segunda-feira, 12 de outubro de 2015

O “SENHOR DO CRIME EM MACAU” QUE TERÁ CORROMPIDO DIRIGENTE DA ONU


Um relatório encomendado por uma operadora de jogo descreve o empresário de Macau Ng Lap Seng, acusado esta semana pelos EUA de subornar um ex-dirigente da ONU, como "tóxico" devido a alegadas ligações a tríades e redes de prostituição.

O relatório elaborado em 2010 pela empresa de investigação privada de Steve Vickers, antigo chefe do Gabinete de Informações Criminais da polícia de Hong Kong, foi revelado há poucos dias pelo Programa de Jornalismo de Investigação da Universidade de Berkeley, Califórnia, e traça um perfil do magnata, acusado de corrupção pelas autoridades norte-americanas, num caso que envolve o antigo presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, John Ashe.

Na ocasião, a Sands, uma das seis operadoras de jogo de Macau, quis avaliar os riscos de estabelecer negócios com Ng. A resposta foi clara: "A Internacional Risk sublinha que a reputação de Ng e as suas relações são bem mais tóxicas do que as do típico magnata chinês de Macau (...) Recomendamos à Sands que proceda com extremo cuidado em qualquer relação que estabeleça, já que associar-se com ele pode representar um grande risco à reputação" da empresa.

No relatório de cerca de 70 páginas, Vickers revela como Ng é descrito na imprensa como um "senhor do crime de Macau" e uma das figuras que controlam o tráfico internacional de prostituição na cidade.

O seu Hotel Fortuna, diz o relatório remetendo frequentemente para artigos de jornais (alguns dos anos 1990), era frequentado por membros da tríade Shui Fong, à qual se suspeita que Ng pertença, segundo "uma fonte do Governo ligada à regulação de jogos de Macau".

O magnata do imobiliário, presidente do grupo San Kin Yip, é descrito como bem conectado em termos políticos, tanto em Macau como na China -- a discoteca do Hotel Fortuna era, aliás, muito frequentada por generais do Exército de Libertação Popular, indica o documento, novamente remetendo para informação de terceiros.

É membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e, em Macau, foi membro da Comissão Preparatória da Região Administrativa Especial de Macau, do Conselho para o Desenvolvimento Económico, pertencendo também à comissão que elege o chefe do Executivo.

Entre 1999 e 2000, Ng adquiriu 34,5% do capital da Teledifusão de Macau, 15% vendidos pelo antigo chefe do Governo Edmund Ho, e 19,5% pelo magnata Stanley Ho.

Foi responsável, em 2001, a par do Governo, pelo lançamento da Feira Internacional de Macau, que ainda hoje decorre anualmente.

O relatório observa ainda que o empresário recebeu diversas medalhas e distinções de Macau e da China, e também, em 2009, um prémio do Comité dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio da Organização das Nações Unidas (ONU).

São também conhecidas as suas doações ao Partido Democrático dos Estados Unidos nos anos 1990 e à Administração de Bill Clinton, noticiadas na imprensa norte-americana por suscitarem suspeitas de que tivessem origem ilícita.

O relatório cita um artigo do Wall Street Journal indicando que, graças a essas doações, Ng visitou a Casa Branca dez vezes e teve pelo menos um encontro com o então Presidente Clinton.

Menos conhecida é o seu alegado envolvimento na aquisição daquele que viria a ser o primeiro porta-aviões chinês. Segundo apurou Vickers, Ng terá sido o empresário por detrás da compra, num leilão, de um antigo porta-aviões russo, o Varyag, em 1998. O negócio foi feito através de uma empresa registada em Macau chamada Chong Lot por 20 milhões de dólares, que declarara a intenção de converter o navio num casino flutuante.

No entanto, o Varyag "está atualmente [em 2010] a ser requalificado e há especulações que se vá tornar um porta-aviões operacional nos próximos anos". De facto, foi apresentado ao mundo em 2012 com o nome Liaoning.

Em Macau, onde Ng chegou em 1979, vindo do condado de Jiujiang, na província chinesa de Guangdong, construiu também o complexo residencial Windsor Arch, que foi patrocinador do Grande Prémio de Macau durante três anos, entre 2008 e 2010.

Em declarações ao jornal de Hong Kong South China Morning Post, Vickers reafirmou as conclusões do relatório, mas rejeitou comentar por motivos legais.

Por seu lado, o advogado de Ng, Kevin Tung, disse ao jornal que os conteúdos do relatório são baseados em "rumores", não sendo "admissíveis em tribunal nos Estados Unidos".

"As pessoas podem dizer o que quiserem, [mas] sujeitam-se a acusações de difamação. Nesse sentido, não tenho nenhum comentário sobre essas alegações não fundamentadas", afirmou.

Notícias ao Minuto com Lusa

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