Díli,
15 nov (Lusa) - O primeiro-ministro timorense disse hoje que sem Xanana Gusmão
não há possibilidade de um verdadeiro diálogo político alargado, como o
promovido pelo chefe de Estado, acusando a oposição de "um golpe"
para impedir a governação.
"Não
estou preocupado com a situação política. A minha preocupação centra-se nos
líderes políticos, se sabem interpretar a situação ou não", disse Mari
Alkatiri depois de um encontro de 70 minutos com o Presidente da República,
Francisco Guterres Lu-Olo.
"Não
é o Governo que não quer governar. Outros é que se estão a organizar para não
deixar que haja governação. Isto é golpe, isto é golpe. Houve eleição e depois
houve um golpe", considerou.
Alkatiri
lidera um Governo minoritário apoiado pelos 23 deputados da Frente
Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) e pelos sete do Partido
Democrático (PD) que em outubro viu o seu programa chumbado pela oposição
maioritária.
Se
o bloco de oposição que controla 35 dos 65 lugares do parlamento - formado pelo
Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), Partido Libertação Popular
(PLP) e Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO) - chumbar o programa
pela segunda vez, o Governo cai.
No
intuito de lidar com a situação atual o chefe de Estado convocou encontros com
líderes religiosos, responsáveis da sociedade civil e, inicialmente, um
encontro a três com os líderes dos três maiores partidos: Alkatiri (Fretilini),
Xanana Gusmão (CNRT) e Taur Matan Ruak (PLP).
Xanana
Gusmão está ausente do país desde 11 de setembro - ainda sem data de regresso -
e o encontro acabou por se transformar em reuniões separadas apenas com
Alkatiri e Matan Ruak (com quem se reúne hoje à tarde).
Para
Alkatiri a ausência de Xanana Gusmão do país - tem estado envolvido nas
negociações sobre fronteiras marítimas com a Austrália - impede qualquer
diálogo alargado.
"Tem
que estar presente. Se não estiver presente não há diálogo alargado possível. A
Fretilin é o partido mais votado, o CNRT é o segundo e esta é que é a
realidade. Agora fazerem coligações e descoligações, isso é outra coisa",
disse.
Alkatiri
insiste que não reconhece a Aliança de Maioria Parlamentar (AMP), anunciada
pelos partidos da oposição, considerando que continua à espera de ouvir que
Xanana Gusmão apoia de facto essa iniciativa.
"Eles
[no CNRT] dizem que sim mas Xanana nunca disse isto. E eu sou como São Tomé:
ver para querer", disse.
Sobre
cenários para o futuro Alkatiri disse que há que respeitar a constituição e as
competências do Presidente da República, questionado se num cenário da queda de
Governo o chefe de Estado poderia convidar o segundo partido a formar um novo
executivo.
"Não
sei se a constituição permite isso. Houve uma situação parecida mas não igual
em 2007 mas nas altura a Fretilin considerou o Governo 'de facto', porque a
nossa interpretação da constituição é diferente", disse.
O
chefe do Governo e secretário-geral da Fretilin insistiu que continua
empenhando em "estabilidade, na estabilidade nacional, não apenas
governativa", e rejeitou que o Governo esteja em gestão, considerando as
críticas da oposição à apresentação do Orçamento Retificativo sem a
apresentação de novo do programa "vazia de conteúdo constitucional".
"Eu
sempre quis o diálogo, procurando uma coligação, inclusão, ou incidência
parlamentar. E continuo interessado nisso. A fase de transição de cinco anos
precisa de entendimento alargado", afirmou.
"A
estabilidade não vem com a maioria de 35 lugares. O primeiro governo tinha
ampla maioria qualificada e não tínhamos estabilidade. A estabilidade da
sociedade é que é importante, da sociedade civil, do povo, das confissões
religiosas. Isso é que é importante", afirmou.
ASP
// FV
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