Díli,
19 mai (Lusa) - A 'grande crise da água tónica' de 2014 ou a recente da cebola
- produtos esgotados várias semanas - são exemplos cada vez menos frequentes das
carências do crescente mercado de retalho que é Díli, em Timor-Leste.
Desde
os preços mais caros de lojas de roupa como a Timor Chic ou a de produtos para
casa da Abode até ao 'mercado do arame' - onde se podem comprar peças de roupa
em segunda mão a um dólar -, há hoje produtos para todos os gostos e todos os
bolsos.
Pelo
menos em Díli, onde o crescente poder de compra da população se evidencia na
explosão de lojas, restaurantes, centros de ócio e até locais de massagens que
têm crescido apesar da redução no número de estrangeiros (mais bem pagos) a
viver no país.
A
variedade dos produtos oferecidos aumentou exponencialmente nos últimos anos e
hoje há praticamente tudo à venda em Díli.
Há
muitos supermercados, aqui também com grande variedade de preços e de produtos
em oferta.
Há
os que se especializam em produtos portugueses - pode-se comprar fiambre e
presunto fatiado - ou que vendem linha branca de supermercados de Portugal ou
da Austrália, os que são dominados por produtos da Indonésia, ou que trazem 'mimos'
de avião de Singapura - como morangos a 18 dólares a caixinha.
Há
produtos da Austrália, produtos chineses (são grande parte das lojas) e até um
supermercado que quase só vende produtos sul coreanos. Em muitos, os prazos de
validade são curtos ou muito curtos.
Não
falta vinho português e australiano a preços proibitivos para a maioria dos
bolsos e lojas de eletrodomésticos e até produtos como telemóveis de última
geração.
Nenhum
supermercado tem tudo e, por isso, completar o cabaz de compras em Díli implica
visitar vários espaços comerciais.
A
que se acrescenta depois a compra de verduras e frutas, nos mercados
tradicionais - onde há preço de estrangeiro e preço de timorense - ou nos
vendedores ambulantes que as transportam, penduradas num pau de bambu que
carregam sobre os ombros.
Paralelamente
às lojas, floresce o mercado mais tradicional, especialmente de produtos
agrícolas e peixe, com vendedores a montarem bancas improvisadas em vários
locais, lutando contra os esforços das autoridades regularem a venda em locais
próprios.
É
o caso da Avenida de Portugal, onde estão localizadas grande parte das
embaixadas e residências diplomáticas e de membros do Governo e onde, diariamente,
se instalam dezenas de pessoas a vender peixe, sobre folhas de palmeira e com
um pequeno abanador para afastar as moscas.
Mas
até aqui as mudanças se começam a sentir: já se vê, por exemplo, chegar um
comerciante chinês que traz peixe congelado, importado de outros países e que
passa aos vendedores que o colocam, como se tivesse sido acabado de pescar, no
parapeito do passadiço onde, ao final da tarde passeiam famílias e jovens fazem
jogging.
No
final do dia de trabalho, é ali que se podem ver muitas 'kareta Estado' (os
carros do Estado) e outros veículos privados a comprar peixe que depois levam
até casa pendurados nos espelhos laterais ou no limpa-para-brisas.
Com
bastante vitalidade está também o mercado de compra e venda privada,
especialmente entre estrangeiros que usam as redes sociais para se desfazer ou
para adquirir viaturas, bens de casa ou outros produtos.
São
as mesmas redes sociais que servem como fonte imediata, em tempo real, de
informação sobre o que há para venda ou de como e onde adquirir certo bem ou
produto.
O
impacto do setor de comércio, a grosso e a retalho (a par da construção)
evidencia-se nas estatísticas económicas: são os maiores empregadores e maiores
geradores de rendimentos da economia não-petrolífera do país.
Em
conjunto estes dois setores representam mais de 75% do rendimento total da
economia não petrolífera timorense que ascende a cerca de 1,85 mil milhões de
dólares (1,65 mil milhões de euros).
Determinar
exatamente como se tem comportado o mercado de retalho, especialmente pelo
efeito deturpador da inclusão nas estatísticas da importação de moedas,
fabricadas em Portugal, e de notas, dos Estados Unidos, obriga a algumas
contas.
Excluindo
este valor de importações - 268 milhões em moedas e 188 milhões em notas -
Timor-Leste importou em 2014 bens no valor de 529 milhões de dólares em 2014
(exportou 14 milhões e reexportou 78 milhões).
Sobra
um défice de 437 milhões, evidente nas lojas do grande 'centro comercial' que é
Díli.
ASP
// VM
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