quarta-feira, 27 de maio de 2015

Díli recebe Shakespeare em viagem histórica de Hamlet pelo planeta


Díli, 27 mai (Lusa) - Cerca de 350 pessoas assistiram em Díli à apresentação histórica da obra de teatro Hamlet, num projeto que levará a peça a todo o planeta e que representou para Timor-Leste a primeira atuação de uma companhia profissional de teatro.

A iniciativa é da companhia inglesa Shakespeare's Globe que arrancou a 23 de abril do ano passado, por ocasião do 450º aniversário do nascimento do dramaturgo inglês, e que pretendia levar a obra, dirigida por Dominic Dromgoole, a todos os países do planeta.

Desde que o projeto teve início, a equipa de 16 pessoas - 12 em palco - já viajou 150.926 quilómetros, acrescentando este mês vários outros países e muito mais quilómetros ao total.

O modelo da obra leva os atores a irem alternando papéis, um desafio adicional para um grupo de atores que nunca repete palcos ou cenários, tendo, em cada apresentação que contactar com públicos completamente diferentes.

Tom Lawrence, um dos atores, disse à agência Lusa que depois de uma primeira experiência a levar Hamlet a públicos norte-americanos, a companhia pensou na ideia, sem precedentes, de apresentar esta obra de Shakespeare em todos os países do planeta.

"Pensei que era uma pessoa viajada, quando listava os países onde já tinha estado. Mas depois comecei isto. E só no último ano fizemos mais de 100. Timor-Leste é o 102º", disse, admitindo que este é um projeto de sonho.

"O mais fantástico é visitar estes países onde talvez nunca tenham tido contacto com Shakespeare, ou com formas de teatro muito diferente. Mas depois vemos a universalidade das palavras de Shakespeare", comentou.

Um projeto "complicado" que envolve muitas viagens, muitas bagagens - até agora, dos 'props' do palco ainda só desapareceu uma caveira - e conviver, permanentemente, com o mesmo grupo de pessoas.

Para Ladi Emeruwa, outro dos atores, a pergunta mais difícil de responder é sempre qual têm sido os sítios mais interessantes que a equipa já visitou, num processo que, como explicou à Lusa, é um "desafio" interessante.

"O maior desafio é estar em palcos diferentes cada dois dias. Manter a energia sempre em cima. Passamos muito tempo a viajar, em aviões, comboios, autocarros. E depois temos que nos adaptar a cenários totalmente diferentes em três horas", explicou.

"Mas isso é o fantástico do projeto também. Já atuámos em cenários de todo o tipo: grandes salas, em anfiteatros e até em praias. Isso ajuda a manter a frescura da obra", disse.

Sobre a assistência, Emeruwa explica que a obra tenta relacionar-se com o público o que ajuda a perceber diferentes dinâmicas.

"Na Europa de Leste, por exemplo, as pessoas estavam muito reverentes, mas nas Caraíbas, por exemplo, o público quase participava muito e ia comentando", disse.

Para Phoebe Fildes - uma atriz que tem neste trabalho o seu segundo projeto de carreira - os atores se sentem como se tivessem ganho a lotaria.

"Sentimos que é mesmo um emprego de sonho. Permite que cumpramos muitos sonhos de vida ao mesmo tempo que estamos a fazer algo que amamos em locais lindíssimos em todo o mundo. É fantástico", contou.

A diversidade de públicos tem até ajudado a encontrar outras camadas para uma obra como Hamlet.

"Há tantos temas em Hamlet - é sobre família, amor, traição, guerra, vingança - que fala a todos os públicos. E os diferentes públicos levam consigo diferentes visões. No Quénia, por exemplo, muitos viram nesta peça uma obra que também fala dos direitos das mulheres, e isso é algo em que eu nunca tinha pensado", disse.

"A peça fala de formas diferentes para pessoas diferentes, de formas que nunca imaginámos", sublinhou.

De Díli - aonde chegou depois de passagens por Bali (Indonésia), Banguecoque (Tailândia), Kuala Lumpur (Malásia), Maldivas e Sri Lanka, segue hoje para a cidade australiana de Geelong, no estado de Victoria.

Para trás ficaram espetáculos para mais de 70 mil pessoas incluindo em países como a Somália - onde foram também a primeira companhia internacional a apresentar-se no palco em 23 anos - ou o Sudão, onde apresentaram a sua obra a mais de 3.000 pessoas.

Entre os países lusófonos, a obra passou por Belo Horizonte (Brasil) em dezembro do ano passado, por Lisboa (Portugal) a 5 de janeiro e pelo Teatro Avenida em Maputo (Moçambique) a 5 de abril. Antecipa-se que os restantes países sejam visitados no final deste ano.
ASP // JCS

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