sexta-feira, 12 de junho de 2015

Livraria Portuguesa de Macau, um projeto que fez nascer um festival literário


Macau, China, 11 jun (Lusa) -- A Praia Grande Edições pretende continuar a explorar a Livraria Portuguesa de Macau, que hoje celebra 30 anos, um projeto gratificante, mas "economicamente pouco compensador" que anda de mãos dadas com um festival literário.

"O facto de a termos começado a gerir [em 2011] levou-nos a concluir que faltava um evento em que a literatura fosse de facto o tema central e hoje, realmente, o festival preenche boa parte dos projetos que fazemos muito a pensar na livraria enquanto polo dinamizador e de divulgação da leitura e da literatura", afirmou o proprietário da editora, Ricardo Pinto.

O Rota das Letras teve a sua primeira edição em 2012, sensivelmente um ano depois de a Praia Grande Edições, que publica o jornal Ponto Final e a revista Macau Closer, ter iniciado a exploração da Livraria Portuguesa, propriedade do Instituto Português do Oriente (IPOR).

A Livraria Portuguesa, privilegiadamente localizada no centro da cidade, figura como dos raros espaços onde se vendem obras em português na Ásia.

"Tem sido um trabalho muito intenso e gratificante que do ponto de vista económico é muito pouco compensador, desde logo porque o próprio negócio livreiro está em crise", fator agravado pela distância, dado os custos inerentes nomeadamente ao transporte, observou à Lusa Ricardo Pinto.

"Não é um negócio fácil. Paga o investimento em livros, as despesas, mas o lucro é marginal". Contudo, "com a ligação que criámos ao festival, tudo isso é tão gratificante e rico em termos da nossa participação na promoção do livro que só isso justifica".

"Do ponto de vista da realização, de facto, é muito bom e daí que apesar das dificuldades estejamos empenhadíssimos em continuar", realçou, adiantando que uma decisão sobre a concessão, atribuída por cinco anos, que termina a 31 de março de 2016, "não deve tardar".

"Tornar acessível ao público de Macau boa parte do que melhor se publica em Portugal e na generalidade dos países lusófonos" continua a ser o objetivo de um espaço que é "um pouco mais do que uma livraria".

"Tem sido bom também dinamizá-la a outros níveis nomeadamente através de lançamentos, conversas com escritores, de exposições" através da galeria da Livraria Portuguesa que, inclusive, acolheu, ao final do dia, o lançamento de uma obra trilingue sobre os restaurantes portugueses de Macau.

Ricardo Pinto nota, porém, como "muito positivo" o surgimento de "uma série de espaços com essa vocação", o que levou a que, nos últimos dois anos, "o esforço não tenha sido tão intenso".

"Mas vamos continuar sempre a procurar que a nossa atividade em termos da promoção do livro não se cinja ao festival, e prossiga ao longo do ano", sublinhou.

Alargar a oferta foi uma das metas traçadas por Ricardo Pinto. Primeiro em relação à literatura em português, "porque havia muitos autores -- sobretudo mais jovens -- que estavam pouco presentes" e, depois, "um esforço, também na sequência do festival, de ter, tanto quanto possível, a literatura lusófona muito bem representada", explicou, sem esconder que também gostava de ter oferecer maior escolha em língua inglesa.

Já "prioridade imediata, na medida do que é possível", continua a ser ter nos escaparates autores chineses traduzidos em português.

"Vamos tentar também dar o nosso próprio contributo para que isso se torne mais frequente", realçou, avançando que comprou os direitos para publicação em português da obra "Uma cidade chamada A-Ma", sobre Macau, da escritora Yan Geling, convidada do festival de 2014, a qual prevê lançar na próxima edição do Rota das Letras.

O desejo antigo de uma livraria-café também continua presente: "É algo que continuamos a considerar como viável, que faria sentido e que poderia também atrair mais público".

DM // APN

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