António Veríssimo, Lisboa
Já o cadáver de Mauk Moruk arrefeceu, foi
sepultado, está rígido e em decomposição e ainda a sua alma não descansa na
comunicação social timorense e entre as conversas e indignação das populações
nacionais e estrangeiras que estão sem saber ao certo em quem acreditar sobre a
sua morte em combate ou o seu assassinato por vingança de Xanana Gusmão ou
outros.
Na primeira versão sobre a morte de Mauk
Moruk, que defendia a demissão de Xanana Gusmão por causa de ser corrupto e
déspota enquanto chefe do governo, dono e senhor do país, um elemento das
forças da polícia e do exército que nas montanhas perseguiam os contestários e
opositores declarou que quando já julgavam que Mauk Moruk estava sem armas ele
sacou de uma pistola e tiveram de disparar a matar – grosso modo a declaração
consistiu nisto. Posteriormente foi declarado que Mauk Moruk, ao fugir dos
perseguidores caiu montanha abaixo… Aliás, como consta entre os timorenses, outros
perseguidos e mortos também caíram montanha abaixo e… morreram todos espatifados.
Estas incongruências e duplicidades causaram
e causam dúvidas e suspeitas de que Mauk Moruk foi assassinado, como muito provavelmente
outros dos seus seguidores. Até corre a versão de que Xanana Gusmão estava nas
proximidades do local onde foi “desativado” Mauk Moruk. Xanana e alguns dos
seus fiéis operacionais. O costume.
A ser verdade esta versão não é
compreensível que o ministro dos negócios, perdão, do Planeamento e
Investimento Estratégico, estivesse na zona com o propósito de assistir à captura
ou assassinato de Mauk Moruk… A não ser que seja alegado que ocasionalmente ia
a passar por aquela região. Pois.
Certo é que o descrédito de Xanana Gusmão já
é há muito transmissível. Quase que se pode dizer que se tornou numa epidemia
que assola a elite timorense e que tende a alastrar devido à permanência de
Xanana Gusmão num governo em que o primeiro-ministro é considerado por muitos
um fantoche que se submete às decisões de Xanana, continuando a ser ele de
facto o PM. O que quer, pode e manda.
O referido descrédito, sobre a morte de Mauk
Moruk, já atingiu os médicos legistas do Hospital Guido Valadares, que
procederam à autópsia ao cadáver do “acidentado” opositor do regime de Xanana
Gusmão e sua corte. Descrédito que macula Rui Araújo por mais que não seja
verdade que ele é um PM fantoche. Macula igualmente o PR Taur Matan Ruak e o
dirigente da Fretilin Mari Alkatiri. Muito se diz, muita confusão é atirada ao
éter e nesta coisa que se veicula na internete, mas a versão ofiicial,
limpinha, não sabemos. Afinal o que consta como resultado das autopsias de Mauk Moruk e
seus seguidores? Existiram manipulações, como
no caso do major Alfredo Reinado e seu lugar-tenente, ou não?
Será que para a elite timorense, para
Xanana, o segredo é mesmo a alma
do negócio? Ou será que tudo que aqui consta é palha e fruto de rumores sem
consistência? Se é, qual a razão por que não chegam esclarecimentos diretos do
alegado (ou de facto) PM Rui Araújo com a sobriedade e seriedade que se exige?
Também não é minimamente compreensível que
após se ter demitido de PM Xanana Gusmão integre o governo. Não existem
argumentos compatíveis com o seu escabroso historial em altas funções do Estado
timorense. Ainda para mais por ele próprio ter reconhecido as suas limitações
académicas e de desempenho em tais altas funções. Mais ainda por ter estado em
vias de ser indiciado nas práticas de corrupção que o levariam a expulsar
juízes. É indubitável que a mácula estará sempre presente sobre três
personalidades que desempenham altos cargos na RDTL. A saber: o presidente Taur
Matan Ruak, por aceitar não realizar eleições após a demissão do governo de
Xanana Gusmão, por aceitar Xanana Gusmão ministro de um governo que não foi
eleito, por aparentar que afinal também ele tem de obedecer a Xanana Gusmão ou que
algo teme e o leva à submissão. Aplicando-se quase o mesmo a Mari Alkatiri,
salvo umas quantas nuances.
Quanto a Rui Araújo, parece evidente que ele
não sabia a camisa de onze varas em que se ia meter. O que chega a Portugal sobre ele é do melhor, como
pessoa e como
médico. Como
timorense também.
Não se compreende que aconteça por acaso,
sem motivos, sem estratégias delineadas antecipadamente, certas “confusões” que
ajudam a duvidar sistematicamente sobre o que acontece em Timor-Leste por via
da elite que se apoderou dos poderes após a independência. Nem se compreende
que sistematicamente os opositores de Xanana Gusmão acabem quase sempre
cadáveres.
Poderão esclarecer, com verdade, se não for
muito incómodo e se fizerem o favor? Ou será que é segredo?
Esperemos sentados. Pois.
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