quinta-feira, 28 de abril de 2016

Investigador português critica atuação da CPLP nas presidenciais da Guiné Equatorial


Lisboa, 27 abr (Lusa) - O investidor português Paulo Gorjão criticou hoje a missão de observação eleitoral da comunidade de países lusófonos às presidenciais de domingo na Guiné Equatorial, considerando que a presença legitimou uma votação que "não foi justa nem livre".

Num artigo de opinião, o também presidente do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS) lembrou que a conclusão tirada pela missão de observação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) - "votação correu de forma ordeira e pacífica" -, "evita a questão de fundo".

"Como se constata a partir da leitura da nota, percebe-se rapidamente o intuito que esteve por detrás do convite do Governo da Guiné Equatorial para que a CPLP enviasse uma equipa de acompanhamento da votação", afirmou Paulo Gorjão, notando os 98% dos votos obtidos pelo reeleito Teodoro Obiang Nguema, há 37 anos no poder.

"Como era de recear, a nota da CPLP de algum modo anda próximo de validar as presidenciais. Os reparos que faz são menores e evitam a questão de fundo: as eleições foram livres e justas? Não querendo, ou não podendo, pronunciar-se sobre a verdadeira questão, o que foi fazer - sem meios, de forma tardia e insuficiente - uma equipa da CPLP à Guiné Equatorial? Legitimar, com a sua presença e o seu silêncio cirúrgico, o ato eleitoral?", perguntou o presidente do IPRIS.

Para Paulo Gorjão, a resposta é clara, pois, no seu entender, as presidenciais equato-guineenses "não foram livres e justas", assunto que disse ter sido ignorado na nota da CPLP, divulgada terça-feira pela agência Lusa.

"(Ao ignorar a questão, a CPLP) argumentou convenientemente que a missão não acompanhou o período de campanha eleitoral", referiu o presidente do IPRIS, frisando também que, "num quadro de fortes limitações políticas", Obiang foi "certamente reeleito com um resultado apenas possível na Coreia do Norte".

Paulo Gorjão mostrou-se agradado com a ausência de representantes de Portugal na missão de observação eleitoral da CPLP e defendeu que Lisboa "deveria ir mais longe" e "aproveitar a primeira oportunidade para deixar bem clara" a sua posição sobre as eleições equato-guineenses.

A missão, a convite de Malabo, foi chefiada pelo representante permanente de Timor-Leste junto da CPLP, o embaixador Antonito de Araújo, integrando ainda diplomatas das representações de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe e ainda por elementos do secretariado executivo da comunidade.

Ao aderir à CPLP, em julho de 2014, a Guiné Equatorial aceitou formalmente os "valores identitários" dos "nove", lembrou Paulo Gorjão, defendendo que, quase dois anos após a adesão, Malabo "continua com progressos insuficientes a todos os níveis".

"Altura mais do que suficiente para se fazer um balanço e para Portugal vincar que a adesão da Guiné Equatorial à CPLP não isenta o seu Presidente de crítica pública, por exemplo, quando decorrem eleições que, por mais ordeiras e pacíficas que tenham sido, não foram livres e justas", terminou.

Às presidenciais de domingo na Guiné Equatorial, boicotadas pelos principais partidos da oposição, concorreram sete candidatos.

JSD // APN

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