Hong
Kong, China, 22 set (Lusa) -- A luta pelo sufrágio universal em Hong Kong
também se fez com autocolantes, grafitis, cartazes e tinta no pavimento,
"sinais de resistência" que não foram ainda totalmente eliminados da
cidade, segundo o investigador Daniel Garrett.
"Uma
das coisas que mais me tem interessado na cultura política é saber como os
governos de Hong Kong e da China fazem desaparecer os sinais de resistência ao
que está errado em Hong Kong", afirmou o académico norte-americano.
Para
o autor do livro "Counter-hegemonic resistance in China's Hong Kong :
visualizing protest in the city" é "exatamente isso o que está a
acontecer nos últimos meses" na antiga colónia britânica.
"Ainda
havia muitos sinais [dos protestos], mas no último mês e meio muitos
desapareceram", descreveu, ao referir, por exemplo, o pintado de fresco
nos separadores e placas de trânsito nas estradas.
Daniel
Garrett fotografou mais de 200 protestos do movimento pró-democracia em Hong
Kong e nos últimos meses tem revisitado os locais ocupados durante 79 dias no
ano passado.
"Faz
parte do meu trabalho visual, procuro vestígios como indicadores da temperatura
política. É como um barómetro, procuro novos autocolantes, mas também procuro
os antigos, interessa-me ver quais foram removidos", explicou à agência
Lusa.
Nas
suas inúmeras passagens pelos mesmos sítios, Daniel Garrett encontrou
autocolantes do campo pró-democracia tapados por outros da ala pró-Pequim, e
por vezes vandalizados. Mas também notou situações caricatas e alguma ironia
nas ações de limpeza, nem todas a cargo do governo.
"Alguns
dos autocolantes em que se lê 'Umbrella Revolution ou Occupy Central' foram
apagados, mas alguns dos grafitis que têm o chefe do Executivo como alvo
mantêm-se", constatou.
O
investigador ilustrou com um exemplo concreto: "Há uma caixa de
eletricidade perto do LegCo (Conselho Legislativo) com um comentário a pedir a
sua demissão e diz 'CY Leung, 689 votos' (em referência ao número de eleitores
que o elegeram em 2012). E essa mensagem não foi apagada, continua lá há quase
um ano".
"Mesmo
que tenham apagado ou livrado-se de outros autocolantes, referências aos 689
votos ou ao CY Leung continuam em muitos locais, o que considero muito
interessante porque sugere que, dentro do governo, ou pelo menos entre os
encarregados de limpar estes graffitis, há pessoas que estão seletivamente a
ignorar estas referências. E porquê? Porque ele é muito impopular",
justificou.
O
investigador está atualmente a fazer um doutoramento na City University of Hong
Kong e a preparar um novo livro sobre o movimento Occupy. "Estou a olhar
para as 'reivindicações visuais', para as mensagens políticas que eles estavam
a enviar, e para as relações Hong Kong -- China", adiantou.
FV
// PJA
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