Nova
Iorque, 15 jun (Lusa) - A cônsul de Portugal em Nova Iorque , Manuela
Bairos, considera que a extensão da possibilidade de aquisição da nacionalidade
portuguesa aos netos de portugueses nascidos no estrangeiro é uma "medida
justa e compensatória".
"É
uma medida justa e compensatória do muito sofrimento que a emigração causa a
quem deixa o país numa ansiedade ampliada pelo desconhecido e muitas vezes pelo
preconceito. Nunca será demais tudo o que pudermos fazer para compensar dessa
enorme perda as pessoas que vimos partir", explicou a diplomata à agência
Lusa.
A
29 de maio, a maioria PSD/CDS e o PS aprovaram, no parlamento, um diploma que
passa a estender a possibilidade de aquisição da nacionalidade portuguesa
originária aos netos de portugueses nascidos no estrangeiro, dependente da
demonstração pelo requerente de "conhecimentos suficientes da língua
portuguesa" e da existência de "contatos regulares com o território
português".
Manuela
Bairros, que foi cônsul em Boston e teve funções diplomáticas em Paris, Dublin,
Bucareste e Timor-Leste, disse que pela natureza da comunidade portuguesa nos
EUA, mais antiga do que em muitos outros países, a mudança terá particular
impacto no país.
"Quanto
mais antiga for a comunidade, mais importante se torna esta possibilidade de os
netos terem acesso à nacionalidade portuguesa originária", disse.
Bairos
considerou que "é muitas vezes nas terceiras gerações que desperta o
interesse pelas origens" e tem uma explicação para isso.
"As
segundas gerações ainda estão muito ligadas aos afetos diretamente recebidos
dos pais e aos traumas que a distância das referências de origem
inevitavelmente lhes causa. Creio que é nas terceiras gerações, já mais
estabilizadas do ponto de vista emocional e identitário, que se inicia a
procura dum sentido de história pessoal, que não começa no país de acolhimento,
mas mais atrás nos países de origens dos avós, dos antepassados", explicou
a cônsul à Lusa.
A
diplomata nascida nos Açores, arquipélago com uma numerosa diáspora nos EUA,
disse acreditar que a nacionalidade estabelece uma ligação incomparável com
qualquer outra.
"A
concessão de nacionalidade cria um elo de identidade e de pertença que não tem
paralelo com qualquer outra tentativa de ligação das pessoas aos países dos
quais querem fazer parte. Implica uma vontade individual de pertença a um país,
à sua história, aos seus valores e aos seus desígnios futuros. Não vejo outra
forma que se lhe aproxime", disse.
Segundo
o diploma aprovado, a concessão de nacionalidade ficará ainda dependente de não
existir "qualquer condenação (com trânsito em julgado de sentença) pela
prática de crime punível com pena de prisão de máximo igual ou superior a três
anos, segundo a lei portuguesa".
Na
altura da aprovação, o secretário de Estado das Comunidades, José Cesário,
considerou que o diploma representava uma "mudança histórica" no
ordenamento jurídico nacional.
AYS
// VM
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