Lisboa,
12 jul (Lusa) - Investigadores contactados pela Lusa a propósito dos 20 anos da
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa consideram que a organização está
aquém das expetativas e defendem que vá mais longe, mas divergem no sentido do
progresso.
"A
CPLP é um instrumento de valor acrescentado para os Estados-membros, de outro
modo há muito teria deixado de existir. Por outro lado, está muito aquém do que
seria possível e desejável", defendeu o diretor do Instituto Português de
Relações Internacionais e Segurança (IPRIS).
Em
declarações à Lusa a propósito do 20.º aniversário da CPLP, que se assinala no
domingo, Paulo Gorjão disse que a organização lusófona deveria ir mais longe no
plano político, de concertação diplomática ou na cooperação em outras organizações
internacionais.
Exemplificou
com a inexistência de "qualquer concertação diplomática no sentido de
coordenar as candidaturas dos Estados-membros ao Conselho de Segurança" da
ONU.
"Há
períodos em que não há Estados-membros da CPLP no Conselho de Segurança e há
outros em que há mais do que um. Faria todo o sentido articular (...) para que
houvesse sempre que possível um Estado-membro no Conselho de Segurança",
defendeu.
Para
o analista, a organização tem falta de recursos financeiros, mas sobretudo de
uma estratégia "que saia do papel e que se traduza em algo de
substantivo", algo que não acredita que esteja para breve.
"Tenho
muitas dúvidas de que a próxima secretária-executiva tenha condições para o
fazer", confessou, justificando o seu ceticismo com o facto de o futuro da
CPLP depender de o Brasil "assumir uma posição preponderante", algo
que nunca aconteceu e dificilmente acontecerá em breve devido à situação
política do país.
O
problema, disse Paulo Gorjão, é que "nem todos os Estados-membros querem
exatamente a mesma coisa da CPLP (...) e isso acaba por dar à organização um
sub-rendimento".
Também
Alexandra Dias, investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais
da Universidade Nova de Lisboa (UNL), assinalou as diferentes expetativas que
os Estados-membros têm face à CPLP como um entrave ao crescimento da
organização.
Num
estudo recente que realizou e apresentou no ano passado no Institute of
Commonwealth Studies, a professora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
da UNL concluiu que os principais problemas da CPLP são a inexistência de uma
visão estratégica e a divergência das expetativas dos nove Estados-membros.
Um
orçamento "algo errático", que em 2014 estava na ordem dos 2,5
milhões de euros, também não contribui para o êxito da organização lusófona,
acrescentou Alexandra Dias, que se manifestou expectante quanto à nova visão
estratégica para a CPLP, que deverá ser apresentada na próxima cimeira.
"Agora
vamos ver quais serão os domínios com prioridade, será a vertente económica, a
dimensão social, cultural... Tudo aponta para que será a dimensão
económica", afirmou a investigadora, sublinhando que nesse caso "o
empenhamento dos Estados-membros noutras dimensões, como a política, também
terá de acompanhar".
A
aposta da CPLP na vertente económica é a principal crítica do investigador
Fernando Jorge Cardoso, do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE -
Instituto Universitário de Lisboa.
Para
este analista, o principal problema da organização lusófona é terem-se criado
expetativas irreais, particularmente na sociedade civil e no tecido
empresarial, de que a CPLP poderia levar a um aumento dos fluxos de relações
comerciais, de investimento, de relações empresariais.
"A
CPLP não pode ser, não tem condições nem vocação, nem existe motivação e
realidade que permita que a CPLP seja uma comunidade de natureza
económica", disse à Lusa, recordando que cada um dos Estados-membros está
integrado em comunidades regionais que têm agendas próprias, como a União
Europeia ou o Mercosul.
Opinião
contrária tem Feliciano Barreiras Duarte, docente universitário e autor de
livros sobre a CPLP, para quem a comunidade "tem de ser uma organização
muito vocacionada para as áreas económicas".
"Essa
é a grande mais-valia que a CPLP tem de ter nos próximos anos. Se assim não
for, alguns dos países que fazem parte da CPLP acabarão por se desinteressar
ainda mais dela. Porque fazem parte de outras organizações de caráter mais
económico", disse o ex-ministro e atual deputado do PSD.
Exemplificou
com o potencial a nível energético: "As reservas que existem nos países da
CPLP todos juntos são das maiores que o mundo tem".
E
lamentou que a organização tenha vindo a ser "prejudicada por alguns
políticos, à esquerda e à direita", que têm como objetivo
"portugalizar a CPLP".
"Acham
que a CPLP tem de ser em 2016 o que era há 20 anos: Uma organização só da
língua e, se possível, dos direitos humanos. Esse mundo já não existe",
afirmou Barreiras Duarte.
Para
este político português, as sociedades civis dos Estados-membros da CPLP
precisam de desenvolvimento económico e social: "Quanto mais forem
desenvolvidas a nível económico e social, melhores condições terão para, dentro
do seu ritmo de crescimento, terem Estados de direito robustos onde os direitos
humanos são respeitados".
FPA
// VM
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