Díli, 13 jun (Lusa) - O líder
histórico timorense José Ramos-Horta defendeu hoje que o secretário-geral da
Fretilin, Mari Alkatiri, deve iniciar um processo de "renovação da
liderança" do partido que deve ocorrer "muito rapidamente" para
bem do partido e da nação.
"A idade não perdoa e esses
anos desgastam-nos pessoal e politicamente", disse Ramos-Hora em
entrevista à Lusa.
"É altura, sobretudo depois
de o presidente Lu-Olo ter sido eleito, é urgente que Mari Alkatiri lidere um
processo de transição que tem de acontecer muito rapidamente. É altura de
pensar na renovação da liderança", sublinhou.
Ramos-Horta falou com a Lusa em
jeito de balanço do curto mandato do VII Governo constitucional, de que fez
parte como ministro de Estado, depois de ter ele próprio regressado à
militância ativa da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente
(Fretilin).
Nas eleições legislativas
antecipadas de 12 de maio, a Fretilin foi a segunda força política mais votada
- atrás da Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), uma coligação de três
partidos, encabeçada por Xanana Gusmão (CNRT) e Taur Matan Ruak (PLP), que
inclui ainda o KHUNTO.
Para Ramos-Horta, o período
pós-eleições é oportuno para repensar o futuro da liderança da Fretilin,
permitindo assim a Mari Alkatiri ficar "mais liberto" para
eventualmente exercer outras funções no aparelho de Estado, se assim o entender
o próximo Governo.
Nesse sentido, Horta disse
esperar que os líderes da AMP, Xanana Gusmão e Taur Matan Ruak, "façam
justiça ao seu próprio estatuto de grandes líderes", e "convidem Mari
Alkatiri para um diálogo franco, aberto, entre os três, para verem como vão ser
os próximos cinco anos".
Esse diálogo, disse, é
necessário, porque os próximos cinco anos "vão ser difíceis" para a
coligação de Governo "sobreviver enquanto coligação, e se [quiser]
executar programas e garantir governabilidade, integridade, transparência e
competência".
"Vão precisar do contributo
da Fretilin. Se fosse eu, Xanana e Taur Matan Ruak, tendo ganho, façam o que os
vencedores inteligentes fazem: dialoguem com quem perdeu, mas que ainda detém
uma grande força no parlamento. A Fretilin continua a ser o partido mais
votado", disse Horta.
Referindo-se à AMP, em concreto,
Ramos-Horta disse que "é difícil governar com coligações desta natureza",
e que seria útil dialogar com Alkatiri para "verem qual é a melhor forma
de contribuírem para assegurar estabilidade governativa e garantir
tranquilidade e segurança no país".
"Os três juntos, com a força
que reúnem, podem depois fazer saneamento contra a corrupção, os abusos, os
desperdícios. Porque o país não pode continuar assim, a gastar tanto dinheiro
sem resultados concretos visíveis", afirmou.
Nesse cenário, Alkatiri poderia
ter um papel, replicando, por exemplo, o modelo do enclave de Oecusse-Ambeno
noutras zonas do país, o que exigirá "dedicação".
"Para ele estar livre e
poder dedicar-se a tempo inteiro a esse ou outro papel, se for convidado a
contribuir, não pode dirigir o partido e, ao mesmo tempo, tomar conta de
grandes projetos como Oecusse ou outros", afirmou.
José Ramos-Horta falava à Lusa
antes de partir para uma visita a título individual a vários países, que
arranca em Myanmar, e que o vai afastar de Timor-Leste, cerca de dois meses.
Ramos-Horta comentou ainda o seu
próprio envolvimento no VII Governo - onde era ministro de Estado - e na
campanha eleitoral - onde voltou a vestir, várias décadas depois, a camisola do
partido que ajudou a fundar, a Fretilin.
O apoio ao partido e ao seu
líder, Mari Alkatiri, traduziu uma "obrigação política, ditada pela
consciência".
"Não me teria sentido bem
comigo próprio se me tivesse mantido neutral nesse combate político",
explicou o Nobel da Paz.
Apesar da curta vida do VII
Governo, Ramos-Horta disse ter sido "um privilégio observar a liderança de
Mari Alkatiri", tendo o Governo, mesmo sem orçamento, conseguido pagar
salários e outras despesas a horas.
ASP // MAG
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