Díli, 26 mar (Lusa) - As mulheres
timorenses continuam a não conseguir exercer os seus direitos em Timor-Leste e,
no mundo rural, têm grande parte do trabalho sem a correspondente participação
ativa no desenho das políticas de desenvolvimento, afirmou hoje o Presidente
timorense.
Por isso, disse Francisco
Guterres Lu-Olo num discurso em Díli, "valorizar a ação das mulheres e
promover a sua participação na construção nacional" torna-se crucial para
o reforço da "qualidade da democracia" e para a defesa da
Constituição.
Lu-Olo falava na abertura de um
seminário sobre a importância do voto da mulher, promovido pela organização
timorense Rede Feto (Rede Mulher) que decorre a cerca de duas semanas do
arranque da campanha para as eleições antecipadas de 12 de maio.
"A Constituição da RDTL
estabelece o princípio da igualdade de direitos de todos os cidadãos, incluindo
a igualdade de direitos entre homens e mulheres", afirmou.
"Mas, na nossa sociedade as
mulheres ainda não têm a mesma oportunidade de exercerem os seus direitos. Por
isso, valorizar a ação das mulheres e promover a sua participação na construção
nacional é também promover a aplicação da Constituição", disse ainda.
Em jeito de mensagem para os
líderes políticos, Lu-Olo considerou igualmente que "a participação
política é um direito que deve abrir as portas ao exercício de outros direitos:
direito à educação, à saúde, à água limpa, à habitação", que o Estado deve
dar máxima prioridade a estes temas e que "as mulheres têm de participar e
contribuir também para realizar esses direitos".
"A integração plena das
filhas de Timor-Leste no processo de desenvolvimento é uma necessidade
estratégica, para alcançarmos objetivos de desenvolvimento sustentável que
estabelecemos - incluindo a diversificação da economia nacional, a qual
dependerá sempre da melhoria da economia familiar nas áreas rurais",
sustentou.
"Para realizarmos estes
objetivos, temos de trabalhar em conjunto, homens e mulheres. E temos de
aprender a dar o valor justo à importância das mulheres para o desenvolvimento
da sociedade e da economia, na Administração Pública, no setor privado
empresarial e nas áreas rurais, nas aldeias, campos e lezírias, onde vive e
trabalha a maior parte do nosso povo", defendeu.
Destacando a importância do
trabalho das dirigentes e ativistas das organizações de mulheres em
Timor-Leste, o Presidente sublinhou a importância de manter e reforçar as
parcerias que existem com o Estado, ajudando a fortalecer a sociedade civil.
"A participação ativa das
mulheres e das organizações de mulheres é indispensável para valorizar o papel
das mulheres para a construção nacional, diariamente, a todos os níveis: não
apenas na política, mas em geral na sociedade, na vida familiar, nas cidades e
nas aldeias, nos campos e nas lezírias desta terra amada", afirmou.
O chefe de Estado relembrou que
as tarefas familiares "continuam a cair nos ombros das mulheres" e
que ainda que o trabalho das mulheres no meio rural seja "determinante
para a economia das suas famílias", elas continuam sem "igualdade de
condições nem de participação no desenvolvimento das prioridades
nacionais".
Neste âmbito, destacou a falta de
saneamento e água limpa e que são as mulheres e as raparigas que, 15 anos
depois da independência, "percorrem longas distâncias, carregando água
para suas casas".
"Após 15 anos de exercício
da independência, continuo a ver milhares e milhares de famílias a viverem em
habitações sem condições básicas mínimas. Esta situação afeta os homens e as
mulheres. Mas é o trabalho das mulheres em casa que mais sofre a falta de
condições básicas das habitações das famílias da nossa terra", frisou.
"O acesso à informação e a
participação das mulheres na implementação das políticas de habitação, de água
e de saneamento, de saúde pública e educação, são prioridades fundamentais do
nosso desenvolvimento", afirmou.
ASP // ANC
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