Só
nos primeiros quatro meses deste ano o Governo de Macau perdeu cerca de 12,5
mil milhões de patacas em receitas sobre os jogos de fortuna e azar
relativamente ao ano anterior! Se a esse valor acrescentássemos um
crescimento “nominal”, a um dígito, por exemplo, de oito por cento (o que
significa em termos práticos, um crescimento real quase nulo), o Governo de
Macau terá perdido qualquer coisa como 13,5 mil milhões de patacas, números
redondos, apenas nos primeiros quatro meses do ano! O suficiente para pagar, se
a minha memória me não falha, em quatro meses, o que constitui o desastre
completo que foi até hoje o lançamento do metro sem um gestor de obra
qualificado!
O
suficiente para fazer “montanhas” de habitações gratuitas, repito, gratuitas,
de boa qualidade, para toda a comunidade, resolvendo problemas que incomodam a
governação local e o governo central!
Francamente,
não percebo.
Não
percebo porque se insiste nessa tecla de amarrar a indústria do jogo local a
três por cento de crescimento médio anual das mesas do jogo até 2023!
Como
não se tem pedalada para acompanhar os seus desafios, vai-se pela maneira mais
simples, que é amarrá-la com um cordel muito curto, de tal modo curto que deixa
de se poder mover, num ambiente internacional altamente competitivo e em
desenvolvimento acelerado!
Que
os deuses estão loucos é coisa que não me perturba, mas que os homens que vivem
numa terra de paz destruam a sua riqueza presente e a única para os próximos 20
anos, apenas para se entreterem a dar tiros para o lado, para trás mas não para
a frente, isso ultrapassa já o simples bom senso e, vá lá, o simples bom gosto
também!
Temos
por cá muitos masoquistas!
Acredito
que esses três por cento terão sido inteligentemente “encomendados” por quem
gostaria de controlar o crescimento dos novos “adversários” que apareceram num
mercado liberalizado que crescia fora das suas portas!
Hoje,
toda a gente quer ir para o Cotai e o tiro, historicamente compreensível mas
irracional do ponto de vista económico, vai acabar por sair pela culatra,
claro, depois de fazer muita mossa a toda a indústria, ao próprio governo de
Macau e aos negócios que vivem nas barbas do jogo!
Muito
negócio. Acreditem.
Estamos
a falar, por um lado, em mais de 100 mil milhões de patacas que vai ou está a
ser investido no Cotai pelas seis operadoras, mais do que duplicando o espaço
de jogo e de investimento oferecido até agora!
Mas
para quem não é sensível a esses números, estamos a falar ainda, que há
muita gente que não se lembra ou sabe muito pouco sobre essa indústria, num
consumo intermédio dos casinos (= ao que a indústria compra para poder
produzir) que representa qualquer coisa como o dobro do lucro operado pela
indústria e sessenta e três por cento de toda a sua produção!
Dados
oficiais de 2013, os mais recentes divulgados pela DSEC!
Para
os que têm constantemente uma faca afiada contra o jogo, é bom que pensem nos
efeitos directos da quebra brutal das suas receitas nos negócios em Macau!
Não
tenho nada a ver com essa indústria. Não tenho nenhuns interesses nem sou
consultor de grupo algum ligado a essa esfera. E muito menos do Governo.
Para
ser honesto, odeio o jogo, enquanto distribuidor de riqueza!
Mas
como economista, independentemente de que o jogo me possa agradar ou não, numa
terra onde apenas ele se move como um peixe dentro de água, vejo a
evolução dessa única indústria de Macau com capacidade para gerar riqueza, a
montante e a juzante, entrar numa senda complicada, no meio de
instabilidade desnecessária e de incertezas que deviam estar já devidamente
colocadas de lado, a poucos anos do termo das licenças de jogo!
Está-se
a tirar a água ao peixe!
É
preocupante que a nova fase do Galaxy receba apenas cento e poucas mesas de
jogo, quando o que se pretende mesmo é jogo de massas e não VIP!
Se
o desenvolvimento do jogo não gerar recursos suficientes, a componente não-jogo
dos casinos não terá capacidade para ser financiada e logo não sobreviverá à
quebra das receitas! Sobretudo se ainda por cima se pretende pôr travão à
entrada de visitantes!
Dizem-me
os defensores do machado de guerra contra os casinos que a bolha do imobiliário
e a inflação, bem como toda a complicação gerada na cidade (tráfego e montanhas
de gente pelas ruas, etc), foram gerados essencialmente pelo crescimento
colossal dos casinos.
Claro,
mas num cenário de ineficiência total do Executivo, incapaz de atacar os
efeitos negativos do crescimento do jogo pela forma mais correcta, que não é a
de matar a galinha dos ovos de ouro, a única que pode fazer Macau continuar a
crescer e juntar fundos suficientes para resolver os problemas complicados de
hoje e os que que lhe vão complicar o futuro!
Em
vez de se atacar a inflação pela forma correcta, de se atacar o entupimento
completo das infraestruras, dos passeios cheios de visitantes, do conflito
entre peões e tráfego, de um imobiliário que está a destruir os negócios e a
estabilidade da vida familiar de toda a gente, o Governo tem preferido assobiar
para o lado invocando a economia livre, a mesma economia livre que não permite
que o jogo possa desfrutar!
Fazendo,
zero!
O
que é preciso fazer-se para se anular ou pelos menos controlar de forma eficaz
os efeitos nocivos do jogo, em vez de se limitar o crescimento do número de
mesas ou dos visitantes?
Combater
a inflação de forma eficaz!
Acho
piada que venha o governo dizer que uma das causas do aumento da inflação é o
crescimento dos preços da componente “refeições fora de casa”.
Mas
já perguntaram porquê que ela sobe?
Então
eu digo: porque as rendas sobem, as matérias primas sobem, os salários sobem
porque não há mão-de-obra alternativa, mais por isso do que pela força do
volume de turistas ou da procura pelos residentes!
Combater
o imobiliário de forma eficaz!
Colocando
habitação pública no mercado e preços controlados mas não a preços
especulativos do mercado. Não subindo os prémios das terras, como se fez, que
isso se repercute para a frente para o preço final da habitação ou da renda,
mas exigindo em contrapartida preços acordados ou mais controlados.
Acabando
com o peg, que tem encarecido tudo e um dos responsáveis pelo aumento
brutal dos materiais de construção e da enorme procura especulativa no sector
imobiliário, só para dar alguns exemplos.
Entregando
muitas ruas aos cidadãos, por exemplo, no centro da cidade e nas zonas
históricas, desviando o trânsito e não a população para passagens subterrâneas.
Claro que é hoje bem mais difícil fazer-se isso, mas também o foi quando o
largo do Leal Senado foi implementado!
Fazendo-se
parques de estacionamento espalhados por toda a cidade, ou à sua entrada, etc,
etc.
Actuar
sobre um mercado que se move de forma irracional em proveito de meia-dúzia de
tubarões e de um capital sem rosto, é violar as regras de uma economia livre,
dizem!
Mas
não é violar essas mesmas regras actuar sobre a liberdade dos casinos poderem
decidir, assumindo o risco próprio do negócio, quantas mesas mais vão precisar?
Santa
paciência!
*
Economista. Escreve neste espaço às sextas-feiras.
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