Viqueque, Timor-Leste, 30 set
(Lusa) - O maior partido timorense, a Fretilin, atualmente na oposição criticou
hoje o que diz ser a "instrumentalização dos órgãos de soberania pelo
poder informal", apelando aos líderes nacionais para "se unirem na
libertação do povo".
Esta foi uma das recomendações
que saiu do retiro político de dois dias que dirigentes, quadros superiores e
militantes da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin)
mantiveram este fim de semana em Viqueque, sudeste de Díli.
Em comunicado assinado pelo
secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, e enviado à Lusa, o partido deixa
várias recomendações depois de um debate centrado no tema: "Ampliar a
inclusão para reforçar a democracia".
No contexto de tensão política
que tem marcado Timor-Leste no último ano, a Fretilin explica ter analisado
questões como "os fundamentos da legitimidade democrática num sistema
multipartidário" e o "contínuo diferendo entre os líderes da
libertação da pátria".
Os participantes no encontro
"rejeitam ardentemente a instrumentalização dos órgãos de soberania pelo
poder informal, pondo em causa a integridade das instituições do Estado, o
processo de construção do Estado e o reforço a democracia no país", refere
o comunicado.
O texto alude a algumas das
polémicas recentes, incluindo críticas à ação do Presidente da República - que
ainda é presidente da Fretilin -, considerando que as suas posições
"assumidas (...) na gestão dos assuntos do Estado são uma forma educativa
de toda a sociedade e, em particular, da classe política".
Refere-se ainda ao polémico
relatório da Câmara de Contas sobre a Região Administrativa Especial de Oecusse-Ambeno
(RAEOA) - presidida por Mari Alkatiri - que aponta várias irregularidades, e
que, para a Fretilin, "é utilizado para fins políticos".
Motivo pelo qual o partido
"alerta os órgãos de soberania competentes para as tentativas de
instrumentalização dos órgãos judiciais para interesses partidários ou de
grupos", refere ainda o comunicado.
Num quadro de tensão entre os
principais líderes históricos do país, os partidos no retiro "apelam aos
líderes da libertação da pátria para se unirem na libertação do povo" e
para "virarem a página rumo a um novo clima político".
"É tempo de reunir as
diferenças, é tempo de cerrarmos as fileiras, é tempo de apostar na excelência
para o desenvolvimento sustentável de Timor-Leste, é tempo de ampliarmos a
inclusão para reforçar a democracia e, em suma, é tempo de sermos 'um por todos
e todos por um'", refere o texto.
O mote 'um por todos e todos por
um' foi o lema do VI Governo, liderado por um dirigente da Fretilin, Rui Maria
de Araújo, mas apoiado por uma coligação liderada pelo Congresso Nacional da
Reconstrução Timorense (CNRT), de Xanana Gusmão.
O Retiro Nacional de Viqueque
contou com a presença dos dirigentes dos órgãos nacionais e subnacionais do
partido, as organizações filiadas, sociais e profissionais e ainda dirigentes e
militantes dos "aliados", nomeadamente o PD e o PUDD.
A reunião analisou o desempenho
do partido nas eleições legislativas de 2017 e a eleição antecipada de 2018,
deixando várias recomendações à Comissão Política Nacional e ao Comité Central.
Além da necessidade de
"formação político-patriótica dos militantes e quadros do partido", o
retiro recomendou a "reorganização das estruturas" partidárias e
aumentar o contacto com o eleitorado, especialmente os jovens.
"Envolvimento dos militantes
em atividades produtivas, com vista a melhorar as fontes de rendimento do
agregado familiar" e "manter a postura de diálogo tendo em vista
ampliar a inclusão para reforçar a democracia" foram outras recomendações.
O Retiro Nacional conclui-se com
uma cerimónia comemorativa do 44º aniversário da Fretilin.
ASP // MCL
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