Díli, 22 mar (Lusa) - A maioria
dos trabalhadores timorenses está envolvida em agricultura de subsistência,
setor de atividade com baixos níveis de produtividade e que, por isso, continua
a condicionar o combate à pobreza em Timor-Leste, segundo um estudo do mercado
laboral timorense.
O estudo, realizado por
académicos da universidade australiana de Monash, revela que menos de metade
dos adultos trabalha e que o rácio de dependentes - crianças e idosos
relativamente ao número de trabalhadores ativos - é de 90%, um dos mais
elevados do mundo.
Segundo o estudo, mais de 64% dos
trabalhadores estão envolvidos na atividade agrícola, sendo que 95% dessa
atividade agrícola continua a ser de subsistência, o que "sugere que quase
60% de todos os trabalhadores estão envolvidos em agricultura de subsistência
como a sua principal ocupação laboral".
A análise faz parte de um estudo
sobre o mercado laboral em Timor-Leste feito pelos académicos Brett Inder e
Katy Cornwell, do Centro para Economia de Desenvolvimento e Sustentabilidade,
da universidade australiana Monash.
Globalmente o estudo refere que
trabalham em Timor-Leste cerca de 389 mil pessoas, dos quais quase 250 mil são
agricultores por conta própria.
O Estado emprega 65.800 pessoas,
cerca de 40.700 trabalham por conta própria, 18 mil têm negócios agrícolas ou
outros, 5.100 trabalham em organizações não governamentais e cerca de 1.200 em
embaixadas ou instituições internacionais.
Comparando a situação com o
vizinho mais próximo, a Indonésia, o estudo nota que os timorenses têm um
salário mínimo mais elevado (115 dólares comparativamente aos 112 dos
indonésios) mas que só 53% dos adultos trabalham (são 66% na Indonésia) e 80%
dos empregues estão no setor informal, contra 53% no país ao lado.
De particular destaque é o número
de pessoas que dependem dos trabalhadores ativos, que é de 90%, muito mais
elevado que a média da região, que ronda os 50%.
O maior grupo de dependentes são
crianças, já que 39% da população tem menos de 15 anos, valores acima dos
registados em países como o Vietname (23%) ou Laos (35%).
"A relativamente pequena
proporção de adultos que trabalham tem que apoiar significativamente mais
dependentes que os seus congéneres nos outros países na região. E o elevado
número de crianças deixa sérios desafios para os próximos anos. Que tipo de
trabalhadores haverá para uma crescente população à procura de trabalho?",
questiona o estudo.
O estudo estima que o valor da
produção agrícola timorense ronde os 200 milhões de dólares, o que dá um
"valor de produção agrícola de cerca de 800 dólares por trabalhador por
ano", sendo que o rácio é de um trabalhador por cada três pessoas.
Isso implica que a produção
agrícola é de apenas 240 dólares por sessão, nota o estudo, valor que é apenas
40% da linha de pobreza, que é aproximadamente de 600 dólares por ano.
"Se todo o rendimento do
setor agrícola for para as famílias de agricultores (sendo que quase de certeza
só parte desse rendimento fica com os agricultores), a família média timorense
tem que viver com menos de metade da linha da pobreza", nota o estudo.
Daí que o estudo sugira que
"transformar o setor agrícola é absolutamente vital" num país onde a
maioria da população depende dessa atividade para a sua vida, a par de um maior
esforço de diversificação da economia.
Fortalecer as técnicas de
produção, uso de mais equipamento, formação e ampliação de mercados são algumas
das recomendações do estudo.
ASP. // JH.
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