Díli, 07 fev (Lusa) -- O
primeiro-ministro timorense, Taur Matan Ruak disse hoje que cabe à polícia e à
justiça investigar o caso de um padre norte-americano suspeito de abusos de
crianças num orfanato que geria no enclave de Oecusse-Ambeno.
"Deixa a
justiça tomar conta. O processo está a andar. Tenho muito respeito por isso. E
deixo que a policia e a justiça tomem conta do assunto", disse hoje aos
jornalistas no Palácio Presidencial depois do seu encontro semanal com o chefe
de Estado.
A publicação timorense Tempo Timor noticiou na semana passada que o
padre Richard Daschbach teria sido afastado pela Congregação da Doutrina da Fé
(CDF) no Vaticano depois de acusações de que abusou de várias crianças que
estavam ao seu cuidado em Oecusse.
Citando responsáveis católicos timorenses, a
Tempo Timor revelou que Dascbach tinha admitido os seus crimes à congregação
Societas Verbi Divini (SVD ou Sociedade da Palavra Divina), tendo sido
inicialmente retirado do enclave.
A investigação, conduzida por dois
jornalistas, um timorense e uma holandesa, indica, porém, que o padre acabou
por voltar para a mesma zona onde alegadamente cometeu os abusos sexuais de
vários menores.
Questionado sobre o caso, Taur Matan Ruak confirmou que ele
próprio, acompanhado da sua mulher, Isabel Ferreira, visitou em março do ano
passado a sede da SVD em Díli, quando as suspeitas foram levadas aos
responsáveis da congregação.
"Eu não tinha intenção de passar cartão de
imunidade para o padre. Simplesmente, como ser humano, por questão de respeito,
visitamos para saber o que se passava e manifestar a nossa preocupação sobre as
questões", disse Taur Matan Ruak que nessa altura era presidente do
Partido Libertação Popular (PLP) e dos líderes da coligação Aliança de Mudança
para o Progresso (AMP).
Citado pelo Tempo Timor, Yohanes
Suban Gapun, supervisor regional da SVD, disse que durante essa visita Taur
Matan Ruak pediu para que deixassem o padre voltar para Oecusse.
"O senhor
Taur Matan Ruak e a sua mulher vieram visitar-nos e falaram com Daschbach.
Também me pediram se por favor o deixava voltar a Oecusse porque muitas pessoas
gostam dele ali e ainda o respeitam muito. Por favor deixem-no ir para Oecusse
também porque está velho e deixem que morra lá em paz", contou.
Daschback,
82 anos, natural de Pittsburg, nos Estados Unidos, vive em Timor-Leste desde
1966 e em 1992 estabeleceu duas casas de abrigo de crianças, a TopuHonis, em
dois espaços no enclave de Oecusse.
A página da Topu Honis descreve as casas de
abrigo como um espaço seguro parra órfãos, crianças de famílias pobres, adultos
portadores de deficiência e mulheres que tentam escapar de abuso.
Yohanes
Suban Gapun, supervisor regional da SVD, confirmou que a congregação recebeu no
inicio de 2018 informação sobre alegados abusos sexuais por parte de Daschback,
que foi suspenso de funções enquanto decorria a investigação.
Gapun diz ter
ouvido uma conversa telefónica entre Daschback e os seus superiores em Roma em
que este confirmou as suspeitas: "'É 100% verdade' disse ele. Repetiu isso
quatro vezes".
Apesar de ter sido suspenso e de em novembro de 2018 ter
sido laicizado, segundo relatos da Catholic News Servisse (CNS), Daschback
voltou para Oecusse onde ainda está a residir.
ASP//MIM
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