António
Sampaio, da Agência Lusa
Díli,
15 mai (Lusa) - O tronco, enterrado na areia, em cujos ramos secos estão
pendurados sacos e garrafas de plástico e um coral marca a proibição que vigora
desde hoje nas praias de Díli e que é punida com uma multa de um porco
crescido.
"Entre
a estátua do Cristo Rei e a estátua de João Paulo II está proibido arrancar
corais e deitar lixo nas praias. Quem o fizer terá que pagar uma multa de um
porco crescido", explica Pio Ataíde, lia nain (chefe tradicional) na
capital timorense.
A
cerimónia Tara Bandu (Pendurar e Proibir) foi conduzida pelos chefes
tradicionais no lançamento da campanha "Praia Limpa, Ambiente
Saudável" e perante representantes da Comunidade de Países de Língua
Portuguesa (CPLP), em Díli para um encontro de ministros do Mar.
O
tronco, de que nascerá uma nova árvore, "ficará aqui entre a terra e o
mar", na Praia dos Coqueiros, na Avenida de Portugal, em frente à sede da
CPLP, para relembrar a proibição.
Foi
abençoado pelo sangue de uma galinha e de um leitão, mortos na praia, regado
com cerveja e acolhido pelos cantos tradicionais dos lia nain que convocaram os
antepassados para "abençoar a praia".
Na
mesma praia, com o mesmo propósito, reuniram-se os chefes tradicionais, com as
cerimónias animistas antigas em que relembraram que "a natureza é
sagrada", e um grupo de jovens, que há um ano criou o Movimento Tasi Mos
(Mar Limpo).
A
campanha que hoje arranca é governamental - foi aprovada uma resolução nesse
sentido esta semana - envolve várias agências e entidades do executivo mas pode
dizer-se que, em grande parte, foi estimulada pela vontade do primeiro grupo de
10 ou 15 pessoas, a génese do Tasi Mos, que se reuniu para limpar uma praia.
"É
um movimento social, formado por jovens timorenses com preocupação crescente no
âmbito ambiental. Somos frequentadores de praia e temos uma preocupação comum:
poder disfrutar das praias de Timor", explicou Gally Soares Araújo, o
responsável do projeto, à Lusa.
"As
praias têm vindo a deteriorar-se e, por isso, pelo facebook começámos a lançar
desafios a convidar as pessoas a vir connosco limpar a praia. Isso tem vindo
sempre a crescer e agora o Governo já começou a notar a nossa campanha",
afirmou.
São
eles a ponta de lança da campanha que, como explicou Estanislau da Silva,
ministro de Estado e Coordenador dos Assuntos Económicos e ministro da
Agricultura e Pescas, que quer "sensibilizar os cidadãos e o Governo para
a importância da limpeza das praias para o desenvolvimento sustentável de
Timor".
"Com
as praias poluídas não atrairemos turismo, não seremos capazes, nós próprios de
desenvolver atividades de lazer nas mesmas. Mataremos os nossos peixes e
estaremos a comprometer a saúde das nossas crianças", afirmou.
O
lixo marinho foi o tema de um debate promovido antes do lançamento da campanha
e onde participaram especialistas de vários países para avaliar recomendações
sobre o que fazer nesta temática em Timor-Leste.
O
diretor geral do Ambiente, João Carlos Soares, destacou a necessidade de
encontrar soluções holísticas e referiu-se aos esforços do Governo para criar
medidas tanto a montante como a jusante, para a recolha e tratamento de lixo e
para a limpeza a ambiental.
Um
problema complexo, disse, como se evidencia em Díli onde a melhoria dos
sistemas de drenagem teve o efeito de levar mais lixo para as ribeiras e para o
mar.
Danina
Coelho, infeciologista do Gabinete de Garantia de Qualidade Na Saúde no
Ministério Da Saúde recordou que mais do que os resíduos sólidos visíveis, como
o plástico e outros detritos, um dos maiores problemas são a acumulação de
microrganismos patogénicos na areia da praia e no mar.
Poluentes
que causam problemas gastrointestinais e cutâneos, criando condições para
vetores de doenças, como moscas, baratas e ratos.
ASP
// MSF
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