alguns deputados a
sugerirem que faltavam "características marciais" à melodia, outros a
sugerir alterações à letra e outros até a solicitarem uma nova interpretação.
Foi
o caso de Clementino Amaral (KOTA) que afirmou que "apenas aquelas quatro
senhoras", apontando para quatro deputadas da Fretilin, tinham sabido dar
ao tema "o tom marcial" que era devido.
"Eu
pedia para elas cantarem outra vez", disse, perante risos dos restantes
deputados e da pouca gente que acompanhava o debate.
Descontraídos,
deputados e presidente da Assembleia, esqueceram por momentos o protocolo, com
Feliciano Fátima (ASDT) a oferecer-se "para acompanhar" nova
tentativa.
O
próprio presidente, Lu-olo acabou por se juntar à descontração momentânea,
perguntando a Jacob Xavier (PPT) se mais um pedido de intervenção "também é
para cantar".
Já
estava o debate mais ao mesmo encaminhado - depois de referências a Beethoven,
à "música clássica europeia" e até à necessidade de reformular o
texto, quando Aliança Araújo (PNT) lança mais uma proposta na mesa.
Como
alternativa ao "Pátria Pátria" sugere o atual hino da FRETILIN
"Foho Ramelau", de Abílio Araújo e Borja da Costa.
"Eu
fiz aqui esta proposta e sei que não vai passar, mas como já me doeu a mão para
a escrever vou apresentá-la na mesma", disse, perante risos de alguns dos
presentes.
E
como a proposta também era "multimédia", Aliança Araújo saca de uma
cassete, e vá de tocar uma das versões mais clássicas do hino do maior partido
timorense.
Não
fugindo à tradição que tinham acabado de criar, os deputados voltaram a
juntar-se em coro, numa interpretação que no fim teve direito a sessão de
palmas e tudo. Ainda que depois a ideia do "Foho Ramelau" fosse
recusada, porque a FRETILIN teria que desistir do seu hino partidário.
Quanto
ao assunto mais importante e depois do interessante processo de debate, os
membros da Assembleia Constituinte decidiram primeiro aprovar, retirando a
palavra "provisório" do artigo intitulado "Hino Nacional".
Logo
a seguir, com 67 votos a favor, três contra e oito abstenções - numa sessão a
que faltaram 10 deputados - foi aprovado o artigo que define como hino nacional
"a melodia 'Pátria-Pátria, Timor-Leste a nossa nação'".
Cinco
anos depois o parlamento aprovou a lei 2/2007, dos símbolos nacionais,
clarificando que "o hino nacional, designado por Pátria, é composto por
música de Afonso Redentor de Araújo e letra de Francisco Borja da Costa".
"A
pauta musical do hino nacional, obedece à instrumentação original e recuperação
de Paulo Pereira dos Santos e de Abílio de Araujo", nota ainda.
Mais
adiante o texto nota que "ninguém pode ser admitido como funcionário
público ou integrado, sob qualquer regime laboral, em serviço público sem que
demonstre conhecimento da letra integral do hino nacional".
ASP
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