Pequim, 08 set 2020 (Lusa) - A
China disse hoje que soldados indianos cruzaram a fronteira disputada entre os
dois países e dispararam tiros de advertência contra uma patrulha chinesa,
considerando tratar-se de uma "provocação militar grave".
"As tropas chinesas na
fronteira foram forçadas a tomar contramedidas apropriadas para estabilizar a
situação no local", referiu o Ministério da Defesa da China, num
comunicado que não especifica a natureza das medidas.
Os dois países estão desde maio
envolvidos num tenso confronto, na região fria e deserta de Ladakh. Os
respetivos ministros da Defesa reuniram na sexta-feira, em Moscovo, no primeiro
contacto direto de alto nível entre os dois lados desde o início do confronto.
O comando militar oeste da China
disse que a incursão ocorreu na segunda-feira, ao longo da costa sul do Lago
Pangong, numa área conhecida em chinês como Shenpaoshan.
Depois de terem sido disparados
tiros, as forças chinesas tomaram "as medidas necessárias para estabilizar
e controlar a situação", disse o comando, num comunicado que cita o
porta-voz Zhang Shuili.
A mesma fonte exigiu que as
forças indianas se retirassem e iniciassem uma investigação sobre quem decidiu
abrir fogo.
Não houve notícias de vítimas.
No final do mês passado, a Índia
disse que os seus soldados impediram o exército chinês de mudar o 'status quo'
na fronteira, no que constituiria uma violação do consenso alcançado em
esforços anteriores para resolver o impasse.
As movimentações terão ocorrido
na margem sul do Lago Pangong, um lago glacial, dividido pela fronteira de
facto, onde o confronto entre a China e a Índia começou, no início de maio.
O impasse escalou para lutas com
paus e pedras, em 15 de junho, no que foi o conflito mais mortal em 45 anos
entre os dois países. A Índia disse que 20 dos seus soldados foram mortos,
incluindo um coronel. A China não registou nenhuma vítima.
As tensões na fronteira
aumentaram depois de os militares indianos terem cancelado os seus exercícios
anuais na fronteira dos Himalaias, em abril passado, devido ao surto do novo
coronavírus.
Analistas de segurança indianos
dizem que as tropas chinesas aproveitaram a oportunidade para estabelecerem posições
em terrenos reivindicados pelo país vizinho, incluindo picos estratégicos do
vale de Galwan, com vista para uma estrada indiana recém-construída.
Uma vez descobertos, os avanços
chineses levaram a uma militarização de ambos os lados, incluindo várias lutas
com paus e arremesso de pedras, até que, em 06 de junho, China e Índia
acordaram uma retirada gradual. As tensões, no entanto, persistem.
A fronteira disputada e não
demarcada de 3.500
quilómetros , conhecida como Linha de Controlo Real,
estende-se da região de Ladakh, no Norte, até ao estado indiano de Sikkim.
Os países asiáticos com armas
nucleares travaram uma guerra na fronteira em 1962, que terminou com uma trégua
frágil. Os dois países tentam resolver a sua disputa na fronteira desde o
início dos anos 1990, sem sucesso.
A Índia declarou unilateralmente
Ladakh um território federal e separou-o da disputada Caxemira, em agosto de
2019, abolindo o seu estatuto semiautónomo.
A medida danificou ainda mais o
relacionamento entre Nova Deli e Pequim. Num movimento simbólico, a Índia baniu
algumas aplicações de propriedade chinesa, incluindo o serviço de transmissão
de vídeos TikTok, cerca de duas semanas após o confronto mortal, invocando
preocupações com a segurança nacional.
JPI // PTA
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