sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Câmara de Contas timorense questiona aspetos de compra de avião para ligação a enclave


Díli, 20 set (Lusa) - A Câmara de Contas timorense estima que a operação de um avião de 19 lugares comprado em 2015 pela Região Administrativa Especial do enclave de Oecusse-Ambeno (RAEOA) apresentou um défice diário de 3.881 dólares, segundo uma auditoria hoje divulgada.

"A operação do avião apresenta um défice diário estimado de 3.881 dólares, mesmo considerando uma ocupação igual a 100% e sem ter em conta as despesas de manutenção", refere o relatório obtido pela Lusa.

Reduzir esse défice passa por aumentar o número de passageiros ou preços dos bilhetes, ampliar o número de destinos, fatores, considera-se no documento, que deveriam ter sido tidos em conta "antes da compra do avião".

"O que, como vimos, não aconteceu, dada a inexistência de estudos prévios quanto à viabilidade económica da operação do avião", um Viking DHC6-400, registado no Canadá, comprado por cerca de 7,24 milhões de dólares, no âmbito de um contrato assinado pelo presidente da RAEOA, Mari Alkatiri.

"A compra do avião foi feita por ajuste direto não existindo informação sobre a forma como foi escolhido o tipo de avião e o fornecedor específico em detrimento de outros tipos de aviões e fornecedores, pelo que este processo de aprovisionamento se caracterizou pela falta de transparência", refere o relatório.

A CC questiona a urgência da decisão de compra, que considera que "não se baseou em qualquer estudo prévio sobre a viabilidade económica" da sua operação, e sustenta que na altura havia outras opções mais adequadas para responder a uma das principais motivações, nomeadamente a celebração no enclave dos 500 anos da chegada de navegadores portugueses a Timor-Leste.

A CC questiona em detalhe os custos operação do avião que incluem, entre os fixos, um contrato de 1,64 milhões de dólares anuais (137 mil por mês) para gestão e operação do aparelho, salários dos pilotos e seguros.

Na resposta ao relato inicial da CC, Mari Alkatiri contesta os argumentos dos auditores, afirmando que a compra pretende estabelecer uma ligação aérea entre o enclave e o resto do país, que a região "não colocou a rentabilidade da operação como fator decisivo de aquisição da aeronave" e que "não é atribuição da região a operação rentável de aeronaves".

O relatório de auditoria, enviado hoje à Lusa pelo ex-primeiro-ministro Xanana Gusmão, refere-se aos anos de 2014 e 2015, os primeiros de operação da RAEOA e da Zona Especial de Economia Social de Mercado (ZEESM).

Xanana Gusmão, presidente do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) e primeiro-ministro quando o projeto de criação da RAEOA e da ZEESM foi aprovado, enviou uma cópia do relatório também ao Presidente da República, Francisco Guterres Lu-Olo.

O relatório, que analisa os primeiros anos de vida do projeto (2014 e 2015), aponta várias irregularidades, incluindo contratos ilegais, violação das regras de aprovisionamento e preços inflacionados na compra de equipamento e material, entre outras.

O enclave de Oecusse era até recentemente uma das zonas mais isoladas do país com ligações demoradas por mar ou terra ou viagens caras, em aviões privados 'charter', por ar.

ASP // VM

Sem comentários: