Díli,
11 mai (Lusa) - Um projeto de monitorização de crocodilos em Timor-Leste
confirma o aumento de ataques este ano, com pelo menos 15 incidentes que causaram
três vítimas mortais, segundo dados facultados à Lusa.
O
projeto está a ser desenvolvido pela Direção de Biodiversidade do Ministério de
Comércio, Indústria e Ambiente (MCIE), pelo Departamento de Agronomia da
Faculdade de Agricultura da Universidade Nacional de Timor-Leste e pela direção
de Remote Sensing and Landscape Information Systems, da Universidade de
Freiburg.
Segundo
os dados recolhidos até ao momento por este projeto, entre 2007 e 2014 houve
pelo menos 123 vítimas de ataques de crocodilos no país, 59 das quais mortais.
A
maior fatia de ataques ocorreu em zonas dos distritos de Viqueque e Lautem,
incluindo em locais de destino turístico como Com e Tutuala.
Nos
últimos meses, tem havido também vários casos de observação de crocodilos nos
arredores de Díli e há o registo de pelo menos uma fatalidade: em abril um
pescador foi mordido e acabou por morrer por causa dos ferimentos.
Mas
há cada vez mais observações de crocodilos em diversos pontos de Timor-Leste,
tanto na costa sul como na norte, com especial destaque, recentemente, para as
costas próximas da capital, Díli.
Estanislau
da Silva, ministro da Agricultura e Pescas, explicou à Lusa que o executivo
está a tentar reativar contactos, especialmente com a Austrália, no intuito de
responder ao problema, "algo que não é fácil".
"Mas
eu sou da opinião de que se deve começar a abater os crocodilos. Este assunto é
alvo de grandes debates. Mas tem de se abater os crocodilos que atacam",
afirmou.
"Devemos
trabalhar com a Universidade de Darwin que tem sistemas e metodologias para
identificar os crocodilos que atacam e esses devem ser abatidos", disse.
O
governante admite que questões tradicionais e culturais são um obstáculo aos
esforços do Governo, especialmente na ponta leste do país onde as comunidades
vivem mais arreigadas a esses aspetos mas onde também ocorrem mais ataques.
"Temos
de ver a melhor forma de comunicar com as comunidades. E estudar medidas para
mitigar o problema", disse.
"Foi
já apresentada uma proposta para criar aqui uma unidade de criação de
crocodilos para fins comerciais. Esse investimento ainda não se concretizou mas
pode vir a ocorrer", referiu.
Sebastian
Brackhane, investigador da Universidade de Freiburg e um dos responsáveis do
projeto, explicou que a tendência é de um aumento de incidentes o que requer
modelos de gestão focados mais na prevenção de ataque e mitigação do problema
do que em conservação dos animais.
Além
do mito de criação do país, da ilha crocodilo - há muitos rituais, poemas e
outras manifestações culturais que honram o avô Lafaek (crocodilo) -, também há
quem em Timor-Leste veja nos ataques uma espécie de punição da natureza contra
as vítimas.
Aspetos
como este condicionam as respostas das autoridades ao problema e ajudam a
paralisar decisões mais concretas e amplas do executivo.
Uma
das estratégias tem sido, em algumas zonas do país, estabelecer o que se
intitula de Espaços de Exclusão de Crocodilos, zonas vedadas com estruturas de
metal ou bambu para permitir que as comunidades realizem atividades como lavar
a roupa, tomar banho ou até pescar em segurança, reduzindo o risco de ataques.
O
impacto da crescente população de crocodilos - aponta-se a possibilidade até de
uma migração das populações do Território Norte da Austrália (onde a sua
proliferação impede, por exemplo, banhos nas praias de Darwin) - está
igualmente a ter impacto ambiental.
Os
crocodilos podem estar a contribuir para a queda no número de tartarugas de uma
espécie local recentemente descoberta, a Chelodina timorensis, afetando outros
habitats do país.
Dados
disponíveis de investigações levadas a cabo em 2012 sugerem um aumento
constante do número de animais da espécie Crocodylus porosus, o crocodilo de
água-doce que nos anos 70 do século passado quase chegou à extinção.
ASP
// MP
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