Eleitores do arquipélago no
Pacífico Sul decidem em referendo que território deve continuar atrelado a
Paris. Macron comemora "passo histórico" e agradece voto de confiança.
Os eleitores da Nova Caledônia
decidiram em referendo neste domingo (04/11) que o arquipélago no Oceano
Pacífico Sul deve permanecer anexado à França, que reivindicou o território
como parte de seu império em 1853.
A rejeição à independência foi
confirmada por uma maioria de 56,4% dos votos. A contagem final demonstrou
uma vantagem ampla, ainda que menor do que esperada, para os partidários do
"não". O comparecimento às urnas foi de mais de 80% dos 174 mil
eleitores aptos a votar.
O presidente francês, Emmanuel
Macron, comemorou o resultado do referendo. "Quero expressar meu orgulho
imenso por termos dado juntos esse passo histórico", disse ele em
pronunciamento à nação. "Não há outro caminho senão o diálogo."
"Quero também afirmar meu
orgulho de ser o chefe de Estado da maioria dos cidadãos da Nova Caledônia que
escolheram a França. É um sinal da confiança na República da França, seu futuro
e seus valores", reiterou Macron.
O primeiro-ministro da França,
Édouard Philippe, viajará à Nova Caledônia na segunda-feira, onde se reunirá
com autoridades locais para discutir os planos para o futuro do arquipélago.
O referendo é resultado de um
processo iniciado há décadas com o intuito de devolver poderes a autoridades
locais da Nova Caledônia, um conjunto de ilhas localizado a cerca de 18 mil
quilômetros da França continental e que serve como base estratégica para o país
europeu no Pacífico. O arquipélago possui um quarto das reservas mundiais de
níquel – um componente essencial de produtos eletrônicos.
A votação era considerada um
teste decisivo do sentimento de independência em territórios ultramarinos da
França, após protestos críticos à negligência de Paris terem sido registrados
em locais como a Guiana Francesa, na América do Sul, e o arquipélago de
Mayotte, no Oceano Índico. O governo francês também enfrenta resistência de
nacionalistas que pedem a independência da Ilha da Córsega, no Mar Mediterrâneo,
iniciativa rechaçada por Macron.
A Nova Caledônia tem uma
população de cerca de 270 mil pessoas, entre eles os nativos canacos, que
correspondem a aproximadamente 40% da sociedade, e descendentes europeus, que
são 27%. Alguns temiam que o referendo deste domingo pudesse levar a um
ressurgimento de tensões étnicas que resultaram em confrontos mortais nos anos
1980, contabilizando cerca de 70 vítimas.
A violência no arquipélago levou
ao chamado Acordo de Nouméa, de 1998, que abriu caminho para a crescente autonomia
do território e teve como objetivo corrigir os desequilíbrios econômicos que
estavam por trás das tensões que tomaram a população.
Hoje, a Nova Caledônia tem
controle sobre muitas áreas de seu governo local, embora a defesa, relações
exteriores, Justiça e ensino superior ainda estejam sob a administração de
Paris.
Muitos dos que se opunham à
independência argumentam que o arquipélago ainda é economicamente dependente
dos 1,3 bilhão de euros com que o Estado francês contribui a cada ano.
Outros expressaram preocupação de
que uma Nova Caledônia independente pudesse ser usada pela China para
consolidar ainda mais sua influência no Pacífico. Como exemplo, eles lembraram
os grandes investimentos de Pequim em Vanuatu, um Estado insular muito próximo
da Caledônia que se separou da França em 1980.
RC/afp/ap | Deutsche Welle
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