Díli,
26 abr (Lusa) - O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros timorense manifestou-se
hoje preocupado com a instabilidade e apreensão internas causadas pela
indecisão sobre o futuro do comando das forças de defesa, e pelo impacto da
crise na imagem externa do país.
"Sim,
estou preocupado. Espero que as instituições, nomeadamente o senhor Presidente
da República, o Governo e a hierarquia militar possam encontrar uma saída para
esta situação", afirmou José Luis Guterres em declarações à Lusa.
José
Luis Guterres, que foi ministro dos Negócios Estranheiros no V Governo
constitucional - tendo saído do cargo aquando da mudança de Governo no início
de 2015 - é desde aí líder da bancada da Frente Mudança (dois lugares no
Parlamento Nacional).
"O
problema aqui é uma necessidade de discutir o que queremos que as forças
armadas sejam agora e para o futuro. O mais importante é que se encontre uma
saída pra tudoisso", disse.
"Essa
indefinição obviamente que cria instabilidade política, cria também apreensão
da parte da população. Nenhum dos elementos que compõem a hierarquia militar ou
nenhum veterano, incluindo o presidente ou no governo, quer que a situação
continue indefinidamente", afirmou ainda.
Adiado
sucessivamente desde outubro do ano passado, o processo de transição na
liderança das forças de Deefesa (F-FDTL) continua sem solução à vista.
O
Presidente da República, Taur Matan Ruak, já anunciou duas decisões diferentes,
nenhuma delas ainda formalmente aplicada tendo ambas acabado em polémica, a
primeira porque o Governo alegou que ignorava as suas propostas e a segunda
pelo descontentamento que provocou no comando das próprias F-FDTL e entre os
veteranos timorenses.
A
09 de fevereiro, Taur Matan Ruak anunciou ter decidido exonerar o Chefe do
Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), Lere Anan Timur, promovendo
como seu sucessor o brigadeiro-general Filomeno da Paixão de Jesus, até então
número dois.
A
decisão acabou por não ser concretizada porque ia contra a proposta do Governo
- que defendia a extensão do mandato de ambos - causando forte tensão entre a
Presidência, o executivo e o Parlamento Nacional e levando mesmo a recursos do
Governo (rejeitados) para o Tribunal de Recurso.
Taur
Matan Ruak nunca formalizou a decisão e recebeu este mês nova proposta do
Governo, a de nomear o capitão-de-mar-e-guerra Donaciano Gomes (Pedro Klamar Fuik)
como CEMGFA e o coronel Calisto dos Santos (Coliati) como vice-CEMGFA, que
aceitou e anunciou.
Onze
dias depois desse anúncio, porém, continua sem ser implementado tendo o assunto
ficado sem solução depois da reunião desta semana do Conselho Superior de
Defesa e Segurança.
Nesse
encontro Lere Anan Timur entregou a Taur Matan Ruak uma petição em nome dos
veteranos timorenses a defender um diálogo mais abrangente sobre vários
assuntos relacionados com os veteranos.
José
Luis Guterres disse que espera que essa petição possa ajudar a um debate
nacional mais alargado sobre o futuro das forças de defesa, o papel dos
veteranos na profissionalização das forças e no processo de construção do
Estado em si.
"Durante
tantos anos esses comandantes foram a espinha dorsal da resistência. Deram toda
a vida com profissionalismo ao pais, não se pode agora abandoná-los",
afirmou.
O
ex-chege da diplomacia timorense admite, porém, que esta situação possa estar a
danificar a imagem do país no exterior.
"Obviamente
que sim e lamento que isso tenha que acontecer. Há soluções que não são muito
difíceis. É uma questão de diálogo para se encontrar saídas para os vários
problemas", afirmou.
ASP
// APN
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