Macau,
China, 16 dez (Lusa) -- A secretária para a Administração e Justiça de Macau,
Sónia Chan, negou hoje qualquer "troca de interesses" ou ilegalidade
por ter recomendado, em 2008, um familiar seu para trabalhar no Ministério
Público (MP).
"Tenho
um familiar que trabalha no MP. Na altura tive uma oportunidade, disse ao
ex-procurador que havia essa pessoa. Eu não tinha poder de decisão na altura,
sendo coordenadora do Gabinete para a Proteção de Dados Pessoais. Não era
possível fazer pressão alguma. Não há troca de interesses, não há nada
ilegal", disse hoje Sónia Chan, que convocou os jornalistas, que assistiam
a um plenário na Assembleia Legislativa, para esta declaração no exterior da
sala, depois de, na quinta-feira, ter evitado as suas perguntas.
A
secretária reage assim a declarações feitas em tribunal o ex-procurador Ho Chio
Meng, que está a ser julgado por mais de 1.500 crimes, incluindo burla, abuso
de poder, branqueamento de capitais e promoção ou fundação de associação
criminosa, em autoria ou coautoria com outros nove arguidos.
Ho
Chio Meng reconheceu que sendo Macau pequeno havia no seio do MP funcionários
com relações familiares entre si e recordou que houve currículos que lhe
passaram pelas mãos para potenciais recrutamentos.
"As
duas secretárias de apelido Chan [em referência a Florinda Chan e a Sónia Chan,
respetivamente antiga e atual secretária para a Administração e Justiça]
chegaram a telefonar-me", afirmou.
O
Gabinete de Sónia Chan confirmou aos jornais Tribuna de Macau e Ponto Final que
em 2008, quando era coordenadora do Gabinete para a Proteção de Dados Pessoais,
recomendou um familiar para trabalhar no Ministério Público, o qual foi
contratado. Sónia Chan negou, no entanto, quaisquer pressões e refutou a
possibilidade de troca de interesses.
Hoje,
Sónia Chan admitiu que agora que desempenha um cargo elevado "a exigência
da sociedade é maior" e prometeu "a partir de agora e no futuro"
ser "mais cautelosa" e ter um "desempenho que corresponda à
expectativa do público".
Quando
questionada sobre que função exerce hoje no MP o seu familiar, a secretária
disse não ter "mais informações para providenciar" e sublinhou:
"O poder de decisão era do MP. Se ele precisa ou não de recrutar e se a
pessoa correspondia às condições, isso foi decisão do MP. Eu não influenciei,
apenas recomendei".
Na
quinta-feira, o deputado Leong Veng Chai pediu uma investigação disciplinar à
secretária devido a este caso, mas sem referir explicitamente o seu nome.
"O
Governo deve, em cumprimento da vigente legislação da Função Pública, proceder
de imediato à constituição de uma equipa independente de investigação
disciplinar, para apurar a verdade dos factos e exigir responsabilidades",
disse o deputado, depois de referir que, segundo a imprensa, "houve
titulares de principais cargos que aproveitaram os seus cargos para abusar do
poder em proveito próprio, ajudando os seus familiares a acederem a emprego no
Governo".
Hoje,
o jornal Ponto Final publica declarações de Leong Veng em que este revela que
foi aconselhado pelo Gabinete do Presidente da Assembleia Legislativa a retirar
do discurso as referências a Sónia Chan e Ho Chio Meng.
"Foi
a primeira vez que isto aconteceu comigo. Foi-me dito que era melhor não
colocar estas informações [referências a Florinda Chan, Sónia Chan e Ho Chio
Meng]. Como o caso ainda está a ser julgado nos tribunais disseram-me que não é
conveniente evocar o nome de Sónia Chan nem do antigo procurador", disse
Leong Veng Chai ao jornal.
"As
recomendações foram feitas por parte do Gabinete do Presidente da Assembleia
Legislativa", indicou.
ISG
(FV/DM) // JPS
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