Pequim,
11 jun (Lusa) - Um jornal do Partido Comunista Chinês indicou hoje que a
exposição de Ai Weiwei patente em Pequim "poderá anunciar uma nova
era" nas relações entre o governo e o artista, conhecido
internacionalmente como um crítico do regime.
"Talvez
tenha chegado à altura de virar uma página na controvérsia política em torno de
Ai Weiwei", disse o Global Times, um jornal do grupo Diário do Povo, o
órgão central do PCC.
Num
editorial sobre a exposição daquele artista plástico inaugurada no sábado
passado em Pequim, o jornal afirma que o ambiente atual no país "é
diferente" de há quatro anos, quando Ai Weiwei esteve 81 dias na prisão.
"Não
se pode separar a arte da ideologia, mas se a arte for produzida apenas para
servir uma ideologia será efémera. A relação entre os artistas e a política
deve ser comedida", diz o Global Times.
Ai
Weiwei, 57 anos, foi detido em abril de 2011 no aeroporto de Pequim, quando ia
embarcar para Hong Kong, e posteriormente acusado de evasão fiscal.
Quatro
anos depois, ainda está impedido de sair na China, mas continuou a dar
entrevistas.
A
inauguração da referida exposição - uma instalação que ocupa o espaço de duas
galerias e que reproduz um antigo templo construído em madeira - atraiu
centenas de pessoas. Várias galerias chinesas têm apresentado obras de Ai
Weiwei, mas esta exposição individual, patente até 06 de setembro, é a primeira
do género, inteiramente concebida e organizada pelo artista na capital da
China.
Durante
mais de duas horas, Ai Weiwei distribuiu autógrafos e deixou-se fotografar com
toda a gente, incluindo outros artistas, que lhe pedia para fazer uma 'selfie'
ao seu lado. Às vezes, passavam-lhe o 'smartphone' para a mão e era ele que
carregava no botão.
À
entrada das duas galerias - a Galleria Continua e a Tang Contemporary Art, no
distrito artístico "798", no nordeste de Pequim - eram servidas
bebidas e pequenos e coloridos bolos tradicionais, acentuando a atmosfera de
romaria.
"A
autorização da exposição individual de Ai Weiwei é um gesto importante. O novo
começo é também uma oportunidade", assinala o editorial do Global Times.
Filho
do consagrado poeta Ai Qing (1910-1996), Ai Weiwei viveu na década de 1980 nos
Estados Unidos, sobretudo Nova Iorque, onde conheceu as obras e intervenções
artísticas de Andy Warhol, Marcel Duchamp e grandes nomes das novas vanguardas.
Ai
Weiwei foi consultor do atelier suíço que desenhou o Estadio Olímpico de
Pequim, conhecido popularmente
como "Ninho de Pássaro", mas recusou assistir à cerimónia de abertura
dos Jogos, em agosto de 2008: "O governo quer usar estes Jogos para se
celebrar a sai própria a si próprio e à sua politica. Não há nada a
celebrar", disse.
Há
cerca de três semanas, perguntaram-lhe o que faria se as autoridades lhe
devolvessem o passaporte: "Iria ver se ainda estava válido",
respondeu.
Ai
Weiwei acredita, contudo, que o futuro será melhor e que "a internet criou
um espaço publico e desenvolveu uma pressão que o governo já não pode
ignorar".
"A
China está a mudar. A sociedade chinesa está a abrir-se", afirmou Ai
Weiwei numa entrevista difundida no dia 20 de maio passado pela revista alemã
Spiegel.
AC
// APN
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