Luanda, 08 jun (Lusa) - Angola
continua "reticente" quanto à ratificação do acordo ortográfico da
Língua Portuguesa, defendendo a necessidade de encontrar "mais pontos
conciliatórios", face às preocupações de ordem linguística e didática da
nova versão.
O posicionamento foi expresso
hoje, em Luanda, pela coordenadora da comissão nacional angolana no Instituto
Internacional da Língua Portuguesa, Ana Paula Henriques, no âmbito da 1.ª
reunião de ministros da Educação do Fórum PALOP (Países Africanos de Língua
Oficial Portuguesa).
"Em relação às preocupações
de ordem linguísticas, há instruções no Acordo Ortográfico que não respeitam
preceitos científicos, não se consegue comprovar e os resultados do nosso
diagnóstico assim o demonstram", disse a responsável, em declarações aos
jornalistas, à margem da reunião de hoje.
Ana Paula Henriques acrescentou
que com as atuais "preocupações de ordem didática", é "difícil
fazer a sua aplicação" na escola.
Angola levantou desde o primeiro
momento a questão da necessidade de se regular a forma de utilização das letras
k, w e y, o que o Acordo Ortográfico não faz, apesar de largamente usadas em
Angola.
A 1.ª reunião do Fórum dos Países
Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) junta, em Luanda, os ministros
da Educação de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e
Príncipe, Guiné Equatorial e ainda Timor-Leste como país observador.
Para Ana Paula Henriques outra
preocupação de Angola relativamente ao Acordo Ortográfico de 1990, e que ainda
não ratificou, é a falta de precisão dos guias e instrutivos para a sua
aplicação.
"É por esta razão que nós
achamos que o caminho ideal para uma língua, com tanto prestígio como é a língua
portuguesa, é de corrigir aqueles aspetos que não são funcionais",
sustentou.
Os resultados de um diagnóstico à
aplicação do Acordo Ortográfico de 1990, realizado em algumas escolas angolanas
estão igualmente a ser avaliados neste Fórum.
"A posição de Angola não é
de não ratificar do Acordo Ortográfico, a nossa posição é de conversar com os
pares no sentido de apresentar preocupações no sentido de acomodar também
Angola num instrumento que é comum, é de todos os membros dos PALOP e CPLP",
referiu.
Quanto à política linguística, a
responsável assinalou, que Angola "respeita" as recomendações da
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO),
"que alertam para se ter atenção a convivência entre as línguas nos respetivos
países".
"O que quer dizer que para
nós nos sentirmos acomodados no Acordo Ortográfico é importante que se
conciliem determinados fenómenos característicos da língua portuguesa escrita,
porque nem todos os fenómenos da escrita estão retratados no Acordo
Ortográfico", sublinhou.
O que, fundamentou, "retarda
também o aspeto de extrema importância para a independência dos Estados que é a
elaboração das suas gramáticas, dicionários".
"São essas preocupações que
temos apresentado aos nossos pares em busca de concertação entre a linguística
da língua portuguesa e da língua bantu, ou ainda os crioulos, enfim",
rematou.
Em Angola continua a vigorar o
Acordo Ortográfico de 1945, convenção ortográfica assinada em Lisboa, a 06 de
outubro de 1945.
O Governo angolano ainda não
decidiu sobre a ratificação do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa,
situação igual à de Moçambique.
Em Portugal, a moratória sobre a
aplicação do novo acordo, de 1990, terminou a 13 de maio de 2015, data a partir
da qual a sua utilização passou a ser obrigatória.
DYAS // EL
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