Díli, 10 jun (Lusa) - O
ex-Presidente da República timorense desafiou a Casa de Portugal em
Timor-Leste, apresentada hoje oficialmente a público, a associar-se aos
esforços do Governo timorense e ao apoio do Governo português para o
fortalecimento da língua lusa no país.
"A Casa de Portugal vai
secundar os esforços do Governo timorense e do Governo português em expandir o
português. O português não está a desaparecer em Timor. Está a aparecer. Em
1975 praticamente não havia português e hoje as estatísticas oficiais falam de
23% a falar português", frisou.
José Ramos-Horta falava no ato de
apresentação pública da Casa de Portugal de Timor-Leste, que decorreu hoje no
Centro Cultural da Embaixada de Portugal em Díli, espaço que acolhe,
temporariamente, o que é a primeira associação portuguesa de Timor-Leste.
A cerimónia ficou marcada pela
assinatura da adesão formal à associação dos seus 25 primeiros fundadores,
entre eles o próprio José Ramos-Horta.
Para o Nobel da Paz a nova
associação pode ajudar ao esforço, que deve ser "conjunto" perante a
"avalanche" da Indonésia, país vizinho que tem mais de 100 de
estações de televisão, milhares de estações rádio e muita imprensa escrita, com
muitos conteúdos a chegar a Timor-Leste.
"Imaginem a avalanche de
tudo o que é da Indonésia aqui. Estamos numa situação mais precária e
vulnerável do que a Guiné Bissau onde se fala da influência do francês",
disse o ex-chefe de Estado e atual ministro de Estado.
"Em Timor-Leste temos essa
vulnerabilidade. As pessoas não aprendem uma língua por saudosismo ou por
romantismo, aprendem por necessidade e a necessidade interna de
comunicação", considerou.
Ramos-Horta defendeu que o
Governo timorense tem que fazer mais esforços nesta matéria impondo, por
exemplo, às embaixadas, que só enviem mensagens ao executivo português ou
tétum, as duas línguas oficiais.
Fernando Figueiredo, presidente
da direção da Casa de Portugal deu conta dos objetivos e estatutos da
associação.
Sem fins lucrativos e criada por
um grupo inicial de 25 pessoas, a nova associação foi criada, segundo os seus
estatutos, para zelar pela "preservação da identidade da comunidade e do
seu património cultural, nomeadamente da língua e cultura portuguesas" e
contribuir para o desenvolvimento de Timor-Leste estão entre os objetivos da
Casa de Portugal.
Outro dos objetivos é que a
associação possa tornar-se "num interlocutor privilegiado na procura de
soluções para problemas específicos que afetem a comunidade portuguesa em
Timor-Leste".
Promover a solidariedade na
comunidade portuguesa e fomentar as relações com as demais comunidades são
outros objetivos da associação que quer ainda criar núcleos de ação cultural e
de formação.
Um dos primeiros objetivos da
associação é encontrar uma sede para desenvolver as suas atividades, tendo Ramos-Horta
sugerido o uso do edifício do antigo Sporting Clube de Timor que está
praticamente abandonado há décadas, localizado ao lado da Embaixada de Portugal
em Díli.
"Surgiram uns entusiastas
timorenses que reclamaram a existência do Sporting. Mas não existe. Estes meus
patrícios nem sequer têm umas sapatilhas", disse Ramos-Horta.
"Podemos amigavelmente
conversar com eles e ver como pode passar a ser a Casa de Portugal. Vamos fazer
disso e depois encontrar gente com dinheiro aqui em Timor-Leste que possa
ajudar nas obras a fazer a Casa de Portugal", afirmou Ramos-Horta.
Intervindo na cerimónia, José
Pedro Machado Vieira, embaixador de Portugal em Díli e que se tornou hoje no
primeiro sócio honorário da Casa de Portugal - leu um excerto de uma carta enviada
pelo secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro.
A carta saúda a iniciativa que
considera "mais uma expressão da vitalidade, dinamismo e capacidade de
mobilização" da diáspora portuguesa.
O diploma defendeu um esforço
para envolver jovens na associação que deve procurar
"complementaridades" e adaptar-se à realidade da comunidade
portuguesa em Díli - cerca de mil pessoas, segundo os registos consulares.
Uma comunidade que é
"permanentemente renovada" com muitos a ficarem apenas durante períodos
mais curtos.
ASP // ZO
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