Díli,
28 abr (Lusa) - Timor-Leste inspirou o grupo de hackers português mais
conhecido, o TOXyn, a realizar, entre 1997 e 1998, a que é considerada a
primeira campanha de "defacement" - a alteração ilegal do aspeto de
uma página online - da história.
A
campanha "hacktivista" intitulou-se "Free East Timor - Free
Xanana Gusmão" e foi levada a cabo em defesa da independência timorense
com ações sucessivas de 'defacement' a várias páginas web relacionadas com a
Indonésia.
Comuns
atualmente - há 'defacements' regulares em todo o mundo, muito dos quais não
chegam sequer a ser conhecidos do grande público - este processo de protesto
era, nessa altura, insólito e pouco visto.
O
livro Hackstory.es - com "a história nunca contade do underground hacker
da Península Ibérica" - recorda esta campanha afirmando que foi a
primeira, sustentada, a usar este método.
Citando
o livro e recorrendo ao arquivo de um hacker veterano, Jericho, o jornal El
Mundo recordou esta semana o que se considera o primeiro 'defacement' da
história, realizado por motivos políticos: o assalto à página web do
Departamento de Justiça dos Estados Unidos em 1996 em protesto contra o
Communications Decency Act.
Porém
este foi um ato isolado e acabou por ser a campanha dos TOXyn, que começou um
ano depois, a ser a primeira sustentada baseada nos 'defaces'.
Na
campanha da TOXyn participaram vários hackers, incluindo do grupo português
Pulhas e o catalão Savage, antes conhecido como The Phreaker, membros do grupo
Apòstols.
Coube
a Savage, refere o livro, escrever alguns dos programas que se usaram para
atacar de forma massiva servidores do Governo da Indonésia.
"Conheci
os elementos do TOXyn em 1996 quando tentaram entrar em algumas máquinas do meu
ISP. Ficámos amigos e em 1997 fiz algumas coisas impublicáveis que utilizaram
na campanha contra a indonésia", recordou Savage.
A
intenção dos TOXyn era "chamar a atenção" para o problema de
Timor-Leste e assaltar páginas web e alterar as suas páginas principais era a
arma perfeita.
O
jornal recorda que o primeiro ataque ocorreu a 10 de fevereiro de 1997 contra o
servidor do Ministério dos Negócios Estrangeiros em Jakarta, tendo-se seguido
outros ataques a 24 de abril e 30 de junho.
Em
cada um a TOXyn mostrava a lista de servidores governamentais e comerciais -
dezenas - que tinha assaltado desde o último 'deface'.
O
ataque mais destrutivo ocorreu a 22 de novembro de 1997 quando caiu a web da
Agência para o Desenvolvimento e Aplicação da Tecnologia e com ela se apagaram
todos os dados de 27 servidores atacados de forma simultânea.
A
ação foi assinada pelo UrBan Ka0s y Portuguese Hackers Against Indonesian
Tiranny (P.H.A.I.T.).
Foi
o único caso de destruição de dados sendo que a TOXyN sempre manteve que nas
suas ações "nunca se apagou ou destruiu nada, só se hackeou as suas
páginas".
"Somos
como outros manifestantes nas ruas que simplesmente têm a habilidade de poder
entrar nestes sítios. Podem tentar restringir a informação, mas a tecnologia
permite que sejamos todos iguais", justificava o grupo.
A
campanha continuou até 1998, um ano antes do referendo que daria a
independência a Timor-Leste.
ASP
// JCS
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