Díli,
13 ago (Lusa) - O ex-primeiro-ministro timorense Mari Alkatiri considerou hoje
que a decisão do Presidente da República da Guiné-Bissau demitir o Governo só
descredibiliza o país num momento em que ainda estava a procurar recuperar essa
credibilidade.
"Qualquer
estadista, num momento de desenvolvimento, de criação do Estado, deve saber
sempre encontrar soluções por via do diálogo", disse em entrevista à Lusa.
"Demitir
um Governo eleito depois de pouco mais de um ano de governação, ainda com o
país a procurar credibilidade internacional, só descredibiliza, ajuda a
descredibilizar o país", disse.
Alkatiri,
um dos líderes timorenses que se envolveu diretamente no apoio de Timor-Leste à
Guiné-Bissau antes das últimas eleições legislativas e presidenciais no país,
considera que independentemente das razões do chefe de Estado, nenhuma é maior
que a necessidade do Estado reentrar plenamente na comunidade internacional.
"O
Presidente da República tem naturalmente as suas razões, mas não há nenhuma
razão que supere a necessidade do próprio Estado afirmar-se, nenhuma razão que
possa por em causa a necessidade do Estado afirmar-se com credibilidade a nível
internacional", disse.
Alkatiri
apelou diretamente "às forças de defesa e segurança" para "que
se coloquem à margem disto e que procurem intervir para trazer de novo os
políticos à mesa".
Mari
Alkatiri comentava a decisão do Presidente da República da Guiné-Bissau, José
Mário Vaz, demitir o Governo liderado por Domingos Simões Pereira, segundo um
decreto presidencial lido às 23:10 de quarta-feira (00:10 em Lisboa) na Rádio
Difusão Nacional.
Timor-Leste
foi um dos países que mais se envolveu no apoio à Guiné-Bissau depois do último
golpe de Estado, tendo canalizado mais de 10 milhões de dólares para o processo
eleitoral e para apoio ao executivo.
Os
principais líderes timorenses envolveram-se pessoalmente no processo com
figuras como Xanana Gusmão, Mari Alkatiri e José Ramos-Horta a intervirem
diretamente.
"Para
nós é ainda mais chocante porque acreditamos que tudo iria mudar. Não pela
nossa intervenção mas porque a população estava a viver com muito entusiamo
essas mudanças", disse Mari Alkatiri.
"O
facto de termos conseguido em conjunto com os guineenses, iniciar o processo de
profissionalização das formas armadas e de segurança, já é um dado muito
importante para a estabilização do país", afirmou.
Mari
Alkatiri critica o facto de terem sido "políticos a tomar decisões desta
forma", afirmando que deveria ter sido procurado uma solução de diálogo, e
recordou as "lições" que Timor-Leste aprendeu depois das suas
próprias convulsões internas, nomeadamente em 2006.
"Em
Timor-Leste num curto espaço de tempo, passámos por experiências amargas em
2006. Mas aprendemos rapidamente a ultrapassar esta crise de querer o poder a
todo o custo e passar a assumir uma postura de que o estado ainda está em
construção e de que para se construir precisa de todos", disse.
ASP
// PJA
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