Díli, 17 abr (Lusa) - Um estudo
australiano demonstrou que Timor-Leste tem um dos índices mais elevados de
doença cardíaca reumática do mundo, com a maioria dos casos por diagnosticar,
até que crianças e jovens desenvolvem graves problemas.
"Fiquei e continuo a ficar
surpreendido pela prevalência e pelo número de casos que encontro. A
prevalência é das mais elevadas do mundo", disse à Lusa Josh Francis, da
Menzies School of Health Research, sediada em Darwin, e que liderou o estudo.
Em Díli, onde equipas de
investigadores, médicos e pediatras timorenses e australianos estão a conduzir
uma segunda fase do estudo, Francis afirmou que apesar da doença poder ser
prevenida e tratada, muitos dos casos tardam em ser diagnosticados.
A doença começa com uma infeção, que
pode ser tratada facilmente se detetada a tempo, mas pode degenerar e causar
graves problemas ao paciente, incluindo danos às válvulas do coração.
Hoje, os jovens da Escola do
Sagrado Coração de Jesus, em Becora, um dos bairros mais populosos da capital
timorense, está a ser testado com máquinas portáteis de ecocardiograma,
incluindo as mais recentes que são do tamanho de um 'smartphone'.
Tecnologia que apesar de cara
permite detetar com muito mais eficácia, em mais locais e em regiões mais
isoladas, uma doença que, outrora, só era detetada com o estetoscópio,
instrumento que podia deixar escapar "até metade dos casos".
É a segunda fase de um estudo que
já demonstrou que Timor-Leste tem um dos índices mais elevados de doença
cardíaca reumática do mundo, com uma em cada 28 pessoas afetadas, com o número
a ser ainda mais elevado (uma em 20) entre raparigas.
Da responsabilidade de uma equipa
de especialistas australianos e timorenses, o estudo foi encomendado pela
organização East Timor Hearts Fund e envolveu a Menzies School of Health
Research e o Telethon Kids Institute.
O trabalho, publicado na última
edição do Medical Journal of Australia, envolveu mais de 1.400 crianças em
idade escolar em Díli e Ermera e representou a primeira análise de sempre à
prevalência da doença no país.
Os dados confirmaram uma
prevalência da doença de 3,5%, entre os mais elevados do mundo, sendo que a
quase totalidade dos casos identificados não tinham, até então, sido
diagnosticados.
Os valores podem ser ainda mais
elevados já que muitos casos podem não ser diagnosticados e algumas das
crianças afetadas podem não ter ido à escola na altura em que o estudo estava a
ser feito.
Daí que os investigadores tenham
querido ampliar a base de análise regressado a Timor-Leste para, esperam,
estudar entre 2.500 e 3.000 jovens, os primeiros na escola de Becora.
A maior parte dos casos da doença
começa com um episódio de faringite estreptocócica ou outra infeção que, por
diagnóstico desadequado ou falta de tratamento, acaba por levar a febre reumática,
uma doença inflamatória que pode afetar o coração, articulações, pele e
cérebro.
Em cerca de metade dos casos, a
doença afeta o coração, causando lesões nas válvulas cardíacas, condição
denominada por doença cardíaca reumática.
Globalmente, a doença - que pode
ser prevenida e tratada - afeta mais de 32 milhões de pessoas, sendo
responsável por cerca de 275 mil mortes por ano, de acordo com dados da World
Heart Federation.
A desnutrição e a pobreza são
alguns dos principais fatores de risco da doença que é mais prevalente em
países em vias de desenvolvimento e entre povos indígenas em países
desenvolvidos.
"Aqui há duas questões,
primeiro a prevenção: a doença é causada por infeções e por isso é essencial
melhorar o acesso aos serviços de saúde, melhor o tratamento de infeções
comuns. Depois podemos trabalhar nas escolas, ajudar médicos e enfermeiros
timorenses para poderem detetar melhor estes casos", afirmou Francis.
O investigador explicou que a
equipa está a trabalhar com as autoridades timorenses, incluindo o Ministério
da Saúde, para tentar definir um eventual plano de ação para lidar com o
problema.
ASP
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