M.Azancot de Menezes*, Díli
Depois
de 28 de Novembro de 1975, passados 41 anos, é esta a pergunta que se coloca
face às eleições de 2017
Após
a revolução dos Cravos que colocou fim ao regime fascista português, em 1974, o
processo de descolonização de Timor-Leste começou a ganhar forma na célebre
Conferência de Macau realizada em 1975 porque se tinha acordado a realização de
eleições para a Assembleia Constituinte, o que não veio a acontecer, devido aos
conflitos partidários e à instabilidade que se começou a viver no País.
Em
28 de Novembro de 1975, faz precisamente 41 anos, na tentativa de travar a
invasão da Indonésia, pela voz de Francisco Xavier Amaral, a FRETILIN decidiu
proclamar a independência de Timor-Leste. Depois do referendo de 1999, em que
78,50 por cento dos timorenses rejeitaram a autonomia especial na Indonésia, as
primeiras eleições presidenciais, realizadas em 2002, deram a vitória esperada
ao candidato Kay Rala Xanana Gusmão. Em 2007, na segunda volta, o candidato
José Ramos Horta venceu as eleições, e em 2012, o candidato Taur Matan Ruak foi
o vencedor.
O
actual Presidente da República de Timor-Leste, General Taur Matan Ruak, já
anunciou que não se vai recandidatar, ao que tudo indica, por estar na génese
da criação do Partido de Libertação Popular (PLP), prevendo-se que venha a ser
o futuro presidente do Partido, portanto, deverá concorrer às eleições
legislativas, também agendadas para 2017.
De
resto, num encontro ocasional registado no passado dia 12 de Novembro, a
propósito de mais um aniversário do Massacre de Santa Cruz, na presença de
membros do governo e de vários grupos de Organizações da Juventude, o
Presidente da República abraçou o candidato presidencial António Maher Lopes de
forma efusiva, não se conteve, e muito sorridente disse alto, e em bom som,
“apoiem o António Lopes”, o que demonstra claramente que não será candidato,
para além de ter publicamente manifestado a simpatia e o apoio a António Maher
Lopes/Fatuk Mutin.
Perante
este cenário, com a proximidade das eleições presidenciais em Timor-Leste
previstas para Março de 2017, é normal perguntar, quem será o Presidente da
República de Timor-Leste a ser eleito em 2017?
Antes
de arriscar uma resposta a esta questão, um pouco como que a procurar
fundamentos minimamente coerentes e racionais, tentando ser o mais imparcial
possível, proponho uma breve análise em torno de factos e ilações daí
decorrentes.
Os
candidatos actuais são António Maher Lopes/Fatuk Mutin, o candidato independente
da nova geração que tem o apoio incondicional do Partido Socialista de Timor
(PST), e como demonstrei, ainda que informalmente, também do Presidente da
República; José Neves, um candidato independente, muito recentemente surgiu um
outro candidato que o nome não me vem à memória, e há a hipótese, cada vez mais
remota de José Ramos Horta e Francisco Guterres/Lu´Olo (Presidente da FRETILIN)
serem também candidatos presidenciais.
Em
relação a José Ramos Horta, que prometeu publicamente tomar uma decisão em
Outubro passado, estamos agora em finais de Novembro, remeteu-se ao silêncio,
desde logo, devido ao surgimento do forte candidato António Maher Lopes/Fatuk
Mutin, apoiado pelo PST, portanto, é quase certo, não irá recandidatar-se,
principalmente por falta de apoio popular. No caso de efectivar a candidatura,
com grande probabilidade, será derrotado, e de forma humilhante, pelo que, não
me parece que queira correr esse risco.
No
que diz respeito ao Presidente da FRETILIN, Francisco Guterres Lu´Olo, estava-se
na expectativa de haver notícias a esse respeito no último dia do Congresso do
Partido que se realizou em Outubro passado, em Díli, mas, tal não aconteceu,
circulando rumores de que aguardam o hipotético apoio do Presidente do CNRT,
Kay Rala Xanana Gusmão, para finalmente tomarem uma decisão que tarda.
O primeiro sinal concreto de mudança no sentido de que irá ser eleito em 2017 um candidato da nova geração também se pode inferir a partir dos dados sobre os eleitores. De acordo com os últimos dados eleitorais, haverá em Timor-Leste qualquer coisa como 728.363 eleitores, 153 mil em Díli. Do total de eleitores, e temos aqui outros factos, mais de metade (51 por cento) têm idade compreendida entre 17 e 35 anos, portanto, uma fatia de jovens que procura e deseja a mudança, não se revendo nas figuras de candidatos do passado, os chamados líderes históricos, que identicamente já reconhecem que é preciso dar lugar à nova geração.
É
preciso não esquecer que há uma ausência de progresso do nosso Estado, resultante
das políticas adoptadas para a construção desse mesmo Estado, em que é visível,
todos os dias, as lamentações das populações mais desfavorecidas, por não
conseguirem meios de subsistência, meios para recorrer aos serviços de saúde e
para a educação dos filhos, pela incapacidade de concorrerem em todos os
sectores de produção económica.
Muitos
dos que lutaram na mais difícil frente da luta pela Libertação da Pátria
sentem-se hoje, mais do que nunca, marginalizados no processo de Construção do
Estado e levam uma vida de fome sobrecarregada.
Cada
vez mais, existe a consciência de que a Frente Clandestina desempenhou,
principalmente depois da década de 80, um papel preponderante, mesmo
determinante, e já não coadjuvante, na mobilização integral da população na
luta política urbana e na mobilização de recursos materiais para assegurar a
sobrevivência da Luta Armada, e foram esses mesmos combatentes que levaram e
implantaram a Guerrilha Política e Urbana em toda a Indonésia, factor esse que
contribui para acelerar a queda do regime de Soeharto e permitiu ao novo
Presidente Indonésio definir a solução do conflito de Timor-Leste.
Assumindo
que o rumo da construção do Estado e do Desenvolvimento Nacional chegou ao
estádio onde se cristalizam as maiores vertentes de várias ordens de
discriminação sobre os mais pobres, os mais frágeis, os de menor poder
político, cultural e económico, estas impostas pelas regras da livre
concorrência e do neo-liberalismo, tudo indica, o candidato António Maher
Lopes/Fatuk Mutin, proveniente da Frente Clandestina, conhecido em Timor-Leste
pelo papel que desempenhou na luta clandestina, profundamente ligado à cultura
tradicional, com o apoio incondicional do Partido Socialista de Timor (PST) e
dos combatentes da Brigada Negra, possui as condições e os requisitos
necessários e suficientes para ganhar as eleições presidenciais em Março de
2017.
Portanto,
e recordando a data histórica da proclamação da independência em 28 de Novembro
de 1975, Francisco Xavier Amaral, sustentado pela FRETILIN, foi o primeiro
Presidente da República de Timor-Leste. António Maher Lopes / Fatuk Mutin,
apoiado pelo Partido Socialista de Timor (PST), será o Presidente de
Timor-Leste a ser eleito em 2017.
*M.Azancot de Menezes* também colabora em Timor Agora
Texto
de M. AZANCOT DE MENEZES** – em Jornal Tornado – Foto: Comissão Nacional de Eleições
**Secretário-Geral
do PS Timor e Pró-Reitor da Universidade de Díli (UNDIL).
1 comentário:
Parabéns.
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