Lisboa,
22 jan (Lusa) - O dirigente socialista português António Vitorino afirmou hoje
à agência Lusa que o Brasil tem "uma visão muito instrumental da
CPLP", que vai além da organização lusófona e que não a tem como
prioridade na política externa.
"O
Brasil tem alguma visão muito instrumental da CPLP [Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa], porque tem uma agenda global que vai para além da CPLP e
que não a tem como prioridade", afirmou o também antigo comissário europeu
para os Assuntos Internos e antigo ministro da Defesa português.
O
dirigente socialista e ainda advogado falava à Lusa após ter dado uma aula na
nova School of Bussiness and Economics, ligada à Universidade Nova de Lisboa,
sobre o "Potencial Económico da Língua Portuguesa na Lusofonia",
iniciativa que começou quarta-feira e que foi idealizada pelo académico
Bernardo Teotónio Pereira.
Para
Vitorino, é "importante" que os restantes Estados membros da
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) "também façam
compreender ao Brasil" que "não há nenhuma incompatibilidade entre
essa agenda global e a afirmação da CPLP".
"Mais,
que (também o façam compreender que), em muitas circunstâncias, o apoio da CPLP
a algumas das pretensões legítimas do Brasil, como a de fazer do Português
língua oficial das Nações Unidas, ou até poder vir a ter, no quadro da reforma
da ONU, um lugar no Conselho de Segurança, são objetivos que podem ser
partilhados pelo conjunto dos países da CPLP e que reforçam a própria posição
brasileira", disse.
Sobre
o potencial da comunidade lusófona - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste -,
Vitorino destacou as dimensões "ainda por explorar", que passam pela
afirmação da cidadania, pela promoção do setor económico e pela aposta na parte
política.
"A
CPLP tem dimensões por explorar, desde logo no plano da cidadania, que é um
ponto importante da realidade de entrosamento das sociedades no plano da
liberdade de circulação e da capacidade de fixação nos vários países
lusófonos", disse.
No
plano económico, acrescentou, há um potencial por explorar ligado às
oportunidades que o mundo global oferece a países que têm em comum a mesma
língua e cultura.
"Mas
também do ponto de vista político, na medida em que a Lusofonia pode e deve
aspirar a ter um protagonismo global e precisa de encontrar a convergência
entre os vários países com agendas distintas, designadamente as regionais ou
mesmo globais, que não passam primordialmente pela CPLP", defendeu.
Questionado
pela Lusa sobre se os 20 anos de vida da CPLP (criada em 1996) não seriam
suficientes para que as três dimensões já estivessem consolidadas, Vitorino
admitiu que as "expectativas" de há duas décadas "não foram
totalmente assistidas".
"É
importante que exista uma comunidade que tenha um valor acrescentado para os
países que a integram e também para o mundo global, mas, obviamente, creio que
as expectativas de há 20 anos não foram totalmente assistidas. A
responsabilidade de dar um novo impulso, tanto político, como económico, como
na cidadania, à CPLP impende sobre os ombros de todos e, designadamente, sobre Portugal",
respondeu.
O
também docente da Universidade Católica criticou ainda a discussão gerada em
torno do Acordo Ortográfico, considerando que "não faz muito
sentido".
"É
uma discussão que não faz muito sentido, até porque as grandes línguas globais
nunca precisaram de acordos ortográficos para se afirmarem. Não creio que a
pujança da Língua Portuguesa esteja na necessidade de um acordo ortográfico. Há
questões muito mais importantes na afirmação da Língua Portuguesa no mundo
digital, por exemplo, que estão muito fora de um contexto de uma discussão que
me parece votada ao malogro sobre um acordo ortográfico", concluiu.
A
terceira edição do mestrado "O Potencial Global do Mundo Lusófono",
totalmente lecionado em Português, termina hoje à tarde com uma aula dada pelo
ex-vice-primeiro-ministro e presidente demissionário do CDS/PP Paulo Portas,
sessão que decorrerá à porta fechada.
JSD
// APN
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