sexta-feira, 12 de junho de 2015

Exposição de Ai Weiwei em Pequim "poderá anunciar uma nova era", diz jornal do PC chinês


Pequim, 11 jun (Lusa) - Um jornal do Partido Comunista Chinês indicou hoje que a exposição de Ai Weiwei patente em Pequim "poderá anunciar uma nova era" nas relações entre o governo e o artista, conhecido internacionalmente como um crítico do regime.

"Talvez tenha chegado à altura de virar uma página na controvérsia política em torno de Ai Weiwei", disse o Global Times, um jornal do grupo Diário do Povo, o órgão central do PCC.

Num editorial sobre a exposição daquele artista plástico inaugurada no sábado passado em Pequim, o jornal afirma que o ambiente atual no país "é diferente" de há quatro anos, quando Ai Weiwei esteve 81 dias na prisão.

"Não se pode separar a arte da ideologia, mas se a arte for produzida apenas para servir uma ideologia será efémera. A relação entre os artistas e a política deve ser comedida", diz o Global Times.

Ai Weiwei, 57 anos, foi detido em abril de 2011 no aeroporto de Pequim, quando ia embarcar para Hong Kong, e posteriormente acusado de evasão fiscal.

Quatro anos depois, ainda está impedido de sair na China, mas continuou a dar entrevistas.

A inauguração da referida exposição - uma instalação que ocupa o espaço de duas galerias e que reproduz um antigo templo construído em madeira - atraiu centenas de pessoas. Várias galerias chinesas têm apresentado obras de Ai Weiwei, mas esta exposição individual, patente até 06 de setembro, é a primeira do género, inteiramente concebida e organizada pelo artista na capital da China.

Durante mais de duas horas, Ai Weiwei distribuiu autógrafos e deixou-se fotografar com toda a gente, incluindo outros artistas, que lhe pedia para fazer uma 'selfie' ao seu lado. Às vezes, passavam-lhe o 'smartphone' para a mão e era ele que carregava no botão.

À entrada das duas galerias - a Galleria Continua e a Tang Contemporary Art, no distrito artístico "798", no nordeste de Pequim - eram servidas bebidas e pequenos e coloridos bolos tradicionais, acentuando a atmosfera de romaria.

"A autorização da exposição individual de Ai Weiwei é um gesto importante. O novo começo é também uma oportunidade", assinala o editorial do Global Times.

Filho do consagrado poeta Ai Qing (1910-1996), Ai Weiwei viveu na década de 1980 nos Estados Unidos, sobretudo Nova Iorque, onde conheceu as obras e intervenções artísticas de Andy Warhol, Marcel Duchamp e grandes nomes das novas vanguardas.

Ai Weiwei foi consultor do atelier suíço que desenhou o Estadio Olímpico de Pequim, conhecido popularmente como "Ninho de Pássaro", mas recusou assistir à cerimónia de abertura dos Jogos, em agosto de 2008: "O governo quer usar estes Jogos para se celebrar a sai própria a si próprio e à sua politica. Não há nada a celebrar", disse.

Há cerca de três semanas, perguntaram-lhe o que faria se as autoridades lhe devolvessem o passaporte: "Iria ver se ainda estava válido", respondeu.

Ai Weiwei acredita, contudo, que o futuro será melhor e que "a internet criou um espaço publico e desenvolveu uma pressão que o governo já não pode ignorar".

"A China está a mudar. A sociedade chinesa está a abrir-se", afirmou Ai Weiwei numa entrevista difundida no dia 20 de maio passado pela revista alemã Spiegel.
AC // APN

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