Díli,
14 ago (Lusa) - O secretário-geral da Fretilin admitiu hoje que a recusa de
Portugal em reconhecer a declaração unilateral de independência de Timor-Leste
feita pelo seu partido em 1975 acabou por ser positiva para o processo de
independência.
"Se
Portugal tivesse reconhecido a independência proclamada naquele período, se
calhar teria tido menos possibilidade de aparecer como negociador junto das
Nações Unidas, como potência administrante", disse Mari Alkatiri, em
entrevista à Lusa.
"Não
havendo esse elemento de potência administrante a nossa luta teria sido
vitoriosa também, estou convencido disso, mas teria tido outro caminho",
afirmou o líder da Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente
(Fretilin), segundo partido timorense.
Após
a guerra civil de alguns meses, entre a Fretilin e a União Democrática
Timorense (UDT), a 28 de novembro de 1975 - dois dias depois de completar 26
anos -, Mari Alkatiri integrou o grupo de dirigentes do seu partido que
declaram unilateralmente a independência de Timor-Leste.
Portugal,
as Nações Unidas e a generalidade da comunidade internacional não reconheceram
a declaração de independência feita pela Fretilin e o processo de
descolonização foi interrompido dias depois, na sequência da invasão do
território pela Indonésia, a 07 de dezembro.
"Apesar
de Portugal naquele período todo pós 25 de abril não ter conseguido assumir as
suas responsabilidades, soube manter a sua coerência em considerar-se como
potência administrante legal em Timor até ao referendo (de 1999)", explica
Mari Alkatiri.
"Isso
criou condições para podermos ter tido a saída que tivemos, que significou
claramente a reposição da legalidade internacional em Timor-Leste",
sublinha na entrevista que coincide com o 500.º aniversário, assinalado sábado,
da chegada a Timor-Leste dos primeiros missionários e navegadores portugueses.
Junto
das Nações Unidas Portugal continuou a ser reconhecido como potência
administrante de um "território não autogovernado".
Isso
permitiu a Portugal ser o principal farol diplomático em defesa da
autodeterminação timorense, levando em 1999 à negociação com a Indonésia, sob
os auspícios do então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, do acordo, assinado
a 05 de maio, que permitiu o referendo de 30 de agosto desse ano.
Os
timorenses votaram amplamente a favor da independência que acabou por ser
reconhecida formalmente pela comunidade internacional a 20 de maio de 2002,
data que para Timor-Leste continua a ser a da "restauração da
independência". Mari Alkatiri tornou-se o primeiro primeiro-ministro do
país.
Desde
aí, sublinha Mari Alkatiri, apesar de "alguns percalços aqui e acolá"
as relações entre Timor-Leste e Portugal "têm sido boas" não havendo
razões para serem o contrário.
"Assim
como não se devia confundir o regime colonial português com o povo português,
com Portugal, também não se deve confundir essa relação entre os dois povos,
com poderes políticos que foram passando", disse.
"Há
um consenso nacional, de cada partido politico e instituição séria em Portugal
olhar para Timor como um país irmão. Mas quem governa um país tem que saber
naquele momento certo da sua governação, qual o interesse desse país",
afirmou.
ASP
// EL
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