Díli,
12 mai (Lusa) - O Presidente da República timorense, Taur Matan Ruak,
homenageou hoje a "coragem e gratidão" dos "católicos
martirizados" que se sacrificaram no período de luta pela independência de
Timor-Leste.
Uma
homenagem deixada durante uma cerimónia no Palácio Presidencial, em Díli, em
que condecorou, postumamente, o ex-administrador da diocese de Díli Martinho da
Costa Lopes e nove membros do clero mortos durante a onda de violência depois
do referendo da independência em 1999.
"As
condecorações que entreguei são um símbolo da gratidão do país aos católicos
martirizados, às comunidades religiosas a que eles pertenciam e à Igreja de Timor-Leste",
disse Matan Ruak.
"A
coragem de tantos sacerdotes e tantas religiosas na nossa terra - continuação
do exemplo que D. Martinho da Costa Lopes deu - escreveram um capítulo de ouro
da história de Timor-Leste e na história da Igreja timorense. A Igreja Católica
deu um contributo do mais valor para a vitória final da paz e foi Dom Martinho
quem primeiro iniciou esse caminho", recordou.
A
cerimónia decorreu perante algumas das principais individualidades timorenses,
membros do Governo liderados pelo primeiro-ministro, Rui Maria de Araújo, e na
presença dos bispos timorenses e de representantes do corpo diplomático, entre
outros.
Durante
o ato, um dos últimos da Presidência de Taur Matan Ruak, que termina às 24:00
de 19 de maio, o chefe de Estado manifestou, "em nome do país, o
reconhecimento profundo da figura e ação extraordinárias" de Martinho da
Costa Lopes e, ao mesmo tempo, da Igreja Católica.
"A
elevada estatura moral de D. Martinho e a sua liderança corajosa da Igreja
timorense durante a ocupação tiveram um impacto profundo na nossa sociedade e
na nossa luta", disse.
"Depois
da invasão, o conhecimento que foi acumulando sobre a brutalidade e a violência
da ocupação chocou profundamente Dom Martinho. O seu sentido de justiça levou-o
a agir", recordou.
Em
1981, já administrador apostólico de Díli - cargo para que foi nomeado em 1977
- Martinho da Costa Lopes apresentou-se "pessoalmente perante o então
Presidente indonésio, Suharto, tendo feito um conjunto de exigências para que
fosse feita uma investigação séria e profunda sobre o caso de
Timor-Leste", momento a partir do qual começou a ser perseguido.
A
13 de outubro do mesmo ano, na procissão em honra de N. Senhora de Fátima,
"exigiu das autoridades indonésias o respeito dos direitos humanos de
todos os timorenses" denunciando "vigorosamente o assassínio de cerca
de 500 timorenses pelas forças ocupantes".
Em
1982, Martinho da Costa Lopes reuniu-se com o líder da Resistência, Xanana
Gusmão, em Mehara. Vindo do "líder da Igreja Timorense, a decisão de falar
com a guerrilha foi um ato extraordinário de coragem, nas condições em que o
país vivia", considerou.
Estas
e outras intervenções levaram ao seu afastamento do cargo, tendo acabado por se
retirar para Portugal, onde continuou, até à sua morte, em 1991, a criticar
publicamente a brutalidade da ocupação indonésia.
Taur
Matan Ruak sublinhou que a ação de Martinho Lopes motivou "sacerdotes e
outros religiosos e religiosas católicos em todo o país, que partilharam com a
população o sofrimento e os perigos".
O
Presidente concedeu a Medalha da Ordem de Timor-Leste "à coletividade dos
membros do clero que foi assassinada durante o período de 'setembro negro' de
1999", com referência concreta para os padres Karl Albrecht Karim, Hilário
Madeira, Francisco Soares e Tarcisius Dewanto, as madres Erminia Cazzaniga e
Celeste de Carvalho, o diácono Jacinto Xavier e os religiosos Valério da
Conceição e Fernando dos Santos.
"Os
nove mártires cuja memória hoje homenageamos estiveram entre as últimas vítimas
das barbaridades cometidas durante a ocupação, à qual o referendo pôs fim, em
benefício da humanidade, da dignidade dos timorenses e também da dignidade do
próprio povo indonésio", considerou.
ASP
// VM
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