Lisboa,
15 mai (Lusa) - O secretário-executivo da CPLP esclareceu hoje que, na atual
crise política na Guiné-Bissau, sempre defendeu a busca da paz e a estabilidade
das instituições necessárias para a construção democrática em absoluto respeito
da vontade expressa pelo povo guineense.
Numa
nota de "esclarecimento", Murade Murargy reagiu implicitamente às
críticas feitas pelo Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde
(PAIGC, maioritário) que, sábado, acusou o secretário-executivo da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CPLP) de "desrespeitar" a Guiné-Bissau e
de "contrariar" os valores democráticos e constitucionais.
Em
causa está a entrevista dada sexta-feira à agência Lusa, em que Murargy afirmou
que aceitaria um novo Governo sem o partido vencedor das legislativas (PAIGC)
se tal permitir formar uma maioria estável e trazer paz e estabilidade, depois
de o Presidente guineense ter demitido o Governo.
Quinta-feira,
o Presidente guineense, José Mário Vaz, demitiu o Governo do PAIGC, de Carlos
Correia, o que aconteceu pela segunda vez desde as eleições de 2014.
Ao
comentar à Lusa a nova crise política guineense, Murargy admitiu que Bissau
possa ter um novo executivo sem o PAIGC, se tal trouxer estabilidade, pois a
CPLP e os parceiros internacionais não têm dinheiro para financiar novas
eleições.
Em
resposta, o PAIGC emitiu um comunicado na última noite em que acusa o
secretário-executivo de "perder de vista a construção democrática",
como "pressuposto fundamental para a paz e a estabilidade".
Hoje,
Murargy esclareceu que, desde que assumiu o mandato na organização lusófona, em
2012, sempre defendeu os "mais elevados valores" assumidos na
Declaração Constitutiva da organização e que esteve "sempre
empenhado" na construção da paz e estabilidade na Guiné-Bissau.
"A
CPLP rege-se por princípios democráticos, pelo que sempre respeitou e apoiou a
vontade do povo guineense, e enquanto secretário-executivo desta organização
sempre defendi e reiterei na entrevista concedida à agência de notícias Lusa,
no passado 13 de maio, que a resolução da crise guineense é da responsabilidade
exclusiva dos guineenses", escreveu Murargy na nota.
"Continuamente,
apelei ao diálogo como a única forma de se chegar ao entendimento e
consequentemente satisfazer os anseios do povo. Reitero que qualquer reflexão
externada por mim contextualiza, somente, a busca da paz e da estabilidade das
instituições necessárias para a construção democrática em absoluto respeito da
vontade expressa pelo povo guineense", acrescentou.
Ao
terminar o "esclarecimento", Murargy salienta que a organização
lusófona "continua à disposição dos guineenses e de todos os povos de
Língua Portuguesa em defesa dos ideais que os Estados membros definiram como
base da CPLP".
Nas
declarações de sexta-feira à Lusa, Murargy disse que, face à demissão do
Governo de Carlos Correia - já tinha exonerado o anterior de Domingos Simões
Pereira -, colocavam-se, "aparentemente", dois cenários, que, porém,
excluem a realização de novas eleições - as últimas foram a 13 de abril de 2014
e deram a maioria absoluta ao PAIGC, liderado por Domingos Simões Pereira.
"Aparentemente,
há duas saídas: ou convida o PAIGC a formar novo Governo, e aí terá
dificuldades, ou então forma um Governo com uma nova maioria a constituir no
Parlamento, com base nos 15 deputados (do PAIGC) que foram reintegrados (após
terem sido expulsos do partido) e o PRS. Assim o Presidente teria base para
formar novo Governo", disse.
Em
reação, o PAIGC afirmou sábado que Murargy "ficou cansado dos muitos
problemas que a Guiné lhe tem causado", ao ponto de "escolher o
caminho mais curto e o que lhe parece mais barato".
"Diz
simplesmente que a CPLP não tem dinheiro para o seu funcionamento, quanto mais
para financiar uma eventual eleição antecipada", frisou o PAIGC, que disse
esperar que a atual presidência de Timor-Leste da CPLP "corrija" a
"deriva de princípios e valores" que só consegue atribuir "ao
cansaço e à alguma desatenção e fadiga" de Murargy.
JSD
(LFO/CC) // JPF
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