quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Australiano começa a ser julgado em Timor-Leste por consumo de marijuana

Díli, 21 set (Lusa) - Um australiano preso preventivamente e acusado de tráfico e consumo de droga começou hoje a ser julgado no Tribunal de Díli, num caso que é o primeiro de um estrangeiro julgado por este tipo de crimes em Timor-Leste.

Tony Crean está em prisão preventiva desde 31 de janeiro, acusado de tráfico e consumo de droga pela alegada posse de cinco plantas de marijuana e após o Tribunal de Recurso endurecer a medida de coação.

A sessão de hoje, marcada pelo interrogatório do coletivo de juízes, do Ministério Público e da Defesa, referiu-se apenas ao crime de consumo, com Crean a negar que tenha distribuído marijuana.

Duarte Tilman, o juiz que preside ao coletivo de juízes, marcou a próxima audiência para quinta-feira, altura em que deverão ser ouvidas testemunhas e onde poderá ser revista a medida de coação, especialmente caso se confirme que apenas se aplica o crime de consumo.


No momento da detenção de Crean ainda vigorava em Timor-Leste a lei indonésia contra a droga tendo entrado em vigor em fevereiro a primeira legislação própria timorense sobre esta matéria.

Recorde-se que a constituição define que em caso de leis substitutivas se deve aplicar a que seja mais vantajosa para o arguido.

A nova lei determina que em casos de consumo ilícito se aplica uma pena de prisão até 1 ano ou uma multa até 120 dias, definindo que em casos de consumidores ocasionais, podem mesmo ser dispensados da pena.

Durante a audiência de hoje Crean foi repetidamente questionado pelos juízes sobre as circunstâncias em que consumiu as plantas, em concreto a explicação de que teria tentado fumar as folhas devido à grande carga de stress com que vivia.

O cidadão australiano negou as acusações, explicando que só transplantou para os vasos plantas que cresciam, de forma selvagem, no seu terreno e que a única vez que experimentou fumar a planta "não teve qualquer efeito".

Admitiu que a sua vida laboral em Timor-Leste onde trabalham "12 e 13 horas por dia, sete dias por semana", deixavam pouco tempo para conseguir relaxar e que tinha lido que a "marijuana tinha funções medicinais".

"Não teve qualquer efeito quando experimentei. Não sabia sequer quanto tinha que tomar", afirmou.

A defesa diz que Crean sempre agiu de boa fé, limitando-se a transplantar para vasos plantas que estavam a crescer de forma selvagem no seu terreno e que, ao longo de todo o processo, sempre colaborou com a justiça.

Ao mesmo tempo insistiu na tese de que só utilizou a marijuana devido ao stress que vivia na sua vida pessoal e profissional e por ter visto informação de que a planta tinha funções medicinais.

O Ministério Público, por seu lado, apontou que Crean sabia perfeitamente o que estava a fazer, que as plantas que tinham eram ilegais e que sabia que estava a cometer um crime.

Em março o Ministério Público acusou formalmente o cidadão australiano, de tráfico e de consumo de droga.

O texto da acusação diz que o caso surgiu depois de uma denúncia de vizinhos do cidadão australiano de que teria plantas que suspeitavam ser narcóticas em vasos na sua propriedade.

Inicialmente, Crean tinha aplicada a medida de coação de Termo de Identidade e Residência (TIR) e apresentação periódica duas vezes por semana, estando com o passaporte confiscado e proibido de ser ausentar do país.

No final de janeiro, o Tribunal de Recurso alterou a medida de coação, dando provimento a um recurso nesse sentido apresentado pelo Ministério Público, que discordou da medida inicialmente aplicada pelo Tribunal de Díli e defendeu a prisão preventiva.

Depois da audiência de hoje Crean regressou à Prisão de Becora onde cumpre a prisão preventiva.

ASP // FV.

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