quarta-feira, 20 de maio de 2015

O DINÂMICO MERCADO DE RETALHO DE DÍLI ONDE NÃO FALTA QUASE NADA


Díli, 19 mai (Lusa) - A 'grande crise da água tónica' de 2014 ou a recente da cebola - produtos esgotados várias semanas - são exemplos cada vez menos frequentes das carências do crescente mercado de retalho que é Díli, em Timor-Leste.

Desde os preços mais caros de lojas de roupa como a Timor Chic ou a de produtos para casa da Abode até ao 'mercado do arame' - onde se podem comprar peças de roupa em segunda mão a um dólar -, há hoje produtos para todos os gostos e todos os bolsos.

Pelo menos em Díli, onde o crescente poder de compra da população se evidencia na explosão de lojas, restaurantes, centros de ócio e até locais de massagens que têm crescido apesar da redução no número de estrangeiros (mais bem pagos) a viver no país.

A variedade dos produtos oferecidos aumentou exponencialmente nos últimos anos e hoje há praticamente tudo à venda em Díli.

Há muitos supermercados, aqui também com grande variedade de preços e de produtos em oferta.

Há os que se especializam em produtos portugueses - pode-se comprar fiambre e presunto fatiado - ou que vendem linha branca de supermercados de Portugal ou da Austrália, os que são dominados por produtos da Indonésia, ou que trazem 'mimos' de avião de Singapura - como morangos a 18 dólares a caixinha.

Há produtos da Austrália, produtos chineses (são grande parte das lojas) e até um supermercado que quase só vende produtos sul coreanos. Em muitos, os prazos de validade são curtos ou muito curtos.

Não falta vinho português e australiano a preços proibitivos para a maioria dos bolsos e lojas de eletrodomésticos e até produtos como telemóveis de última geração.

Nenhum supermercado tem tudo e, por isso, completar o cabaz de compras em Díli implica visitar vários espaços comerciais.

A que se acrescenta depois a compra de verduras e frutas, nos mercados tradicionais - onde há preço de estrangeiro e preço de timorense - ou nos vendedores ambulantes que as transportam, penduradas num pau de bambu que carregam sobre os ombros.

Paralelamente às lojas, floresce o mercado mais tradicional, especialmente de produtos agrícolas e peixe, com vendedores a montarem bancas improvisadas em vários locais, lutando contra os esforços das autoridades regularem a venda em locais próprios.

É o caso da Avenida de Portugal, onde estão localizadas grande parte das embaixadas e residências diplomáticas e de membros do Governo e onde, diariamente, se instalam dezenas de pessoas a vender peixe, sobre folhas de palmeira e com um pequeno abanador para afastar as moscas.

Mas até aqui as mudanças se começam a sentir: já se vê, por exemplo, chegar um comerciante chinês que traz peixe congelado, importado de outros países e que passa aos vendedores que o colocam, como se tivesse sido acabado de pescar, no parapeito do passadiço onde, ao final da tarde passeiam famílias e jovens fazem jogging.

No final do dia de trabalho, é ali que se podem ver muitas 'kareta Estado' (os carros do Estado) e outros veículos privados a comprar peixe que depois levam até casa pendurados nos espelhos laterais ou no limpa-para-brisas.

Com bastante vitalidade está também o mercado de compra e venda privada, especialmente entre estrangeiros que usam as redes sociais para se desfazer ou para adquirir viaturas, bens de casa ou outros produtos.

São as mesmas redes sociais que servem como fonte imediata, em tempo real, de informação sobre o que há para venda ou de como e onde adquirir certo bem ou produto.

O impacto do setor de comércio, a grosso e a retalho (a par da construção) evidencia-se nas estatísticas económicas: são os maiores empregadores e maiores geradores de rendimentos da economia não-petrolífera do país.

Em conjunto estes dois setores representam mais de 75% do rendimento total da economia não petrolífera timorense que ascende a cerca de 1,85 mil milhões de dólares (1,65 mil milhões de euros).

Determinar exatamente como se tem comportado o mercado de retalho, especialmente pelo efeito deturpador da inclusão nas estatísticas da importação de moedas, fabricadas em Portugal, e de notas, dos Estados Unidos, obriga a algumas contas.

Excluindo este valor de importações - 268 milhões em moedas e 188 milhões em notas - Timor-Leste importou em 2014 bens no valor de 529 milhões de dólares em 2014 (exportou 14 milhões e reexportou 78 milhões).

Sobra um défice de 437 milhões, evidente nas lojas do grande 'centro comercial' que é Díli.

ASP // VM

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