Díli,
02 fev (Lusa) - O procurador-geral da República timorense considerou hoje que
não há "dificuldades constitucionais intransponíveis" na
implementação legislativa em Timor-Leste das obrigações internacionais do país
no combate à corrupção.
José
da Costa Ximenes, que falava numa conferência sobre corrupção em Díli,
referia-se em concreto às obrigações de Timor-Leste no âmbito da Convenção das
Nações Unidas contra a Corrupção e ao projeto-lei anticorrupção apresentado
pela Procuradoria-Geral da República ao Parlamento Nacional.
"A
maioria das obrigações de criminalização constantes da Convenção das Nações
Unidas contra a Corrupção não suscita dificuldades constitucionais
intransponíveis", afirmou no encontro que reúne especialistas de vários
países.
"O
desejado equilíbrio entre os princípios constitucionais e a necessidade de
criminalização do enriquecimento ilícito está, a nosso ver, perfeitamente
encontrado na proposta de lei anticorrupção apresentada pela PGR ao PN",
disse, referindo-se em detalhe a este tipo de crime.
Costa
Ximenes relembrou que "as obrigações de criminalização" previstas na
convenção "só devem considerar-se verdadeiramente vinculantes para o
legislador timorense quando do seu cumprimento não decorra ofensa para as
normas ou para os princípios constitucionais".
Uma
grande fatia do que está detalhado como crime na convenção já está tipificado
como crime nas leis penais timorenses, incluindo corrupção ativa e passiva,
branqueamento de capitais ou participação económica em negócio, abuso de poder
e tráfico de influências, referiu.
Mas
falta, por exemplo, tipificar aspetos como a corrupção de agentes públicos
estrangeiros e de funcionários de organizações internacionais e normas
referentes a corrupção no setor privado.
Mais
complicado constitucionalmente, admitiu, é a questão do enriquecimento ilícito,
previsto na convenção, que "coloca problemas constitucionais de muito melindre",
em concreto por causa de questões como a presunção de inocência.
Adérito
Pinto Tilman, Presidente da Comissão de Anti-Corrupção (CAC), também defendeu
um reforço das normativas legais para combater a corrupção, incluindo
determinar o que fazer com dinheiro procedente da corrupção, que o Estado
poderia usar, por exemplo, para pagar as onerosas transferências médicas de
timorenses para o estrangeiro.
Tilman
defendeu normativas para a investigação bancária, por exemplo, considerando que
no caso do enriquecimento ilícito a legislação deve ser feita "com
cuidado" para ter em conta os direitos, liberdades e garantias e evitar
"queixas e denúncias por ciúme".
Outro
aspeto que requer criminalização é no setor privado, introduzindo o crime de
fraude, por exemplo, em situações em que empresários que obtiveram contratos
públicos e não os executaram com qualidade possam ser responsabilidades.
"Temos
ainda que introduzir normativas para lidar com a questão da responsabilidade de
entidades coletivas. Neste caso as regras não são suficientes no código
penal", disse.
O
responsável da CAC defendeu ainda que "deveria ser obrigatório apresentar
declarações de bens verídicas, com uma instituição a acompanhar a evolução dos
bens das pessoas ao longo do exercício de cargos públicos".
Em
termos gerais, José da Costa Ximenes recordou que a corrupção é um dos
fenómenos "mais perniciosos e subversivos dos valores do Estado de
Direito" porque "subverte e contamina o sistema administrativo com
práticas ilegais, e sacrifica o bem-estar de todos a favor de interesses
pessoais".
"As
pessoas às vezes dizem que a corrupção não tem uma vítima em particular. É
verdade, no sentido de que as vítimas são todos e cada um dos cidadãos",
afirmou.
"A
corrupção pode afetar gerações. Nenhum estado que facilite a negociata na sua
administração - e para facilitar basta não denunciar ou não a combater
eficazmente - nega a si próprio e reduz exponencialmente a sua eficácia e
capacidade de realização do bem-estar comum", considerou.
A
conferência internacional sobre "Direitos, Liberdades e Garantias versus o
Combate à corrupção" reúne especialistas de vários países e decorre até
sexta-feira em Díli.
ASP
// FV.
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