A
televisão pública angolana tem vindo a difundir, desde sexta-feira, imagens do
ativista e 'rapper' Luaty Beirão, um dos 15 detidos em Luanda, acusados de
prepararem um golpe de Estado, em greve de fome há 20 dias.
O
jovem ativista, músico e engenheiro, de 33 anos, voltou a ser transferido na
sexta-feira para uma cadeia-hospital de São Paulo (Luanda), devido ao estado de
saúde, segundo informação da família, que afirma encontrar-se "em risco de
vida"
Os
familiares dizem ainda que as suas visitas a Luaty Beirão, na cadeia, onde se
encontra desde 20 de junho, têm sido sujeitas a limitações, não previstas,
pelos serviços prisionais.
Entretanto,
a televisão pública angolana começou a difundir, nos espaços noticiosos, imagens
do ativista, na prisão, apresentadas como "exclusivo" e
"desmentindo" rumores sobre a morte do jovem.
Luaty
Beirão, que assina ainda com os heterónimos musicais "Brigadeiro Mata
Frakuzx" ou, mais recentemente, "Ikonoklasta", aparenta um
estado de saúde débil e surge recusando-se a prestar declarações àquele órgão
público.
"Admiro
a persistência, mas não vou falar", diz Luaty Beirão, nas declarações
emitidas pela televisão pública angolana.
Em
causa está a situação de um grupo de 17 jovens - duas em liberdade provisória -
acusados formalmente, desde 16 de setembro passado, de prepararem uma rebelião
e um atentado contra o Presidente angolano, mas sem que haja uma decisão do
tribunal de Luanda sobre a prorrogação da prisão preventiva.
"O
meu marido está em greve de fome há 18 dias [na quinta-feira], porque está
detido ilegalmente, porque as autoridades não fazem o seu trabalho. Já se
esgotaram os 90 dias [primeiro prazo máximo de prisão preventiva] e não há uma
decisão das autoridades dizendo se mantêm a prisão preventiva por mais 90 dias
ou se os libertam, com Termo de Identidade e Residência ou com caução, já que a
lei assim o permite", disse à Lusa, na quinta-feira, Mónica Almeida,
casada com Luaty Beirão.
Mónica
Almeida falava, na ocasião, numa vigília que algumas dezenas de pessoas
promoveram em Luanda, junto à igreja da Sagrada Família, a pedir a libertação
dos 15 jovens e manifestando preocupação com a situação de Luaty Beirão, o
único que permanece em greve de fome, de vários que a iniciaram.
Face
ao estado de saúde do ativista, nova vigília foi convocada para o mesmo local,
ao fim da tarde de hoje.
"O
Luaty pode morrer a qualquer momento. Numa greve de fome devia ingerir três
litros de água, quando nem meio litro consegue. Os órgãos já começam a deixar
de funcionar e todos os dias apresenta um quadro diferente", disse ainda
Mónica Almeida.
Luaty
Beirão é um dos rostos mais visíveis da contestação ao regime angolano e já
chegou a ser preso pela polícia angolana em manifestações de protesto, desde
2011.
É
filho de João Beirão, já falecido, que foi fundador e primeiro presidente da
Fundação Eduardo dos Santos (FESA), entre outras funções públicas, sendo
descrito por várias fontes como tendo sido sempre muito próximo do Presidente
angolano.
A
Lusa noticiou, na segunda-feira, o conteúdo do despacho de acusação proferido
pelo Ministério Público angolano contra os 17 jovens, alegando que preparavam
uma rebelião e um atentado contra o Presidente da República, prevendo
barricadas nas ruas e desobediência civil, que estes aprendiam num curso de
formação.
"Os
arguidos planeavam, após a destituição dos órgãos de soberania legitimamente
instituídos, formar o que denominaram 'Governo de Salvação Nacional' e elaborar
uma 'nova Constituição'", lê-se na acusação, deduzida três meses depois
das detenções.
Os
jovens negam a gravidade destas acusações, afirmando que se reuniam para
discutir política.
"Se
o Luaty tiver de permanecer preso mais dez anos, que o digam, não é ficarem
mudos. É por isso que ele está em greve de fome, ele tem consciência que pode
ficar preso dez, 20 anos, porque sabe que a nossa Justiça não é justa. Mas que
o julguem, porque eles não foram condenados", disse ainda, anteriormente,
Mónica Almeida.
Notícias
ao Minuto com Lusa
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