Pequim,
03 fev (Lusa) - O papa Francisco apelou ao mundo para que "não tema a
ascensão da China", numa entrevista publicada na revista Asia Times em que
aborda o impacto da rápida modernização do país mais populoso do planeta.
"O
medo não é bom conselheiro", disse o Papa argentino ao ser questionado
sobre os desafios gerados pela abertura de um "gigante"
historicamente fechado ao exterior.
"Os
homens e as civilizações tendem a comunicar (...) o mundo ocidental, o oriente
e a China, todos têm a capacidade e a força de manter o equilíbrio da
paz", assinalou o pontífice católico.
A
entrevista, dirigida pelo italiano Francesco Sisci, um especialista nas relações
entre a República Popular da China e a Santa Sé, ocorreu numa sala do Vaticano
decorada com o quadro da Nossa Senhora Desatadora dos Nós.
A
China e a Santa Sé não têm relações diplomáticas e a única igreja católica
autorizada pelo Governo chinês é independente do Vaticano.
Convictamente
ateu e marxista, o Partido Comunista Chinês, que governa o país desde 1949,
proíbe os seus membros - mais de 80 milhões - de seguir qualquer religião.
Questionado
sobre a política do "filho único", um rígido controlo da natalidade
que vigorou na China desde 1980 até ao início deste ano, o Papa qualificou-a de
"dolorosa".
"A
pirâmide está invertida e uma criança tem de suportar o encargo de seus pais e
avós. É exaustivo, exigente e desorientador. Não é a forma natural", sublinhou.
Sobre
as profundas alterações na sociedade chinesa, em resultado do trepidante
desenvolvimento que transformou em três décadas um país pobre numa potência
económica, o Papa lembrou que "o povo chinês está a avançar".
"É
necessário reconhecer a grandeza do povo chinês, que sempre conservou a sua
cultura. E a sua cultura - e não falo de ideologias que existiram no passado -
não lhes foi imposta", referiu.
"Acredito
que a grande riqueza da China hoje é olhar para o futuro a partir de um
presente que é sustentado pela memória do seu passado cultural",
acrescentou.
Oficialmente,
o número de cristãos na China continental rondará os 23 milhões, a maioria dos
quais protestantes, o que não chega a 2% da população - 1.374 milhões de
habitantes, ou cerca de 18% da humanidade.
Fontes
ocidentais estimam que haja "dezenas de milhões" de outros cristãos
ligadas às chamadas "igrejas clandestinas".
Nas
vésperas do país celebrar o Ano Novo Lunar, a grande festa que reúne as
famílias chinesas, o Papa enviou ainda os melhores votos e cumprimentos ao povo
e ao Presidente chinês, Xi Jinping.
"O
mundo espera pela vossa sabedoria", concluiu, na primeira mensagem em dois
mil anos enviada por um Papa a um líder chinês por altura do Ano Novo Lunar.
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