Lisboa,
27 abr (Lusa) - O investidor português Paulo Gorjão criticou hoje a missão de
observação eleitoral da comunidade de países lusófonos às presidenciais de
domingo na Guiné Equatorial, considerando que a presença legitimou uma votação
que "não foi justa nem livre".
Num
artigo de opinião, o também presidente do Instituto Português de Relações
Internacionais e Segurança (IPRIS) lembrou que a conclusão tirada pela missão
de observação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) -
"votação correu de forma ordeira e pacífica" -, "evita a questão
de fundo".
"Como
se constata a partir da leitura da nota, percebe-se rapidamente o intuito que
esteve por detrás do convite do Governo da Guiné Equatorial para que a CPLP
enviasse uma equipa de acompanhamento da votação", afirmou Paulo Gorjão,
notando os 98% dos votos obtidos pelo reeleito Teodoro Obiang Nguema, há 37
anos no poder.
"Como
era de recear, a nota da CPLP de algum modo anda próximo de validar as
presidenciais. Os reparos que faz são menores e evitam a questão de fundo: as
eleições foram livres e justas? Não querendo, ou não podendo, pronunciar-se
sobre a verdadeira questão, o que foi fazer - sem meios, de forma tardia e
insuficiente - uma equipa da CPLP à Guiné Equatorial? Legitimar, com a sua
presença e o seu silêncio cirúrgico, o ato eleitoral?", perguntou o
presidente do IPRIS.
Para
Paulo Gorjão, a resposta é clara, pois, no seu entender, as presidenciais
equato-guineenses "não foram livres e justas", assunto que disse ter
sido ignorado na nota da CPLP, divulgada terça-feira pela agência Lusa.
"(Ao
ignorar a questão, a CPLP) argumentou convenientemente que a missão não
acompanhou o período de campanha eleitoral", referiu o presidente do
IPRIS, frisando também que, "num quadro de fortes limitações
políticas", Obiang foi "certamente reeleito com um resultado apenas
possível na Coreia do Norte".
Paulo
Gorjão mostrou-se agradado com a ausência de representantes de Portugal na
missão de observação eleitoral da CPLP e defendeu que Lisboa "deveria ir
mais longe" e "aproveitar a primeira oportunidade para deixar bem
clara" a sua posição sobre as eleições equato-guineenses.
A
missão, a convite de Malabo, foi chefiada pelo representante permanente de
Timor-Leste junto da CPLP, o embaixador Antonito de Araújo, integrando ainda
diplomatas das representações de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe e ainda por
elementos do secretariado executivo da comunidade.
Ao
aderir à CPLP, em julho de 2014, a Guiné Equatorial aceitou formalmente os
"valores identitários" dos "nove", lembrou Paulo Gorjão,
defendendo que, quase dois anos após a adesão, Malabo "continua com
progressos insuficientes a todos os níveis".
"Altura
mais do que suficiente para se fazer um balanço e para Portugal vincar que a
adesão da Guiné Equatorial à CPLP não isenta o seu Presidente de crítica
pública, por exemplo, quando decorrem eleições que, por mais ordeiras e
pacíficas que tenham sido, não foram livres e justas", terminou.
Às
presidenciais de domingo na Guiné Equatorial, boicotadas pelos principais partidos
da oposição, concorreram sete candidatos.
JSD
// APN
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