Macau, China, 04 jun (Lusa) - A
chuva que se sentiu hoje em Macau não demoveu as cerca de 200 de pessoas de se
juntarem numa vigília para lembrarem as vítimas de Tiananmen, na esperança que
a China se recorde delas, apelaram os organizadores.
"Achamos que o governo deve
encarar os factos e admitir o que fez há 29 anos e assim a China pode vir a
aspirar um futuro melhor", disse à Lusa um dos membros da União para o
Desenvolvimento de Macau (UDDM), que organizou a vigília, enquanto distribuía
jornais alusivos aos acontecimentos de Tiananmen.
Em 1989, em Pequim, o exército
chinês avançou com tanques para dispersar protestos pacíficos liderados por
estudantes, causando um número de mortos nunca oficialmente assumido. Algumas
estimativas apontam para milhares de mortos.
"A atmosfera política está a
tornar-se cada vez autocrática e as pessoas que se lembram do que aconteceu
estão a ficar velhas e a maioria dos jovens não faz ideia do que aconteceu em
1989", disse à Lusa um jovem estudante de 25, que vive em Hong-Kong, mas
que estava a passar férias em Macau e decidiu participar na vigília.
A vigília decorreu de forma
pacífica no Largo do Senado, entre as 20:00 e as 22:00, uma das maiores praças
de Macau e um dos principais pontos turísticos do território, onde manifestantes
e turistas foram formando um semicírculo à volta das fotografias alusivas aos
acontecimentos de 1989, das velas em memória das vítimas e rodeando os
oradores.
Macau e Hong Kong são os dois
únicos locais da China onde Tiananmen pode ser publicamente recordado e nas
duas cidades realizam-se anualmente vigílias para lembrar as vítimas do
massacre.
O deputado pró-democracia Sulu
Sou, presente da vigília, rejubilou-se pelo facto de Macau poder
"continuar a ter a liberdade de falar sobre este assunto publicamente".
Apesar disso, o mais jovem
deputado de Macau, condenado na semana passada pelo Tribunal de Primeira
Instância a uma pena de 120 dias de multa, devido a um crime de desobediência
qualificada por um protesto realizado a 15 de maio de 2016, assumiu sentir
"que a liberdade de expressão de Macau e de livre associação tem vindo a
diminuir a cada ano".
A chuva e o facto de "o
ambiente político estar sob alta pressão nestes últimos anos", são as
causas para a diminuição do número de pessoas, ao longo dos últimos, na opinião
de Sulu Sou.
"Nós escolhemos continuar a
lembrar [as vítimas] até que as autoridades chinesas investiguem, de forma
independente, o que aconteceu e que façam justiça às vítimas, especialmente aos
pais" dos estudantes que morreram, afirmou o mais jovem deputado de Macau.
Já o também deputado
pró-democracia Ng kuok Cheong demonstrou confiança na mudança para melhor da
China e dos seus habitantes, considerando que com a melhoria económica do país
a população vai tornar-se mais crítica e mais informada.
"O mundo mudou
drasticamente, e China também e à medida que a China se vai tornando mais rica,
as pessoas vão ficar cada vez mais informadas", disse Ng kuok Cheong.
"Muitas pessoas vieram mas
acho que se não estivesse a chover mais pessoas vinham", considerou o
deputado.
De acordo com o jornal The New
York Times, dezenas de milhares de ativistas pró-democracia participaram hoje
na vigília em Hong Kong.
MIM // EL | Foto: Carmo
Correia/Lusa
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