Malaca,
Malásia, 28 jun (Lusa) - Os crioulos portugueses falam-se em diversos pontos da
Ásia e além da origem lusófona têm atualmente outra coisa em comum: a ameaça de
extinção, disseram hoje académicos e ativistas numa conferência que junta em
Malaca comunidades luso-asiáticas.
Na
Ásia, a língua portuguesa é idioma oficial em Timor -Leste e Macau, mas é
também a mãe de crioulos na Indonésia, Malásia, Sri Lanka, Índia, Paquistão e
Macau.
Em
Togu, na Indonésia, o crioulo português sobreviveu durante mais de três
séculos, mas já neste milénio "morreu naturalmente", por terem
morrido todos aqueles que o falavam fluentemente, explicou Arif Budiman, da
Universidade Indonésia de Jacarta, na primeira conferência das comunidades
luso-asiáticas, que decorre em Malaca, na Malásia.
O
crioulo português de Togu já não é usado para comunicar, mas mantém uma
"função cultural" e é utilizado em letras de músicas tradicionais,
tendo-se tornado "numa identidade" de Togu, segundo o académico.
Para
Arif Budiman, para preservar um crioulo é preciso trabalhar no terreno e fazer,
por exemplo, a sua documentação e registo, o que, na Indonésia, onde se falam
mais de 130 línguas, é complicado. Ainda assim, o professor, que estudou em
Portugal, espera prosseguir no estudo de outros crioulos portugueses na
Indonésia.
É
isso que está a fazer, mas em Malaca, uma equipa da Universidade Malaia, de
Kuala Lumpur, que há vários anos documenta, sobretudo em vídeo e áudio, o
crioulo que falam os "portugueses" da cidade e que "está
claramente em perigo", segundo duas investigadoras, Stephanie Pillai e
Adriana Philip.
O
crioulo português de Malaca é falado por cerca de mil pessoas, dizem, e o
número continua a cair. Outros investigadores estimam que não cheguem a cem os
"portugueses de Malaca" que o usam como primeiro idioma.
As
duas investigadoras malaias apontam a falta de um suporte escrito para o
crioulo como uma das razões para o declínio. Mas há também o avanço do inglês e
o hábito crescente de o misturar neste crioulo.
Além
disso, "as gerações mais novas não vêm necessidade de o manter",
afirmaram.
A
equipa Universidade Malaia regista e documenta o crioulo do bairro português de
Malaca há mais de cinco anos e desde 2012 que desenvolve um dicionário online.
Para
além disso, editaram um CD com as orações católicas do bairro e um glossário.
A
equipa acredita que além da importância de preservar uma língua e manter
enriquecida a multiculturalidade da Malásia, o crioulo português e as tradições
da comunidade lusodescendente de Malaca têm "valor económico",
associado, por exemplo, a festividades como os santos populares, que atraem
muitos turistas.
Também
no âmbito de um projeto do Instituto Camões, em parceria com a Associação
Korsang di Malaca (Coração em Malaca), está ser elaborado um manual trilingue
em inglês, português e crioulo para ser usado por eventuais professores que
venham a ser enviados de Portugal ou pela própria comunidade, por alguns
elementos que estão tentar ensinar o crioulo aos mais novos. Para concluir esse
trabalho está em Malaca Sílvio Moreira de Sousa, investigador da Universidade
de Graz, na Áustria.
Earl
Barthelot, do Sri Lanka, ativista da comunidade Burgher, levou à conferência o
caso deste grupo e, entre outras coisas, pediu apoio a Portugal para a
manutenção da sua identidade, herdeira da cultura portuguesa, sugerindo o envio
de professores de português ou apoios para aquisição de instrumentos musicais
para dois grupos locais.
Já
Margaret Sarkissian, norte-americana do Smith College que tem estudado os
"portugueses de Malaca", acredita que as redes sociais abriram um novo
caminho a estas comunidades que ainda não sabe onde vai dar, mas que considera
"excitante".
Isto
porque, explicou, o 'Youtube' e o 'Facebook' criaram novas redes de contactos
entre estas comunidades e mesmo ligações a Portugal que já estão influenciar,
por exemplo, os grupos musicais herdeiros da música tradicional portuguesa.
MP
// JMR
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