O
líder da Renamo, Afonso Dhlakama, responsabilizou hoje a Frelimo pelo
baleamento do número dois do maior partido de oposição em Moçambique, acusando
a força política no poder de fomentar "terrorismo de estado".
"Acuso
o regime da Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique], a Frelimo tornou-se
num partido terrorista, num estado terrorista - o partido, o regime, o governo.
Nunca vimos isto", afirmou em entrevista por telefone à Lusa Afonso
Dhlakama, nas suas primeiras declarações públicas após o baleamento por
desconhecidos do secretário-geral da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana).
Para
o presidente do maior partido de oposição, o baleamento de Manuel Bissopo,
ocorrido na quarta-feira na cidade da Beira, pode levar a uma mudança no tom do
discurso político e ao agravamento da atual crise política, mas afastou um
cenário de guerra.
"Posso
acreditar que a situação pode deteriorar-se, mas não há guerra", afirmou
Dhlakama, declarando que estava a falar a partir da Gorongosa, onde
alegadamente se encontra refugiado desde o cerco da polícia à sua residência na
Beira, a 09 de outubro, não sendo visto em público desde então.
O
crime de que Manuel Bissopo foi vítima, disse o líder da oposição, foi
testemunhado por beirenses "e todos ficaram furiosos, quiseram partir
casas dos membros da Frelimo", obrigando, no seu relato, a que os
dirigentes do partido dissessem "não é por aí".
Afonso
Dhlakama observou que ele próprio foi vítima de duas emboscadas na província de
Manica em setembro passado, além do cerco à sua residência, e que não foi isso
que levou a um cenário de confrontação aberta.
"Claro
que todos estão com nervos e dizem-me 'presidente, tem de agir', as pessoas
querem pegar e cortar pescoços dos [quadros] da Frelimo", referiu
Dhlakama, assegurando que desincentiva retaliações e apenas apela ao partido no
poder para parar com episódios de violência contra a oposição.
Renamo
e Frelimo têm trocado nas últimas semanas acusações de raptos e assassínios dos
seus quadros no centro do país, mas Dhlakama diz que qualquer imputação ao seu
partido não passa de "mentira e propaganda".
"Eu
sou cristão, dirijo este partido e não temos isso de assassinar alguém, não
odiamos ninguém da Frelimo, não temos um inimigo apontado que é o tal fulano, é
o regime que odiamos", salientou o presidente da Renamo.
Em
contrapartida, atribui à Frelimo episódios de raptos e assassínios de elementos
da Renamo, lembrando que o próprio Bissopo denunciara essas situações no dia em
que foi baleado.
"A
minha preocupação não é só porque balearam o secretário-geral da Renamo, já é
uma onda em que oficialmente estão a raptar e a matar os moçambicanos e aqueles
que estão a fazer política e a criticar a Frelimo são alvos neste país",
defendeu.
O
líder da oposição assinalou que, durante a guerra civil de 16 anos,
"podiam raptar população ou matar homens da Renamo, mas via-se que eram da
Frelimo", porém, agora, sustentou, estas ações são urdidas nos gabinetes
do poder.
Dhlakama
afirmou que nem vale a pena pedir ao Presidente da República que persiga os
culpados, reiterando a acusação de que foi o próprio Filipe Nyusi que ordenou
as alegadas emboscadas em Manica.
Essa
ordem, prosseguiu, é demonstrada pela recolha de armas supostamente usadas
pelas forças de defesa e segurança no segundo tiroteio em Manica, quando a
polícia cercou a casa do líder da Renamo na Beira.
Segundo
o líder da oposição, o baleamento do número dois do seu partido acontece numa
fase em que Dhlakama está "caladinho" e recolhido na Gorongosa e
"o secretário-geral é como se fosse o presidente" que importava
silenciar.
"Apelo
ao regime da Frelimo para parar, é uma pouca vergonha", insistiu Dhlakama,
sustentando que estes episódios são "a mesma tática" usada em
homicídios com contornos políticos, como o economista Siba Siba Macuácua, o
jornalista Carlos Cardoso e o constitucionalista Gilles Cistac.
HB
// PJA - Lusa
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