Autoridades
contam já mais de 3600 mortos e 6500 feridos. Água potável, comida e
medicamentos continuam a ser um problema no país.
O
cenário de destruição nas zonas mais rurais do Nepal começou a tornar-se mais
evidente nesta segunda-feira, à entrada para o terceiro dia depois do grande
sismo que atingiu o país no sábado. Ao início da tarde no Nepal, princípio da
manhã em Portugal continental, as autoridades actualizaram o número de vítimas
mortais: pelo menos 3600 pessoas morreram e mais de 6500 estão feridas. O
número deve aumentar consideravelmente nesta segunda-feira, à medida que vão
surgindo novas informações das regiões que até ao momento estavam isoladas.
Até
agora, as operações de resgate concentraram-se principalmente nas zonas urbanas
e no Vale de Katmandu, a zona com maior densidade populacional do país e onde
já se contaram várias centenas de mortos. Mas apenas 17% da população do Nepal
vive em zonas urbanas e terá sido precisamente nas localidades rurais que as
habitações mais sofreram – algumas estimativas apontam para que cerca de 80%
das tradicionais casas de madeira no Nepal tenham desabado ou ficado
parcialmente destruídas.
Com
algumas estradas e acessos desbloqueados, assim como com a participação de
equipas de salvamento vindas de outros países, as autoridades nepalesas
começaram a desenhar o cenário de destruição nas regiões afectadas. Perto do
epicentro do terramoto de 7,8 pontos na escala de Richter, a cerca de 80
quilómetros da capital Katmandu, fala-se de destruição generalizada. “As coisas
estão muito más neste distrito”, disse um alto-responsável nepalês à Associated
Press, Udav Prashad Timalsina, falando de Gorkha, a leste de Katmandu. “Tive
notícias de aldeias em que 70% das casas ficaram destruídas”, avançou ainda.
Mas
o retrato da destruição fora dos centros urbanos é ainda escasso. Há zonas
montanhosas para as quais o acesso é ainda muito difícil e onde se espera que
se encontrem comunidades muito afectadas pelo terramoto de sábado e pelas
réplicas que se seguiram e que ainda não terminaram. “Aldeias deste género são
frequentemente afectadas por deslizes de terra, e não é raro que localidades
inteiras de 200, 300 ou até 1000 pessoas fiquem completamente soterradas”,
afirmou à BBC Matt Darvas, porta-voz da agência de assistência humanitária
World Vision.
Noite,
chuva e doenças
Muitos habitantes passaram a chuvosa noite de domingo para esta segunda-feira no exterior. Há várias famílias desalojadas e um número ainda maior de habitantes que receia voltar a sua casa enquanto as réplicas não pararem. Na noite de domingo para segunda-feira sentiram-se pelo menos três sequelas nos arredores de Katmandu, mas nenhuma tão grave como a grande réplica de 6,7 pontos na escala de Richter que atingiu o país a meio da tarde de domingo.
Algumas
famílias que nesta última noite dormiram no exterior não conseguiram uma tenda.
Mesmo para os que engrossaram as pequenas cidades de telhados de tecido que
foram surgindo na capital, a noite foi difícil. “Não temos alternativa, a nossa
casa é instável”, disse à AFP Rabi Shrestha, que acampava com uma tenda
encharcada. “A chuva está a infiltrar-se, mas o que é que podemos fazer?”,
acrescentou o nepalês de 34 anos.
A
manhã desta segunda-feira começou com sol e temperaturas de cerca de 24 graus
centígrados em
Katmandu. Embora as condições meteorológicas possam vir a dar
uma aberta nas operações de resgate de sobreviventes – até agoram as chuvas
obrigaram a muita cautela –, os hospitais continuam sem capacidades para dar
resposta ao grande volume de feridos que procuram ajuda médica.
Os
hospitais de Katmandu estão perto do colapso e já não há alguns tipos de
medicamentos para as centenas de feridos da capital e outras centenas que estão
a voltar das zonas rurais. Para além da falta de material médico, a grande
preocupação tem sido também o acesso a água potável, que está severamente
limitado, e a escassez de alimentos.
A
Unicef anunciou nesta segunda-feira que, de acordo com as suas estimativas,
praticamente um milhão de crianças – 940 mil – foram afectadas pelo terramoto.
A organização escreve que os mais novos estão particularmente vulneráveis nos
momentos críticos do pós-terramoto. “O acesso limitado a água limpa e a
saneamento básico coloca as crianças expostas a um grande risco de doenças
transmitidas pela água, e algumas crianças podem ter-se separado das suas
famílias."
Félix
Ribeiro - Público
Sem comentários:
Enviar um comentário