Luanda,
12 jul (Lusa) - A jornalista e analista angolana Luísa Rogério defendeu que a
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) "precisa de sair do
papel" para "se impor como uma comunidade de povos" com algo
mais em comum do que a língua.
Em
entrevista à Lusa, a propósito dos 20 anos de existência da CPLP, a antiga
secretária-geral do Sindicato de Jornalistas Angolanos considerou que aquela
organização terá ficado "um pouco aquém" dos objetivos iniciais.
Mesmo
ao nível da divulgação, Luísa Rogério frisou que são poucas as pessoas
informadas sobre a CPLP e com perceção do seu significado.
"E
não estamos a falar de pessoas que não têm informação", afirmou.
A
analista angolana e também vice-presidente da Federação Africana de
Jornalistas, recorda que a CPLP persegue diferentes fins, mas tem-se
manifestado maioritariamente a nível político, com a realização das cimeiras de
chefes de Estado e reuniões a nível da área jurídica.
Defendeu
que a questão da livre circulação entre os Estados-membros é um dos exemplos do
fraco impacto das políticas da organização para o cidadão comum.
"Não
consigo compreender como é que eu, cidadã angolana, faço parte de um bloco da
CPLP, para ir a Portugal preciso fazer muita ginástica para poder obter um
visto e vice-versa. Em contrapartida, Portugal vai à África do Sul e nem sequer
precisa de visto", assinalou.
A
jornalista disse só ver benefícios eventualmente a nível dos Estados e dos
Governos, em termos de cooperação efetiva, que não passam para o cidadão comum.
Numa
analogia, exemplificou a integração na Comunidade Económica dos Estados na
África Ocidental (CEDEAO), em que o cidadão cabo-verdiano vai ao Senegal, à
Nigéria sem visto nem passaporte, apenas com o bilhete de identidade.
"Estamos
no mesmo continente, mas em contrapartida para um cabo-verdiano vir a Angola
tem imensos problemas, eu lembro-me que há uns dois anos fizemos uma reunião em
Maputo, no âmbito da federação dos jornalistas da língua portuguesa, e que o
colega de Cabo Verde não foi porque simplesmente ele que tinha que passar por
Luanda e não conseguiu um visto de trânsito em tempo útil", citou.
"De
que CPLP estamos a falar? De que políticas estamos a falar, quando não há
entrosamento, integração, circulação, não vou dizer em termos de supressão de
visto, mas em encontrar mecanismos viáveis", criticou a jornalista.
"Para
ver que não é um bloco tão homogéneo, nem sequer temos acordo relativamente à
própria língua, o Acordo Ortográfico", realçou.
A
maior circulação de produtos culturais nos últimos anos entre os
Estados-membros, nomeadamente de Angola para Portugal e vice-versa, pode ser,
disse Luísa Rogério, um resultado positivo, mesmo que de forma indireta, da
comunidade lusófona.
Já
sobre a adesão da Guiné Equatorial à CPLP, admitiu ter sido "um bocadinho
esquisita", defendendo que deveria ter sido explicada devidamente aos
membros, aos cidadãos.
A
CPLP foi criada a 17 de julho de 1996, com vista ao reforço dos laços de
amizade e de cooperação dos Estados-membros: Angola, Brasil, Cabo Verde,
Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e
Timor-Leste.
NME
// VM
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