António Veríssimo, opinião
Passo
e repasso ao longo do Facebook por fotografias atuais que testemunham como
sobrevivem em Timor-Leste idosos, os de meia-idade e crianças. As condições de
sobrevivência são deploráveis e semelhantes a meio-século atrás, como se vê nas
imagens aqui em suporte.
Passo
e repasso ao longo do Facebook por declarações de dirigentes timorenses que
falam disto e daquilo, dos progressos, do desenvolvimento, das melhorias, do
investimento, da justiça social, do judiciário e da justiça de batinas negras
toda pomposa mas que anda às cambalhotas e pende tantas vezes para ser forte
com os fracos e fraca com os fortes.
Passo
e repasso ao longo da minha memória tristes quadros, "falados e vividos” e imagens que retive das condições deploráveis de sobrevivência de imensos
timorenses há quase 50 anos. E agora ainda é igual, ou pior.
Passo
e repasso também na minha memória as esperanças de muito melhores condições de
vida de todos os timorenses depois de efetivada a independência… Mas isso acontece só
para alguns. Principalmente para uma elite de políticos e de empresários
“fabricados” sabe-se lá com que dinheiro (ou sabe-se?), enquanto mais de metade
dos timorenses sobrevive em péssimas condições e pelo menos um terço assemelha-se
às condições de vida que ressalta da fotografia que não deixa desmentir a falta
de vergonha de muitos dos dirigentes preponderantes que defendem e guardam para
eles e os seus o mel e deixam que abunde o fel de todos os dias para milhares
de mauberes e buiberes – timorenses de segunda ou terceira categoria.
E
são esses que vêm falar ao povo de Feliz Natal e Boas Festas, resplandecentes
de ganância e compadrios opacos. São os responsáveis por tantos timorenses mal
sobreviverem como há, pelo menos, meio-século. E são esses que defendem com
unhas e dentes a pensão vitalícia (p.ex.) e outras mordomias de que gozam e de que não
querem abdicar em prol de maior e mais justa distribuição da riqueza.
Dignidade que é direito dos povos, justiça
social e solidariedade são atos e palavras substituídas por caridade dos que
enriquecem não se sabe muito bem como (ou sabe-se?). Tal e qual como durante o colonialismo português.
Tenham
vergonha, senhores dirigentes. Não todos vós, mas alguns. Demasiados.
E
vimos também uma igreja romana a caminho de faustosa e a silenciar-se, como no
colonialismo português de séculos atrás - pauper dominum, non sortem mutat (pobre
muda de patrão, mas não de condição).
Sem comentários:
Enviar um comentário