Díli,
27 mai (Lusa) - Cerca de 350 pessoas assistiram em Díli à apresentação
histórica da obra de teatro Hamlet, num projeto que levará a peça a todo o
planeta e que representou para Timor-Leste a primeira atuação de uma companhia
profissional de teatro.
A
iniciativa é da companhia inglesa Shakespeare's Globe que arrancou a 23 de
abril do ano passado, por ocasião do 450º aniversário do nascimento do
dramaturgo inglês, e que pretendia levar a obra, dirigida por Dominic
Dromgoole, a todos os países do planeta.
Desde
que o projeto teve início, a equipa de 16 pessoas - 12 em palco - já viajou
150.926 quilómetros, acrescentando este mês vários outros países e muito mais
quilómetros ao total.
O
modelo da obra leva os atores a irem alternando papéis, um desafio adicional
para um grupo de atores que nunca repete palcos ou cenários, tendo, em cada
apresentação que contactar com públicos completamente diferentes.
Tom
Lawrence, um dos atores, disse à agência Lusa que depois de uma primeira
experiência a levar Hamlet a públicos norte-americanos, a companhia pensou na
ideia, sem precedentes, de apresentar esta obra de Shakespeare em todos os
países do planeta.
"Pensei
que era uma pessoa viajada, quando listava os países onde já tinha estado. Mas
depois comecei isto. E só no último ano fizemos mais de 100. Timor-Leste é o
102º", disse, admitindo que este é um projeto de sonho.
"O
mais fantástico é visitar estes países onde talvez nunca tenham tido contacto
com Shakespeare, ou com formas de teatro muito diferente. Mas depois vemos a
universalidade das palavras de Shakespeare", comentou.
Um
projeto "complicado" que envolve muitas viagens, muitas bagagens -
até agora, dos 'props' do palco ainda só desapareceu uma caveira - e conviver,
permanentemente, com o mesmo grupo de pessoas.
Para
Ladi Emeruwa, outro dos atores, a pergunta mais difícil de responder é sempre
qual têm sido os sítios mais interessantes que a equipa já visitou, num processo
que, como explicou à Lusa, é um "desafio" interessante.
"O
maior desafio é estar em palcos diferentes cada dois dias. Manter a energia
sempre em cima.
Passamos muito tempo a viajar, em aviões, comboios,
autocarros. E depois temos que nos adaptar a cenários totalmente diferentes em
três horas", explicou.
"Mas
isso é o fantástico do projeto também. Já atuámos em cenários de todo o tipo:
grandes salas, em anfiteatros e até em praias. Isso ajuda a manter a frescura da
obra", disse.
Sobre
a assistência, Emeruwa explica que a obra tenta relacionar-se com o público o
que ajuda a perceber diferentes dinâmicas.
"Na
Europa de Leste, por exemplo, as pessoas estavam muito reverentes, mas nas
Caraíbas, por exemplo, o público quase participava muito e ia comentando",
disse.
Para
Phoebe Fildes - uma atriz que tem neste trabalho o seu segundo projeto de
carreira - os atores se sentem como se tivessem ganho a lotaria.
"Sentimos
que é mesmo um emprego de sonho. Permite que cumpramos muitos sonhos de vida ao
mesmo tempo que estamos a fazer algo que amamos em locais lindíssimos em todo o
mundo. É fantástico", contou.
A
diversidade de públicos tem até ajudado a encontrar outras camadas para uma
obra como Hamlet.
"Há
tantos temas em Hamlet - é sobre família, amor, traição, guerra, vingança - que
fala a todos os públicos. E os diferentes públicos levam consigo diferentes
visões. No Quénia, por exemplo, muitos viram nesta peça uma obra que também
fala dos direitos das mulheres, e isso é algo em que eu nunca tinha
pensado", disse.
"A
peça fala de formas diferentes para pessoas diferentes, de formas que nunca
imaginámos", sublinhou.
De
Díli - aonde chegou depois de passagens por Bali (Indonésia), Banguecoque
(Tailândia), Kuala Lumpur (Malásia), Maldivas e Sri Lanka, segue hoje para a
cidade australiana de Geelong, no estado de Victoria.
Para
trás ficaram espetáculos para mais de 70 mil pessoas incluindo em países como a
Somália - onde foram também a primeira companhia internacional a apresentar-se
no palco em 23 anos - ou o Sudão, onde apresentaram a sua obra a mais de 3.000
pessoas.
Entre
os países lusófonos, a obra passou por Belo Horizonte (Brasil) em dezembro do
ano passado, por Lisboa (Portugal) a 5 de janeiro e pelo Teatro Avenida em
Maputo (Moçambique) a 5 de abril. Antecipa-se que os restantes países sejam
visitados no final deste ano.
ASP
// JCS
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