Pequim, 17 jan (Lusa) - A Human
Rights Watch (HRW) destacou hoje a abolição, na China, do limite de mandatos
para o cargo de presidente como "emblemática da crescente repressão"
no país, em 2018, sob o domínio de Xi Jinping.
A organização de defesa dos direitos
humanos destaca ainda a criação, em março passado, da Comissão Nacional de
Supervisão, que acumula poderes comparados aos do executivo, legislativo ou
judicial, e abrange toda a função pública.
Este novo organismo, criado no
âmbito da campanha anticorrupção lançada pelo presidente chinês, "está
habilitado a deter em regime de isolamento qualquer pessoa que exerça um cargo
público, ao longo de seis meses, sem acesso a um processo justo", denuncia
a HRW.
A organização afirma ainda que as
autoridades chinesas "aumentaram acentuadamente a repressão e abusos
sistemáticos" sobre os 13 milhões de membros das minorias étnicas chinesas
de origem muçulmana uigures e cazaques, na região do Xinjiang, extremo noroeste
do país.
Cerca de um milhão de cazaques e
uigures estão detidos em campos de doutrinação, onde são forçados a criticar o
islão e a sua própria cultura, no Xinjiang, que se converteu num estado
policial, desde que foi palco dos mais violentos conflitos étnicos registados
nas últimas décadas na China, entre os uigures e a maioria han, descreve a HRW.
No ano passado, as autoridades
chinesas continuaram também a perseguição aos advogados que defendem causas
consideradas sensíveis pelo Governo e aos ativistas pelos direitos humanos,
iniciada em julho de 2015.
A organização revela como estes
têm enfrentado detenções e prisões arbitrárias, citando vários casos de
ativistas condenados por "subversão contra o poder do Estado".
As autoridades chinesas promovem
confissões forçadas - com recurso a tortura - e transmissões de julgamentos
pelos 'media' e pelas redes sociais, negando ainda os direitos de escolha de
advogados aos detidos, relata a organização.
O ambiente cada vez mais
repressivo na China coincide com a nova vocação internacionalista do país,
materializada no gigantesco plano de infraestruturas 'uma faixa, uma rota', que
visa conectar o sudeste Asiático, Ásia Central, África e Europa, e é vista como
uma versão chinesa do 'Plano Marshall', lançado pelos Estados Unidos após a
Segunda Guerra Mundial, e que permitiu a Washington criar a fundação de
alianças que perduram até hoje.
A HRW considera que a iniciativa
tem alimentado a má gestão autocrática em vários países do mundo.
"Ao manter as práticas de
longa data de Pequim, os empréstimos concedidos no âmbito da [iniciativa] 'uma
faixa, uma rota' vêm com condições invisíveis, tornando Pequim um credor de
preferência para autocratas", lê-se no relatório.
Bancos estatais e outras
instituições da China estão a conceder enormes empréstimos para projetos
lançados no âmbito daquele plano, mas críticos da iniciativa apontam para um
aumento problemático do endividamento, que em alguns casos coloca os países
numa situação financeira insustentável.
No Sri Lanka, um porto de águas
profundas construído por uma empresa estatal chinesa, numa localização
estratégica no Índico, revelou-se um gasto incomportável para o país, que teve
de entregar a concessão da infraestrutura e dos terrenos próximos à China, por
um período de 99 anos.
Na sequência do episódio, o
primeiro-ministro da Malásia, Mahathir Mohamad, cancelou projetos apoiados pela
liderança chinesa no seu país e avaliados em mais de 22.000 milhões de dólares
(19.000 milhões de euros).
"A infusão de dinheiro não
escrutinado tornou mais fácil para funcionários corruptos encherem as suas
contas bancárias, enquanto sobrecarregam os seus povos com uma dívida maciça,
para construir infraestruturas que, em muitos casos, beneficiam mais a China do
que a nação que fica endividada", alerta a HRW.
JPI // FPA
Sem comentários:
Enviar um comentário